«31 de Junho de 1968*
Sucesso do governo nas eleições, excedendo todas as expectativas. A oposição perdeu mais de metade dos seus deputados, o PC idem. É a derrota do Waldeck-Rochet. O PCF vai entrar em crise, a não ser que se deixe encarreirar mansamente para uma situação eleitoral parecida com a da SFIO. (...)
Os "revolucionários" é que são coerentes, pois, desde o início, recusaram o jogo eleitoral e fizeram valer o princípio das "minorias actuantes". Somente, o princípio da minoria só vale na medida em que ela suscita a adesão da maioria. A minoria não comanda, convence. De outro modo seria a ditadura, e portanto a repressão, e portanto o Estado, e portanto a burocracia que os revolucionários pretendem abolir. A maioria alcançada pelos gaullistas nas eleições mostra que a França não está pronta para a revolução.
E, no entanto, ao ouvir ontem o Humberto, todo lançado na "Université d'été", convenço-me de que a revolução vai recomeçar no Outono com a abertura das aulas, não posso duvidar de que a revolução está em marcha. As eleições ficaram na sombra.
São estas duas atitudes que é preciso confrontar e opor: a França que vota gaullista maciçamente - incluindo a banlieue de Paris, que sempre votou vermelho -, a França que confirma a rotina; e, por outro lado, a revolução que prossegue, na minoria, o seu andamento, igualmente seguro e inelutável.
(...) São precisos conceitos diferentes para entender uma e outra. Uma revolução só é possível quando, de salto, a massa entra em estado dinâmico. Foi o que, parece, esteve quase para acontecer em Maio. Foi o que aconteceu em Novembro de 1917 na Rússia. É só no momento em que o estado dinâmico se propaga à maioria da população activa que a estrutura pode mudar.»
António José Saraiva, Maio e a crise da civilização burguesa
* Exactamente assim... no livro. O lado revolucionário de Maio de 68 chegou até ao calendário!...
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