"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Livros com Porto

Os dias no Porto fizeram-me repetir Os Afluentes do Silêncio e a repegar nas Memórias de Raúl Brandão, que deixara no 1.º volume.


Eugénio de Andrade que se afirmava como não sendo do Porto e que equiparou os seus Afluentes a livros de que não gostava, por "esparsos e privados de arquitectura" e por "não ter sabido distinguir a fronteira entre prosa e poesia" - o que a mim tanto me agrada.
Eugénio que se rendeu ao Porto e que admirava Carlos de Oliveira, em cuja obra dificilmente sabia distinguir a prosa da poesia.


De Raúl Brandão me admira de encontrar nas suas Memórias passagens sobre o regicídio e os últimos anos da monarquia que são reproduzidas em livros de História, hoje, quase ipsis verbis, em que a fonte seja identificada.
Raúl Brandão que também desvalorizou o seu livro, "de memórias despretensiosas":
«Isso que aí fica não são memórias alinhadas. Não têm essa pretensão. São notas, conversas colhidas a esmo, dois traços sobre um acontecimento - e mais nada. Diante da fita que a meus olhos absortos se desenrolou, interessou-me a cor, um aspecto, uma linha, um quadro, uma figura, e fixei-os logo no canhenho que sempre me acompanha.»
Concordo que são um pouco desalinhadas, mas ainda bem que fixou.
E algumas "cusquices" históricas são bem interessantes.


P.S. - Não deixa de ser curioso que num dos textos que compõem Os Afluentes do Silêncio, as palavras da canção "ecoem na cabeça" de Eugénio de Andrade: "If you're going to San Francisco / be sure to wear some flowers in your hair..."

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