Aos 10 meses, já Eduardo Lourenço tinha ar de pensador
«S. Pedro do Rio Seco é uma aldeia, do distrito da Guarda, entre outras aldeias que estão ali ao lado uma das outras, a cinco quilómetros. Não há praticamente comunicação entre elas, porque realmente não têm nada que trocar entre si. Naquele tempo eram economias de pura subsistência.
(...) E foi nesse mundo que eu vivi uma infância relativamente protegida e aberta também. Aquilo era o último estádio da civilização que já era uma civilização capitalista na sua franja mais rudimentar. Praticamente quase só se vivia do que se produzia na aldeia e não havia trocas. Apenas uma pequena troca que permitia às pessoas comprarem qualquer coisa, vestirem-se, calçarem-se, etc. Muitos daqueles lavradores desse tempo não mandavam os filhos à escola porque não estava na perspectiva deles. Também não teriam dinheiro. Ninguém pensava mandá-los para a Guarda para fazer o Liceu, o quinto ano, e muito menos para a Universidade.
(...) Era um mundo muito arcaico que eu chamo Piccolo Mondo Antico, título de uma novela célebre de Antonio Fogazzaro, que é um título que eu acho admirável. Se algum dia escrevesse memórias sobre S. Pedro, teria um título parecido. Um pequeno mundo morto, ou coisa parecida.»
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