Há nomes, locais, acontecimentos que só ganham sustância na nossa consciência, às vezes por acaso, depois de atentarmos bem na sua existência, dela se tornar bem evidente aos nossos olhos e à nossa memória.
Depois, até cremos ser impossível ter passado tanto tempo da nossa vida sem darmos conta deles, porque passamos a estar atentos à sua referência por outros, parece que tropeçamos neles todos os dias, encontramo-los ligados a outros nomes, locais e acontecimentos que já faziam parte do nosso universo (ou passam a fazer).
Como é que não os descobrimos antes?
Emmerico Nunes, por exemplo.
Conhecia-o como autor de desenhos humorísticos do início do século passado, elemento participante no I Salão dos Humoristas Portugueses (1912).
Fui à exposição que lhe é dedicada no Centro de Arte Moderna, da Fundação C. Gulbenkian e de que
aqui falei. Descubro que há mais Emmerico Nunes. Muito mais - o exposto e o que passo a saber que existe e não está exposto. Aliás, os desenhos expostos foram, durante anos, considerados perdidos, por isso o nome da exposição:
A obra perdida de Emmerico Nunes.
Depois fico a saber que estudou em Paris, conselho dado por Malhoa a seu pai, e associo-o àquele pintor. Também a Amadeo de Sousa Cardoso, por via do qual o podemos encontrar em fotografias já conhecidas, mas onde "o não via" (era personagem secundária, em comparação com a "estrela"). E encontramos aí, também, Manuel Bentes (mas desse falarei mais tarde, que ainda deve ser meu tio!).
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Emmerico Nunes, Manuel Bentes, Amadeo de Souza-Cardoso e Alexandre Ferraz de Andrade
em casa de Amadeo, no Boulevard Montparnasse (Paris) |
Depois descubro que viveu e morreu em Sines e associo-o ao nome do Centro Cultural daquela cidade, quando até aí o nome do Centro era neutro, não me fazia tilintar nenhuma campainha no interior da cabeça. Num
blog sobre património em risco, descubro a casa que habitou em Sines, em estado de abandono. Antes, pouco ou nada me diria.
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Casa em que Emmerico Nunes viveu, em Sines.
Pertencia à família da mulher, Clotilde Pidweel Nunes |
Depois, pelo acaso de encontrar e folhear a
vol d'oiseau um livro sobre pinturas de Portugal, deparo-me com uma pintura de paisagem da sua autoria, em que dificilmente repararia se não tivesse ido à exposição e passasse a estar atento ao seu nome. Acaso dos acasos, a pintura representa Serpa (será que foi a Serpa pela sua relação com Manuel Bentes?).
A net é um mundo. Entro, procuro e tenho mais pinturas de paisagens: Sines (natural, se lá viveu), Rana (campos de cultivo, será que é a Rana que conheço e que fica nas "traseiras" da minha casa? Olha que coincidência! A suspeita passa a verdade ao ver a pintura seguinte), Rebelva - Carcavelos (olá!, é mesmo aqui a dois passos de casa!)...
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Emmerico Nunes - Sines |
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Emmerico Nunes - Rana |
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Emmerico Nunes - Rebelva |
Não procurei muito mais, mas o suficiente para me deparar com o publicitário que também foi.
O blog
Dias que voam apresenta um bom conjunto de anúncios bem dispostos.
A partir de agora, nada do que encontrar sobre Emmerico Nunes me será estranho, ou seja, passa a ser incorporado/processado na minha base de dados mental.
Estarei mais atento.
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Emmerico Nunes caricaturado por Amadeo |