"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 25 de março de 2012

Antonio Tabucchi

Morreu hoje em Lisboa Antonio Tabucchi.
Nasceu em 1943, em Pisa, a 24 de Setembro. Foi professor em várias universidades (Itália, França e EUA), destacando-se na leccionação de Língua e Literatura Portuguesas em Bolonha, Génova e Siena. Publicou ensaios, romances, contos  e textos teatrais. Muitas das suas obras estão traduzidas em várias línguas e quatro delas foram adaptadas ao cinema. Foi director do Instituto Italiano de Lisboa. Recebeu prémios em vários países. Escrevia regularmente na imprensa italiana, destacando-se na defesa da liberdade, o que o levou a ter vários litígios, um dos quais com Berlusconi.  

A sua atracção por Portugal terá surgido quando estudava em França e descobriu uma colectânea de poemas de Fernando Pessoa, integrando o poema A Tabacaria, por cuja obra se apaixonou.
Decidiu conhecer Portugal (princípio dos anos 60) e estudar português para melhor compreender o poeta. Casou com Maria José de Lencastre (portuguesa), tendo com ela traduzido e dirigido a edição italiana dos textos de Pessoa, sobre o qual também escreveu vários ensaios. Foi o seu grande divulgador neste país.

Vivia dividido entre Portugal e a Itália. Foi-lhe concedida nacionalidade portuguesa em 2004, formalizando a sua ligação afectiva com o país de que se reconhecia "cativo". A sua casa em Lisboa ficava próxima do Príncipe Real, onde gostava de passar, tomar café e ouvir as pessoas. Apoiante de Mário Soares, foi candidato do Bloco de Esquerda nas eleições europeias (2004).

A sua obra de ficção iniciou-se com a edição de Piazza d'Italia, em 1975. O seu último livro editado, Tristano morre, data já de 2006, na edição portuguesa.
Escrevendo em italiano, muitas das suas obras têm Portugal como cenário e reflectem a realidade portuguesa. Considerava que o Alentejo era o sítio ideal para escrever, pois era como se estivesse fora do mundo.
Apesar do seu conhecimento da língua portuguesa – afirmava sonhar frequentemente em português – só em 1991 escreveu directamente em português: Requiem, um romance onde um autor italiano se encontra em Lisboa com o espírito de um poeta português já morto. Pessoa andaria por aí.

A Dom Quixote anunciou a publicação para o próximo mês do último livro de Tabucchi, O Tempo Envelhece Depressa, um conjunto de contos.

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