«Quem mata de longe ignora tudo sobre o acto de matar. Quem mata de longe nenhuma lição extrai da vida nem da morte: nem arrisca, nem mancha as mãos de sangue, nem ouve a respiração do adversário, nem lê o pavor, a coragem ou a indiferença nos seus olhos. Quem mata de longe não testa o seu braço, o seu coração ou a sua consciência, nem cria fantasmas que mais tarde aparecerão de noite, pontuais ao encontro, durante o resto da sua vida. Quem mata de longe é um velhaco que encarrega outros do trabalho sujo e terrível que lhe é próprio. Quem mata de longe é pior que os outros homens, porque desconhece a cólera, o ódio, a vingança, a paixão terrível da carne e do sangue em contacto com o aço; mas também ignora a piedade e o remorso. Por isso, quem mata de longe não sabe o que perde.»
Arturo Pérez-Reverte, O Sol de Breda
Esta foi a verdade terrível que o narrador das aventuras do Capitão Alatriste descobriu, em situação de guerra, franqueando a estranha linha de sombra que os homens lúcidos mais tarde ou mais cedo acabam por atravessar: a consciência do mundo - a perda da inocência.
Esta é a verdade que não é difícil de descobrir sobre quem nos tem governado e quem nos quer governar. Quem governa de longe... desconhece o que governa. Podem conhecer os números, mas não conhecem as realidades. Portanto, não sabem agir sobre elas.
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