"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Pink Floyd no cinema - Zabriskie Point

O reencontro quase casual com Burning bridges fez-me pensar na relação (da música) dos Pink Floyd com o cinema. E essa relação foi forte entre 1968 e 1971. Não me refiro a documentários, ou a produções com base nos discos ou nos concertos, mas a filmes que tiveram nas suas bandas sonoras (integralmente ou não) músicas compostas para o efeito pelos Pink Floyd, numa fase mais psicadélica do grupo (ou assim reconhecida).
Em 1968, The Committee, de Peter Sykes. Ignoro o filme (só conheço a referência), desconheço o realizador e, inclusive, quais as músicas da banda sonora.
Em 1969, More, de Barbet Schroeder, conhecido, basicamente, pelo disco com o mesmo nome e Zabriskie Point (O deserto de almas), de Michelangelo Antonioni.
Em 1971, voltam a compor para Schroeder: o filme La Vallée, com as músicas no disco intitulado Obscured by clouds.

Se recordo vagamente La Vallée, e a memória é afectiva, é impossível esquecer o filme de Antonioni (e está ali à minha disposição, no armário, em DVD).
Antonioni estava nos EUA em 1968, época das revoltas estudantis em Paris mas também nos EUA, onde houve confrontos violentos com a polícia. Zabriskie Point foi realizado em 1969 e Antonioni testemunha esses confrontos, transporta-os para a tela, colocando-se do lado dos estudantes, contra o establishment americano - o capital e as forças militares ou policiais.
Há cenas inesquecíveis, como os casais que aparecem "do nada" nos terrenos desérticos para rolarem nas colinas e fazerem amor ou a explosão da residência que, repetidamente, vista a diferentes distâncias e de vários ângulos, faz voar, em câmara lenta, restos de objectos. Esta explosão simbólica - acontece no pensamento de uma personagem - encerra o filme. A contemplação do Apocalipse.
Há quem diga que, sendo um filme anti-americano, é o filme mais americano de do realizador.

Parece que houve desentendimentos entre Antonioni e os Pink Floyd quanto às músicas produzidas e apresentadas no filme - terão sobrado músicas, houve outros artistas a participar na banda sonora... Quando se juntam personalidades com a força criativa que aquelas patenteavam, os choques serão naturais.
Mas isso já é história. Ficou o filme, ficaram as músicas (associadas ao filme e neste ou naquele disco). Ficou a colaboração de um génio do cinema com um dos maiores grupos musicais de sempre.


A música é uma versão de Careful with that axe, Eugene.

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