"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astrosou para o sorriso das vacas." Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)
«Mas agora basta, meu caro António Mora, viver a minha vida foi viver mil vidas, estou cansado, a minha vela gastou-se, faça-me um favor, dê-me os meus óculos.
António Mora ajustou a túnica. Prometeu urgia-lhe.
Ó céu divino, exclamou, velozes ventos alados, nascentes dos rios, sorriso inumerável das ondas marinhas, terra, mãe universal, a vós invoco, e ao globo do Sol que tudo vê, vede a que estou sujeito.
Pessoa suspirou. António Mora tirou os óculos de cima da mesa-de-cabeceira e pô-los na cara de Pessoa. Pessoa abriu muito os olhos e as suas mãos pararam sobre o lençol. Eram exactamente vinte horas e trinta.»
António Tabucchi, Os últimos três dias de Fernando Pessoa
«Penso nos Heterónimos de Fernando Pessoa. A ilustração vulgar, utilizada, tem um valor iconológico na pessoalidade do poeta, fazendo dos símbolos valores pictóricos-literários. Mas é consciente, em mim, esta disparidade formal: é o poeta e não eu-pintor que está em causa.»
António Costa Pinheiro, Caderno de Atelier n.º 3, Dezembro de 1973
António Costa Pinheiro, Os óculos de Fernando Pessoa (1980)
Fernando Pessoa morreu na noite do dia 30 de
Novembro de 1935.
As suas últimas palavras, dirigidas à enfermeira pouco antes de morrer, terão sido “Dê-me os óculos”.
«... como se deles precisasse para entrar pela noite dentro ou
por um súbito desejo de escrever um último e impossível poema.» (Luís Osório)
«Os óculos de Fernando Pessoa são dois monóculos de Álvaro de Campos. O Pessoa está por trás.
Não há nada de especial neste facto, a não ser para os que julgam que uns óculos servem para ver melhor ou a dobrar ou em diferente, e não é o caso. Uns óculos, desde que bem pensados e bem vistos, servem sempre para a pessoa se esconder. E se se puser uma gaivota numa das lentes, então é que ainda melhor: então é que fica só a paisagem de dentro fingindo que é a de fora, não sei se me faço entender.
António Costa Pinheiro, Os óculos-gaivota do poeta Fernando Pessoa, 1976
Ora, o Costa Pinheiro (...) fingiu-os. E para comprometer ainda mais pôs-lhes a tal gaivota que os desmente. Pôs tudo diante deles: caneta e mãos, horizonte largo, o Além. Um celebrante no altar.
Quando o Fernando Pessoa se viu assim passou os dedos pelos olhos frios e pediu delicadamente:
"Os meus óculos, senhor Pinheiro."»
José Cardoso Pires, O Jornal, 9 de Janeiro de 1981
António Costa Pinheiro, O espaço poético de Fernando Pessoa, 1977
A partir daqui... plano descendente (um problema comum aos grandes grupos de rock progressivo).
Rick Wakeman tinha abandonado o grupo após Tales from Topographic Oceans, mas foi muito bem substituído por Patrick Moraz.
O lado A do disco é uma peça única, Gates of Delirium, inspirada por Guerra e Paz, de Tolstoi. Tem das passagens musicais mais "duras" dos Yes, mas termina num suave e apaziguador ambiente, que deu origem ao single Soon, ganhando alguma autonomia em relação à suite de que faz parte.
Foi dos discos que, saindo pós-25 de Abril, pôde ser logo ouvido - antes, os discos custavam a chegar cá. A cassette com a sua gravação foi gasta...
Os novos navio revelam-se mais lentos - a aproximação ao cais é demorada (medo de amolgar?) -, parecem mais "frágeis" e a sua autonomia é reduzida (li que era apenas de 70 minutos).
Se a duração da viagem se aproxima dos 25 minutos, faz uma viagem para lá, faz uma viagem para cá e... tem de ir carregar as baterias. Como nem todos os cais têm posto de carregamento...
