«Era uma vez uma ninhada de pardais entre os quais, desde logo, se destacou um pela sua irreverência e inconformismo.
Seria o primeiro a largar o nume caseiro procedendo a investigações externas e providenciando ao seu sustento. Entretanto o Inverno aproximava-se e ele foi reiteradamente avisado da necessidade de seguir a família na sua migração para o Sul. Recusou, peremptoriamente, decidindo permanecer pelas paragens conhecidas. Inconsoláveis, partiram os outros. O frio começara a apertar, todavia, e o pardalito, medindo a sua intransigência contra as regras do bom senso decidiu abalar também. Desabavam já, porém, as neves e os gelos sobre o nosso diminuto herói que, de asitas transidas acabou por tombar no largo pátio de um estábulo de pachorrentas vacas inglesas. Aconteceu que uma das ditas, que por ali passava defecou sobre o bichinho. Estou pronto!, terá conjecturado ele, submergido por aquela montanha de forragem fumegante e pósdigerida.
Mas não. Em pouco tempo o calorzinho desenvolvido havia de descongelá-lo, restituindo-o à vida e às funções normais. Sentiu-se quentinho e feliz e, por isso, desatou em alegre chilrear. Um gato opulento e sonso que andava pelas proximidades, atraído pelos gorgeios, decidiu investigar as origens do ruído e não tardará a dar com a bosta que, de unhas em riste, descascaria papando num ápice o desventurado pardal.
Se a história é triste, mesmo pungente, dela se inferem, contudo e para proveito de todos, três tipos de moralidade. A saber:
1) Quem te enche de merda não é necessariamente teu inimigo;
2) Quem te livra da merda não é necessariamente teu amigo;
3) Se te sentes quentinho e feliz no meio da merda, cala o bico.»
Rui Knopfli
(reeditado no JL de 31 de Abril de 2013)
(reeditado no JL de 31 de Abril de 2013)
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