«Dom Francisco de Quevedo, cuja extraordinária pessoa já disse estar na moda nesses dias, era parado a cada instante por pessoas que o cumprimentavam com deferência ou solicitavam a sua ajuda nalguma pretensão. Aquele pedia benefícios para um sobrinho, o outro para um genro, este para um filho ou para um cunhado. Ninguém se oferecia para trabalhar em troca, ninguém se comprometia a nada. Limitavam-se a andar em corso, reivindicando a mercê como um direito, fazendo-se todos de sangue dos godos atrás do sonho que cada espanhol acariciou sempre: viver sem vergar a espinha, não pagar impostos e pavonear-se com espada ao cinto e uma cruz bordada ao peito. E para que vossas mercês tenham uma ideia até onde chegávamos em matérias de pretensões e solicitações, direi que nem os santos das igrejas se livraram de impertinências, pois até nas mãos das suas imagens se colocavam memoriais pedindo esta ou aquela graça terrena, como se de funcionários de palácio se tratassem. De modo que na igreja do solicitadíssimo Santo António de Pádua chegou a ser colocado um cartaz sob o santo dizendo: "Dirijam-se a São Caetano, que eu já não despacho."»
Arturo Pérez-Reverte, O cavalheiro do gibão amarelo
O que eu tenho aprendido com Pérez-Reverte sobre a Espanha de Filipe IV e como Portugal se parece com essa Espanha.
E nestes dias pós-eleitorais, adivinha-se o mesmo cenário de solicitações e pretensões a São Caetano... à Lapa. É que São José já não despacha!
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