Quando preciso de chegar a horas e vejo que me calha um dos novos navios... é um sufoco!
No cais do Seixal, a presença dos novos barcos origina situações caricatas, difíceis de explicar a quem não convive com estas situações. Mais de que uma vez, os passageiros que aguardavam barco no terminal tiveram de sair sala de embarque, voltar ao exterior e aceder ao cais secundário (que não tem pontos de controlo de entrada dos passageiros), para apanhar um catamarã dos antigos, porque... o cais principal está ocupado com um navio eléctrico a carregar.
Ou muito me engano ou os barcos eléctricos serão um perfeito (e oneroso) fiasco.
Hoje, as redes sociais estão pejadas de comentários encomiásticos ao Chega e de escacha-pessegueiro nos políticos, na sequência do circo montado no Parlamento.
São usadas muitas maiúsculas.
Os erros de Português são de arrepelar os cabelos!
«O 25 de Novembro pode e deve ser comemorado,
mas é como ele foi, “como ele foi” foi sem dúvida importante no processo que,
do 25 de Abril à plena democracia, teve várias etapas. O nascimento da nossa
democracia, a partir da conquista da liberdade em 25 de Abril, demorou mais ou
menos dez anos. Esses anos foram convulsivos, conflituais, mas o que é que se
esperava da queda de uma ditadura, que conduzia uma Guerra Colonial, com
censura todos os dias, com uma polícia política sem lei, com prisões e repressão,
com altas taxas de analfabetismo, emigração em massa e enorme pobreza? Queriam
que essa transição fosse “higiénica”, sem pecado? Muito bem, ajudassem a
derrubar a ditadura mais cedo, a acabar com a guerra, pagando as consequências,
e para isso muitos dos que se queixam do tumulto do pós-25 de Abril, com
efeitos trágicos em particular nas colónias, não mexeram uma palha.
(...)
A mistificação histórica e política do 25 de Novembro
apouca-o, porque o seu significado real justificava uma comemoração digna nos
seus 50 anos, em 2025. O problema é que as pessoas a serem homenageadas seriam,
com excepção de Jaime Neves – o herói solitário das comemorações “fake”
de 2024 –, o Presidente general Costa Gomes, os militares do Grupo dos Nove,
que são os mesmos que hoje se recusam a ir a estas comemorações, os seus vivos
como Vasco Lourenço ou Sousa e Castro – demasiado “esquerdistas” para os
propugnadores das comemorações “diabólicas” –, Ramalho Eanes e, no plano civil,
Mário Soares, os seus companheiros da luta da Fonte Luminosa e os homens do
PPD, Sá Carneiro e Emídio Guerreiro. Ou seja, tudo gente que merecia a
“verdadeira” homenagem, e não a que tem na sua propositura na Assembleia um
destacado membro da resistência armada ao 25 de Abril e os membros da direita
radical no CDS e no PSD. Vão todos participar numa mistificação histórica, que
é ao mesmo tempo uma menorização do valor do 25 de Novembro.»
José Pacheco Pereira, Público, 23 de Novembro de 2024
«Eu não sei se havia um plano formulado com rigor e com suficiente clareza. O que sucedeu, isso sim, foi - já nos dias ou semanas que antecederam o 25 de Novembro e sobretudo nesse próprio dia (e apesar de nós acabarmos por ter o controlo da situação) - uma tentativa imediata de aproveitamento por parte da direita para recuperar toda a força e a supremacia da situação. Penso que não havia da parte deles um plano gizado com pormenor, com pés e cabeça, até porque julgo que não se sentiam ainda com força para isso, sabiam que, ao fim e ao cabo, quem comandava os acontecimentos no plano político e militar era o Grupo dos Nove e, portanto, não sabiam ainda orientar-se muito bem no meio de tudo isto. O que aconteceu, de facto, foi uma tentativa imediata de aproveitamento.
(...)
