"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

terça-feira, 13 de agosto de 2013

A Real Fábrica do Gelo (2)

O Sargento Mor de Infantaria, Carlos Mardel, engenheiro na Corte e arquitecto de Sua Majestade, D. João V, visitou, em 1748, a fábrica de neve na serra de Montejunto.
A iniciativa da sua construção fora de um francês, Trofimo Paillete, e de dois espanhóis, João Rose e Pedro Francaleza, em 1741. O custo (com forte investimento dos espanhóis) parece ter sido um balúrdio e a sociedade não correu bem: o francês enganou os sócios e pirou-se. Os contratos com a Corte, o principal consumidor (e o que justificará o título de Real Fábrica), nunca correram como esperado, a começar pela concessão do privilégio àqueles três sócios do exclusivo do fornecimento de neve à Corte e à cidade de Lisboa, e continuando com o contrato com Catarina Ricart (1750), senhora que desejava ter "casas de neve" em Lisboa, se propôs vender a neve por um preço mais baixo e ainda fazer a oferta diária de meia arroba ao Hospital de Todos os Santos (usada, nomeadamente, na conservação de medicamentos). Nunca os contratos foram cumpridos.
E pelo meio houve o terramoto.

Real Fábrica do Gelo
(Serra de Montejunto)
 A serra de Montejunto apresentava a grande vantagem da maior proximidade de Lisboa, em relação à Estrela ou à Lousã. E estava garantido o abastecimento de água pelos poços existentes.
1782 marca o início de uma nova fase da fábrica de Montejunto, com a compra da fábrica e as obras de reedificação por Julião Pereira de Castro, neveiro da casa real.

Durante os meses de Setembro a Maio, preparava-se e armazenava-se o gelo que, de Maio a Setembro, se fazia chegar a Lisboa.
devidamente acondicionado no lombo dos burros ou dos muares, primeiro, de carro e bois, depois, até à vala do Carregado, de barco, finalmente, para a capital.
A mesma praça que assistiu a outros desembarques também era o cenário da chegada dos blocos de gelo.
Aí se localizava, desde 1778, a Casa da Neve ou Café da Neve - qual Casa da Índia da idade do gelo.

Lápide que assinala a compra e reedificação da fábrica
por Julião Pereira de Castro

Esquema do percurso da neve
da Serra de Montejunto a Lisboa

D. Antónia Manilla Pereira de Castro,
mãe de Martinho Bartholomeu de Castro
E após várias gerências e algumas mudanças de nome, quis o destino, não tanto o acaso, que a antiga Casa da Neve se transformasse no (ainda) conhecido Martinho da Arcada, adquirido que fora por Martinho Bartolomeu Rodrigues, neto do neveiro Julião Pereira de Castro, o tal que ampliou a Real Fábrica do Gelo que permaneceu na posse da família até ao fim do seu funcionamento.

A fábrica cessou a sua actividade em 1885. Os avanços tecnológicos tornaram-na obsoleta.
Esquecida durante anos, as suas instalações foram limpas e recuperadas (na medida do possível) a partir de 1988 e, a 2 de Abril de 1996, a Real Fábrica do Gelo obteve a classificação de Monumento Nacional.


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