O exemplo raro do centenário de nascimento de um escritor ser lembrado num pacote de açúcar |
Leitura obrigatória no Curso Complementar dos Liceus pós-25 de Abril, assim conheci os trabalhadores sazonais que das Beiras iam para a lezíria trabalhar na ceifa do arroz e que são o centro de Gaibéus.
«Propus-me com Gaibéus criar um romance anti-assunto, ou, melhor, anti-história, sem personagens principais que só pedissem comparsaria às outras.» (Breve memória para os que têm menos de 40 anos ou para quantos já esqueceram o que aconteceu em 1939, escreveu Redol em 1965)
Capa dos "meus" Gaibéus (com marcas do tempo), edição de 1976, com letra muito miudinha |
Mas a sua obra é ainda mais variada: nela cabem textos jornalísticos, um estudo de carácter etnográfico (Glória, uma aldeia do Ribatejo), compilações de textos de tradição oral, contos, novelas, textos dramáticos (Forja será o mais conhecido) e os romances que o distinguiram como escritor, nomeadamente obras como o citado Gaibéus, Avieiros (1942), Fanga (1943), uma trilogia centrada no Douro e conhecida por “ciclo Port Wine” (1949-1953) e Barranco de cegos (1961).
Numa vida vivida, maioritariamente, em ditadura, consciente do grave estado de saúde em que se encontrava, escrevia a José Cardoso Pires poucos dias antes da sua morte:
«Um gajo tem sempre mais alguma coisa que gostava de fazer ou de dizer. Eu serei um dos que morre na incomunicabilidade com o seu tempo. Nunca me deixaram dizer-lhe o que de mais autêntico tinha para ele.»
O Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, tem em curso um conjunto de actividades evocativas do centenário do nascimento de Alves Redol.
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