Quer dizer, ao fim e ao cabo, o que se passou no 25 de Novembro foram várias coisas, por isso se fala em mais do que um 25 de Novembro, entre elas a tentativa de o transformar numa "pinochetada" como eu costumo dizer. Isso é claríssimo e fez, obviamente, com que nos tivéssemos de bater, pelo menos, em duas frentes: aquela para a qual nos tínhamos preparado e outra, a da direita militar.»
Entrevista de M.ª Manuela Cruzeiro a Melo Antunes, Melo Antunes o sonhador pragmático
No plano político-militar, os militares conotados com as facções mais à esquerda foram afastados.
A direita política e militar "não ganhou" (se quisermos analisar dessa forma redutora - entre vitórias e derrotas, a situação) - não foi a vencedora imediata, "até porque não se sentiam ainda com força para isso", mas passou a ter condições para crescer.
Foram as forças moderadas que controlaram as operações militares do 25 de Novembro (e o fluxo político inerente, numa época em que o adjectivo militar andava a par com o adjectivo político). Mesmo o Coronel Jaime Neves, habitualmente conotado com posições mais à direita, e que se distinguiu nas acções desse dia, actuou sob a orientação do Tenente-Coronel Ramalho Eanes, comandante operacional a partir do Regimento de Comandos da Amadora. No Palácio de Belém, o Presidente, General Costa Gomes assumira o comando, coadjuvado por Vasco Lourenço (comandante da Região Militar de Lisboa) e Rocha Vieira, Chefe do Estado-Maior. Neste período, esteve reunido em permanência o Conselho da Revolução, dominado pelas posições do Grupo dos Nove (de que Melo Antunes era figura proeminente).
Todos estes militares tinham estado comprometidos com o 25 de Abril.
Mas, ao serem posteriormente afastados dos postos de chefia os elementos mais à esquerda, o cenário político começou a deslizar todo ele para a direita - entrámos no PCREC (o C de Contra).
Daqui advém a simpatia da direita pelo 25 de Novembro, a data em que a revolução foi travada, através do afastamento dos seus principais actores, e que se transforma em símbolo político por oposição ao 25 de Abril da esquerda. Por isso é preciso realizar a cerimónia - todos têm rituais.
A direita aproveitou-se, naturalmente, das condições que foram criadas, sem nada ter feito directamente, mas sabendo "orientar-se muito bem no meio tudo isto".
O 25 de Novembro é, a meu ver, o fim das utopias possíveis do 25 de Abril, aquelas que se abriram imediatamente após o dia inicial e limpo, quando todo o futuro nos pareceu estar por escrever.
Nota: O plural majestático da última frase será um exagero: com 15 anos inocentes (politicamente ignorante), não compreendia de todo os acontecimentos que então se desenrolavam.
2.ª nota - No meio de tanto que se tem dito e escrito, louvo aquilo que me parece ser o respeito pela verdade nos relatos que faz das situações vividas e a coerência da análise da parte do General Ramalho Eanes (nomeadamente no que se prende com a sua actuação) em todos os depoimentos que lhe conheço sobre os acontecimentos ocorridos em torno do 25 de Novembro de 1975. Concorde-se ou não com as posições que tomou...
O
auge do rock progressivo, em dose dupla, com camadas de criatividade e golpes
de mestre.
Será o álbum mais teatral do grupo - a narração da história de autodescoberta
de Rael - que precisa de ser ouvido como uma peça única e não como um conjunto
de faixas independentes, com uma envolvência e composições poderosas.
Por
isso, a interpretação integral do disco nos seus concertos, com as músicas
pela mesma ordem.
Se os Genesis já eram uma banda obrigatória de ver ao vivo, com a mega tournée
deste álbum os seus concertos tornaram-se cada vez mais globais e aparatosos na
concepção cénica, com luzes, projeções, máscaras, trajes e cenários
exclusivamente desenhados para as músicas do álbum.
