"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sábado, 30 de novembro de 2024

Os óculos de Fernando Pessoa

António Costa Pinheiro, Os óculos de Fernando Pessoa (1980)

Fernando Pessoa morreu na noite do dia 30 de Novembro de 1935.

As suas últimas palavras, dirigidas à enfermeira pouco antes de morrer, terão sido “Dê-me os óculos”.

«... como se deles precisasse para entrar pela noite dentro ou por um súbito desejo de escrever um último e impossível poema.» (Luís Osório)


«Os óculos de Fernando Pessoa são dois monóculos de Álvaro de Campos. O Pessoa está por trás.
Não há nada de especial neste facto, a não ser para os que julgam que uns óculos servem para ver melhor ou a dobrar ou em diferente, e não é o caso. Uns óculos, desde que bem pensados e bem vistos, servem sempre para a pessoa se esconder. E se se puser uma gaivota numa das lentes, então é que ainda melhor: então é que fica só a paisagem de dentro fingindo que é a de fora, não sei se me faço entender.

António Costa Pinheiro, Os óculos-gaivota do poeta Fernando Pessoa, 1976

Ora, o Costa Pinheiro (...) fingiu-os. E para comprometer ainda mais pôs-lhes a tal gaivota que os desmente. Pôs tudo diante deles: caneta e mãos, horizonte largo, o Além. Um celebrante no altar.
Quando o Fernando Pessoa se viu assim passou os dedos pelos olhos frios e pediu delicadamente: 
"Os meus óculos, senhor Pinheiro."»
José Cardoso Pires, O Jornal, 9 de Janeiro de 1981

António Costa Pinheiro, O espaço poético de Fernando Pessoa, 1977


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