«Um a um, os lampiões de gás acendem as suas luzinhas vermelhentas, em fúnebres fieiras, que parece fazerem nas ruas grandes perspectivas de enterros. Os garotos apregoam jornais e os cauteleiros, cautelas: sob as árvores das praças, ao longo dos asfaltos marginais das ruas, escuros formigueiros de gente hesitam, vão e voltam, fosforentes os olhos, os gestos torturados, como se uma inquietação começasse a desorientá-los.
(...)
Vista do cimo dos montes, a essa hora, a cidade perdeu completamente a configuração burguesa que havia à luz do sol, para tornar-se numa indefinida necrópole de assustadoras perspectivas (...)
Neste corpo de monstro escamoso e fosforente, que é Lisboa de noite, feito de placas, corcovas, pernas, anquiloses, há um sistema arterial desenhado a luzes de gás, por cujos grandes vasos carroçam movimento e vida; e um sistema nervoso para a repercussão das suas grandes misérias e das suas grandes dores.»
Neste corpo de monstro escamoso e fosforente, que é Lisboa de noite, feito de placas, corcovas, pernas, anquiloses, há um sistema arterial desenhado a luzes de gás, por cujos grandes vasos carroçam movimento e vida; e um sistema nervoso para a repercussão das suas grandes misérias e das suas grandes dores.»
Como mais prosaicamente escrevia Júlio César Machado, no final de Lisboa de Ontem:
A Polka e a iluminação a gaz... uma mistura explosiva!
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