Digo
do que li, do que vi em fotografia, do que ouvi gravado e do que ouvi contar a
quem assistiu aos concertos dados em Cascais, a 6 e 7 de Março de
75 (tenho o concerto gravado em cassette). Ainda fui considerado demasiado
novo para me deixarem ir sozinho!...
Vivia-se
o período revolucionário - é mítica a presença de tanques e de militares de G3
(de que chegaram a fazer uso... sem vítimas! Os disparos foram para o ar).
Steve Hackett, o guitarrista, que há uma semana deu um concerto no Campo
Pequeno, disse que se recorda de explosões e dos disparos.
Assisti,
na Aula Magna, ao concerto dos The Musical Box, grupo canadiano que se
dedica à recriação dos concertos dos Genesis - uma verdadeira recriação
histórica, feita ao pormenor, com autorização dos Genesis, que colaboraram na
concepção do espectáculo e... os elogiaram!
Diz
quem assistiu em 1975 que foi exactamente assim!
É
incrível pensarmos que não existe uma gravação vídeo da digressão - não terá
sido autorizada (e ainda não havia telemóveis!).
The Lamb Lies Down on Broadway marca, também, o fim da melhor fase dos Genesis, um dos grupos mais emblemáticos do rock progressivo inglês.
Peter Gabriel anunciou o abandono da formação durante a digressão. Mais dois discos, ainda bons, e foi a saída de Steve Hackett.
A partir daí... plano descendente - irrelevância musical (por muito que possam ter vendido).
Muitas (e boas) memórias em cada audição deste disco...
«Os futuros compêndios de História poderão resumir o evento em escassas linhas: Após um Verão Quente de disputa entre forças revolucionárias e forças moderadas, pela ocupação do poder, civis e militares chegaram ao outono a contar espingardas. O confronto tantas vezes anunciado pareceu por fim inevitável, quando, na madrugada de 25 de Novembro, tropas pára-quedistas ocupam diversas bases aéreas, na expectativa de receber apoio do COPCON. Mas um grupo operacional de militares, chefiado por Ramalho Eanes, liquidou a revolta no ovo, substituindo o PREC (Processo Revolucionário em Curso) pelo “Processo Constitucional em Curso”»
Maria Manuela Cruzeiro, 25 de NOVEMBRO- QUANTOS GOLPES AFINAL?
Início da comunicação apresentada em 2005, no Colóquio sobre o 25 de Novembro, realizado no Museu da República e da Resistência (Lisboa)
As putativas nomeações de Trump para a administração norte-americana variam entre a casa do Big Brother e o circo Cardinali.
Sem disfarces!
Aguardo que a União Europeia reconheça o isolamento a que a vota o "aliado" americano, sem as habituais pancadinhas nas costas, dos Democratas, e procure o seu caminho.
Já está na altura de sair da casa dos papás, de ter uma vida própria (sem ilusões)!
Cinco anos após a morte de José Mário Branco, um conjunto de cidadãos, maioritariamente com ligações à Música, entregou à Vice-Presidente da Assembleia da República a petição para que a obra de José Mário Branco seja considerada de interesse nacional.
A sede de ir ao pote é tão grande, que a promoção da operação militar de 25 de novembro de 1975 a sessão solene evocativa anual na Assembleia da República nem esperou por um aniversário mais "redondo", como seriam os 50 anos.
Quem assim quer comemorar o 25 de novembro quer fazê-lo por oposição ao 25 de Abril.
E haverá quem ainda fique saudoso da comemoração do 28 de maio.
Se o 25 de Abril teve este ano mais pompa e circunstância pelo seu 50.º aniversário, era preciso, à nova maioria de direita, contrabalançar e aproveitar o contexto político favorável para apressar a sobreposição de uma nova data fundadora do regime.
Aguardo por uma nova maioria de esquerda - um Presidente, uma Maioria, um Governo (que hoje parece longínqua!) - para ver se a recente decisão da Assembleia da República será revertida. Assim como assim, essa decisão teria o mesmo valor democrático que aquela que foi aprovada na actual conjuntura.
