Terá sido a sua mãe a contar-lhe? "Filho, no dia em que fizeste um aninho..."
A hipótese parte da interpretação de um soneto em que o poeta se refere a esse fenómeno astronómico - ver Público.
Redescoberta, porque o que parece ser uma novidade já foi objecto de estudo há décadas. Em 1940, a Empresa Nacional de Publicidade editou, em Lisboa, As Memórias Astrológicas de Camões e Nascimento do Poeta em 23 de Janeiro de 1524, da autoria de Mário Saa.
Mesmo com tanto tempo de antecedência de conhecimento, sendo meio milénio uma data tão redonda e sendo Camões unanimemente exaltado como o egrégio poeta da Pátria, de comemorações condignas estamos falados.
«Este
país te mata lentamente», escreveu Sophia de Mello Breyner em Camões
e a Tença.
Já Jorge de Sena tem o fabuloso poema Camões dirige-se aos seus contemporâneos.
Já Jorge de Sena tem o fabuloso poema Camões dirige-se aos seus contemporâneos.
Podereis
roubar-me tudo:
as ideias, as
palavras, as imagens,
e também as
metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e
a primazia
nas dores
sofridas de uma língua nova,
no
entendimento de outros, na coragem
de combater,
julgar, de penetrar
em recessos de
amor para que sois castrados.
E podereis
depois não me citar,
suprimir-me,
ignorar-me, aclamar até
outros ladrões
mais felizes.
Não importa
nada: que o castigo
será terrível.
Não só quando
vossos netos
não souberem já quem sois
terão de me
saber melhor ainda
do que fingis
que não sabeis,
como tudo,
tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para
o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu,
contado como meu,
até mesmo
aquele pouco e miserável
que, só por
vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis,
mas nada: nem os ossos,
que um vosso
esqueleto há-de ser buscado,
para passar
por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós,
de joelhos, porem flores no túmulo.
E o próprio Camões, na sua grande experiência de vida, lamentava:
O
favor com que mais se acende o engenho,
Não no dá a Pátria, não, que está
metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Duma austera, apagada e vil
tristeza.
Pois parece-me que é isto!...
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