Os gregos
bebiam água fresca com neve e água de neve derretida.
Os
romanos usavam gelo nas bebidas. Nero (séc. I) terá servido o primeiro sorvete
conhecido, feito com frutas esmagadas, mel e gelo.
Os
chineses criaram uma forma de produção de sorvetes, a qual consistia na
colocação de uma mistura de neve e de salitre à volta de recipientes com
xarope, obtendo uma mistura sólida.
Terá sido
da observação desta prática que Marco Pólo levou a informação para Itália.
Assim se explicaria a especialização deste país na arte dos gelados.
Em França, os
gelados passaram a integrar as ementas dos privilegiados após o casamento
de Henrique II com Catarina de Médicis (1533). Iriam tornar-se mais populares a partir de finais do século XVII, sobretudo nos cafés, com a presença
de mestres italianos.
Em
Inglaterra, sabe-se que, desde meados do século XVII, se importava neve da
Noruega e da América, a qual era armazenada para depois se consumir em festas.
Em
Espanha, também por influência italiana, já era habitual, durante o Verão, a
utilização de neve para refrescar bebidas por parte da aristocracia, na segunda
metade do do século XVI.
Tomé
Pinheiro da Veiga, na Fastigímia,
obra escrita no reinado de Filipe III (de Espanha) e que aborda a vida na corte
deste monarca, refere que "o maior regalo que tem Castela (...) é a neve
no verão, que nunca falta, e só por ela se poderia ir daqui [Portugal] (...) e
cá na terra [Valladolid - corte castelhana] não há maior deleite que água fria
no verão e fruta com neve."
E foi via
Filipes que a moda das bebidas refrescadas com gelo pegou em Portugal.
A neve já
era consumida na água, por D. João III.
No início
do século XVII há referências ao transporte de neve da Serra da Estrela para a
corte "depois que as delícias de Itália entraram em Portugal com os
costumes castelhanos". Em 1619, Filipe III fez uma visita a Portugal. Uma
das exigências do rei foi que nunca lhe faltasse a neve durante a sua estada. E
o neveiro Paulo Domingos celebrou o contrato de abastecimento de neve,
garantindo o fornecimento diário de uma quantidade enorme de arrobas, entre 1
de Junho e 30 de Setembro, tantas que até ponho a hipótese de não ter
interpretado bem o que li - 96 arrobas diárias??!! A partir de então, os monarcas procuraram ter sempre
neve ao seu dispor.
E as
referências posteriores começam a ser cada vez mais frequentes, pois vai-se
difundindo o hábito de tomar neve – designação corrente de sorvete, gelado,
carapinhada ou outros derivados de gelo.
Marina
Tavares Dias afirma que era o “serviço de neve”, mais do que o de café, “a
principal motivação para muitos clientes dos botequins setecentistas.”
Quanto a
gelados, sabe-se que, em 1712, Eugénio da Cunha tinha uma loja de “sorvetes e
mais bebidas” em Lisboa e também vendia gelo, havendo na época outras casas com
o mesmo negócio.
O
fornecimento de neve a Lisboa a partir da Serra da Estrela estava sujeito a
muitos constrangimentos, a começar pela distância e pela dificuldade dos
transportes. Muitos contratos de abastecimento não foram integralmente
cumpridos.
Na década
de 1740 foi construída a fábrica do Gelo da Serra de Montejunto, bem mais
próxima de Lisboa, enorme vantagem no fornecimento de gelo à capital.
Essa
fábrica, depois designada por Real Fábrica do Gelo, cessou a sua actividade em
finais do século XIX, tendo sido classificada como Monumento Nacional em 1996,
depois de trabalhos de limpeza e recuperação.
E era a esta
fábrica que eu hoje queria chegar.
As principais fontes de informação que usei:
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