Parto do princípio que cada um deve poder ter as posições políticas que entende, de que é legítimo assinalar datas históricas - e o 25 de novembro é-o, dentro da lógica de um processo histórico iniciado com o 25 de Abril e concluído, quiçá, com a aprovação da Constituição (2 de Abril de 76) - mas a arrogância efusiva existente nos discursos da direita dá lugar a narrativas falaciosas das situações vividas, exalta apenas as personalidades que lhe são convenientes e enviesa as interpretações históricas.
Alguns que pouco ou nada fizeram - ou cuja família política pouco ou nada fez - arvoram-se em heróis de um combate político que não os teve como agentes.
Se as interpretações podem ser várias (plurais), os factos são únicos. Não os falsifiquem!
Já basta a notícia de que "algumas zonas da Península Ibérica vão ser atingidas pela depressão Caetano."
Fez? Porquê a forma verbal no passado? "Fez toda a diferença." Isto é que é fé!
"O resultado [em 2016] foi uma mistura necessariamente [sic] promíscua entre política, negócios e família, impossível em qualquer democracia europeia [EM QUALQUER DEMOCRACIA!] , mas não nos Estados Unidos da América (...)"
Depois do que se tem sabido sobre as futuras nomeações, JMT manterá a sua fé?
Adoro quando, no futebol, as interpostas tomam as dores dos seus (presumidos) cavaleiros andantes e se arvoram em defensoras técnico-tácticas especialistas da matéria.
Robert Fripp–guitar
Ian McDonald–reeds, woodwind, vibes, keyboards, mellotron, vocals
Greg Lake–bass guitar, lead vocals
Michael Giles–drums, percussion, vocals
Peter Sinfield–words and illumination
(...) a todos os prefácios que me couberam em sorte pela vida em diante.
Então, terminada a tarefa, pegava em toda aquela farrapada e metia-a numa gaveta, exactamente nesta que abri agora mesmo e fui encontrar cheia de nuvens, de papéis de nuvens que remexi na vaga esperança de se me deparar algum rato escondido...
Mas isso sim. Muitas delas nem forças tinham para se escapulir das gavetas, pesadas de ideias podres. Outras lá conseguiam voar a custo, para logo se desfazerem em chuva miudinha que mal humedecia as ervas rasteiras do tempo.
Mas a maior parte diluía-se no céu deserto, já com o poente ao fundo nos horizontes nus.»
Ainda em 1969, a formação inicial dos King Crimson (com Sinfield, à dt.ª)
Morreu Peter Sinfield, poeta, co-fundador dos King Crimson, cujo nome criou, apesar de ser "apenas" o seu "surreal" letrista no período inicial da carreira do grupo. Só muito ocasionalmente tocou sintetizador.
Dirigia o trabalho de luzes nos concertos, oferecia conselhos sobre o design dos álbuns e orientou outras ações mais discretas.
Islands foi o último álbum em que participou. O poético e prodigioso Islands... Na ficha técnica a referência: "Peter Sinfield: Words, Sounds & Visions"
Formentera Lady - a faixa de abertura de Islands
Trabalhar com Robert Fripp não deve ser nada fácil - reconheça-se o génio, mas o feitio (ao que se lê e ouve!)... Fripp terá afastado Sinfield do grupo e os King Crimson entraram numa fase completamente diferente.
Trabalhou posteriormente com muitos outros grupos e músicos, como os iniciais Roxy Music e os Emerson, Lake & Palmer, incluindo, curiosamente, muitos músicos que foram integrando (e desintegrando-se d)os King Crimson (Greg Lake, David Cross, John Wetton, Ian McDonald’s).
«O soldado pediu-me um cigarro. Eu não fumava, nunca fumei. Por segundos, fiquei a pensar como poderia compensar aquele rapaz, ali, em cima daquele carro, a lutar por nós. Estava ali a dar-me uma coisa boa e eu sem nada para lhe dar. Sem pensar, tirei um cravo do ramo que levava e ofereci-lho.
