"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

José Rodrigues Miguéis


Nascido a 9 de Dezembro de 1901, em Lisboa, cidade que tão bem retrata em várias das suas obras.

«Um vagido exasperado, enraivecido, vem do fundo da casa.
- Nasceu o menino!
A comadrinha sorri, ensaboa as mãos no lavatório:
- Entrem, entrem! Está tudo acabado.

Na grande cama de ferro do casal, no quarto ao fundo, branca como os lençóis, a dona Adélia repousa com o filho ao lado, já lavado e enfaixado. Reabre a custo os olhos imensos, como se as pestanas lhe pesassem, e procura a parteira. A sua voz é um sopro:
- É menino ou menina, comadrinha?
- É rapaz, é rapaz! E perfeitinho, um latagão!
A boca da parida rasga-se de orelha a orelha num sorriso descarnado que descobre os dentes grandes, brancos e perfeitos.
(...)
O menino dorme serenamente. (...)
- Julguei que me ia nascer em dia da Senhora da Conceição, e afinal...»
José Rodrigues Miguéis, A Escola do Paraíso


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