"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sábado, 4 de maio de 2013

Perdoai-lhes Senhor, porque eles sabem o que fazem!

António Nóvoa, Reitor da Universidade de Lisboa, discursou na sessão de abertura do 11.º Congresso Nacional dos Professores, citando Sophia de Mello Breyner por mais de uma vez.

«O problema maior dos professores é o mesmo que sinto agora, quando vos falo. Sei que tenho a obrigação de dizer palavras de futuro, e não as encontro. Não sei onde é que estão. Não sei para onde foram. É assim também com os professores. Porque educar é abrir caminhos. É viver no presente mas para além das fronteiras do presente. Por isso, é nosso dever, é nossa obrigação, ir à procura da esperança, de uma esperança que é mudança. E se não a encontrarmos à primeira, então que façamos dela luta, resistência, união em torno de causas maiores que recusem as políticas menores que nos asfixiam. (...) É tempo de dizer não!
Não à degradação da escola pública. Não à menorização dos professores. Não a um país sem futuro. "Perdoai-lhes Senhor, porque eles sabem o que fazem!"
(...)
Reforçar a escola pública é criar capacidade para produzir cultura, para produzir investigação científica e tecnológica própria, para diminuir a nossa dependência. Num país com tão grandes fragilidades, o nosso principal cimento é a escola, a escola pública, a escola pública para todos.
(...)
Podemos prescindir de tudo, mas de nada quanto à valorização da escola e dos professores... porque é aqui que estão as condições para um Portugal futuro que não seja apenas a repetição do Portugal passado. É por isso que temos de ser impacientes.
Não há nada mais urgente do que a ideia de futuro, do que uma visão de longo prazo.Porque é ela que nos permite dar o primeiro passo. E nele vai já o caminho todo, toda a energia do percurso que temos de fazer.»

Perdoai-me, senhores, por alguma (involuntária) infidelidade textual ao discurso. 
À ideia estará reconhecidamente fiel.

«(...)
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão"

Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito

Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem»
Sophia de Mello Breyner, As pessoas sensíveis, in Livro Sexto

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