Nunca me passou pela cabeça que, por causa disso, o 25 de Abril viesse a ser conhecido mundialmente como a Revolução dos Cravos. Nunca se conseguiu encontrar aquele rapaz. Sempre que penso naquele dia choro. Tinha 40 anos, cuidava da minha mãe e da minha filha. Morava no Chiado e adorava a cidade onde nasci. E ainda adoro. Tenho 90 anos, ouço e vejo muito mal. Comovo-me muito a falar deste dia. Os médicos dizem que me faz mal. Vou pedir à minha neta que lhe conte o resto da história. Viva o 25 de Abril! Se o deixarmos morrer teremos de fazer outro.»
Celeste Caeiro
«Havia sempre nos livros da escola a referência à Revolução dos Cravos. A cada ano, mal recebia os manuais, ia de imediato à procura dessas páginas. Sabia que as professoras, nem que fosse uma vez por ano, haveriam de falar no assunto e que eu, mais uma vez, ficaria em silêncio. Nunca disse na escola que foi a minha avó que deu o nome à revolução. Apesar de todo o orgulho que tenho. Acredito mesmo que aquele gesto foi obra do destino.
A minha avó Celeste é filha de uma espanhola de Badajoz e de pai desconhecido. Com dois irmãos, mais velhos, cresceu na Casa Pia. À minha bisavó custou-lhe até muito deixar ali os filhos, que visitava regularmente. Nunca os abandonou.
A minha avó era a menina favorita da diretora do colégio. Fez o Curso de Enfermagem, mas como tinha problemas pulmonares não pôde exercer. Porém, a menina Celeste foi sempre independente. Nunca se casou com o meu avô. Quando o meu avô se portou mal, tinha a minha mãe 3 anos, separaram-se. Para consolar a minha avó, quis oferecer-lhe um fio de ouro e mais coisas. Mas a minha avó não quis saber dos presentes, nem dele. Sozinha, continuou a cuidar da filha e da mãe.
Em abril de 1974, trabalhava num restaurante. O restaurante fazia um ano no dia 25 de abril. Os cravos eram para dar aos clientes. Com o restaurante fechado, as empregadas ficaram com as flores. Dá-se então o feliz episódio, no início da Rua do Carmo. Um fotógrafo (Carlos Gil) assistiu à cena. Publicou a fotografia. No dia seguinte a minha avó foi trabalhar. Já os colegas tinham ligado para a Crónica Feminina, que logo a foi entrevistar.
Este ano, esse episódio será reconstituído. A minha avó gostava muito que uma placa assinalasse o local. Algo a dizer que foi ali que nasceu o nome Revolução dos Cravos. Ou até ter ali uma pequena estátua.
Falar do 25 de Abril emociona-a muito. Nestes períodos, fica melancólica. Acreditamos que o AVC que sofreu pouco depois das comemorações dos 25 anos de Abril terá tido a ver com as emoções que sentiu. No entanto, tem sido muito ignorada por todos.
Não há fotografias da minha avó com 40 anos. No incêndio do Chiado, perdeu a casa e todos os pertences. As fotografias arderam. Foram-se todas as recordações. Vive há anos num prédio a cair aos bocados, perto da Avenida da Liberdade. Podia viver com a filha e a neta em Alcobaça. Mas à minha avó, alfacinha de gema, ninguém a consegue tirar de Lisboa.
A minha avó, que continua a prestar muita atenção às notícias, está muito preocupada com o país. Na noite das últimas eleições, ao contrário do que é hábito, foi deitar-se cedo. “Não estou para ver esta miséria.” A mim ensinou-me desde miúda que o valor mais importante é o da liberdade."
Carolina (23 anos, mestre em Direito, quer ser magistrada)
Depoimento recolhido por Alexandra Tavares-Teles, Diário de Notícias, 23/04/2024
1958 (ano em que nasci), Maria de Fátima Bravo (minha vizinha nos meus primeiros anos de vida) e o futebol... Canção dos Manos Alexandre, do filme O Tarzan do 5.º esquerdo.
