António Costa Pinheiro, Os óculos de Fernando Pessoa (1980)
Fernando Pessoa morreu na noite do dia 30 de Novembro de 1935.
As suas últimas palavras, dirigidas à enfermeira pouco antes de morrer, terão sido “Dê-me os óculos”.
«... como se deles precisasse para entrar pela noite dentro ou
por um súbito desejo de escrever um último e impossível poema.» (Luís Osório)
«Os óculos de Fernando Pessoa são dois monóculos de Álvaro de Campos. O Pessoa está por trás.
Não há nada de especial neste facto, a não ser para os que julgam que uns óculos servem para ver melhor ou a dobrar ou em diferente, e não é o caso. Uns óculos, desde que bem pensados e bem vistos, servem sempre para a pessoa se esconder. E se se puser uma gaivota numa das lentes, então é que ainda melhor: então é que fica só a paisagem de dentro fingindo que é a de fora, não sei se me faço entender.
António Costa Pinheiro, Os óculos-gaivota do poeta Fernando Pessoa, 1976
Ora, o Costa Pinheiro (...) fingiu-os. E para comprometer ainda mais pôs-lhes a tal gaivota que os desmente. Pôs tudo diante deles: caneta e mãos, horizonte largo, o Além. Um celebrante no altar.
Quando o Fernando Pessoa se viu assim passou os dedos pelos olhos frios e pediu delicadamente:
"Os meus óculos, senhor Pinheiro."»
José Cardoso Pires, O Jornal, 9 de Janeiro de 1981
António Costa Pinheiro, O espaço poético de Fernando Pessoa, 1977
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