O que se espera que façam "140 técnicos superiores para apoio administrativo às direções de turma"?
Calculando o número total de turmas das centenas de escolas, a diversidade de tarefas/problemas, a variedade de documentos existentes nas várias escolas e/ou agrupamentos... É para rir!
Não há professores e há "técnicos superiores" para apoio? Quem são estes (potenciais) técnicos?
Ainda os professores vão ajudar à formação destes técnicos...
Pai das gémeas Mortágua (Joana e Mariana), dirigentes do Bloco de Esquerda, Camilo Mortágua destacou-se por ter participado em acções arrojadas contra o Estado Novo.
A primeira foi em Janeiro de 1961, no assalto ao paquete Santa Maria - a Operação Dulcineia, organizada pela Direção Revolucionária Ibérica de Libertação (DRIL) e comandada pelo Capitão Henrique Galvão. Do grupo faziam parte 11 portugueses, 11 espanhóis e 2 venezuelanos. Durante quase duas semanas o navio, rebaptizado com o nome de Santa Liberdade, navegou no oceano Atlântico sem rumo definido, fazendo campanha contra as ditaduras ibéricas.
Esta ação, iniciada a 22 de Janeiro, terminou no início de Fevereiro, quando o paquete entrou no porto do Recife (Brasil) e foi ocupado por fuzileiros navais.
Ainda em 1961, a 10 de Novembro, participou no desvio de um avião da TAP que fazia a ligação Casablanca - Lisboa, com o objectivo de sobrevoar a capital e lançar folhetos de denúncia do regime - Operação Vagô, executada por 5 homens e uma mulher, chefiados por Hermínio da Palma Inácio. Mais de 100 mil panfletos da Frente Antitotalitária dos Portugueses Livres no Estrangeiro, denunciando a "farsa fraudulenta" das eleições para a Assembleia Nacional que iam decorrer 2 dias depois, foram lançados sobre Lisboa, Setúbal,
Barreiro, Beja e Faro. O avião regressou a Marrocos (e o Brasil autorizaria o asilo político).
A 17 de Maio de 1967, com Palma Inácio, entre outros, participou no assalto à filial do Banco de Portugal
na Figueira da Foz, com o objectivo de financiar novas acções contra a ditadura. Os assaltantes fugiram numa avioneta estacionada no aeródromo de Cernache, para o Algarve (aterraram numa herdade) e, depois, já por terra, seguiram em direcção a Paris.
A Operação Mondego rendeu cerca de 30 mil contos, mas... 80% das notas desviadas foram anuladas pelo
Banco de Portugal, por não terem ainda entrado em circulação. Em 30 de Junho de 1967, o Banco de Portugal publicou um aviso
no qual referia: "(…) as notas roubadas não foram postas em circulação pelo que
não possuem curso legal e poder liberatório, nem são susceptíveis, a qualquer
tempo, de reembolso ou troca (...)".
Condenado à revelia a 20 anos de prisão por participar no assalto, Camilo Mortágua já estava em Paris quando soube da pena. Depois do 25 de Abril foi amnistiado por ter sido considerado que se tratava de um crime político.
Na sequência desta acção, a 19 de Junho, foi fundada a Liga de Unidade e
Acção Revolucionária (LUAR), em Paris (onde estava a maioria dos assaltantes da Figueira da Foz). Entre os seus dirigentes, para além de Camilo Mortágua, contaram-se Palma Inácio, Emídio
Guerreiro, José Augusto Seabra e, mais tarde, Fernando Pereira Marques.
Curiosamente, só foi preso... depois do 25 de Abril de 1974 (ouvi a referência pelo próprio, numa sessão filmada no Museu do Aljube), não sei exactamente em que circunstâncias.
Foi condecorado por Jorge Sampaio com o grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade, em 2005.
Escreveu Andanças para a Liberdade, 2 volumes, em que partilha as suas memórias de resistência e luta
contra a ditadura.