"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

terça-feira, 28 de junho de 2011

Portugal muito profundo

Tinha lido dos "poços de paredes quase verticais que fecham a aldeia da Pena", o que deixava várias dúvidas no meu entendimento.
Perdi as dúvidas quando vi, do cimo da serra de S. Macário, as casinhas pretas xisto da aldeia... lá no fundo do poço, a centenas de metros do olhar.


A estrada, cheia de buracos e a quebrar-se, literalmente, pelas ravinas, até determinado ponto da viagem, já estivera à beira de pôr em causa a descoberta da aldeia e o almoço pensado para a Adega Típica - vá-se lá saber que mecanismos mentais nos fazem adivinhar os sítios onde devemos abancar! É algo do domínio do sagrado, mesmo que diabólico, nestes cafundós onde o diabo perdeu a mãe e não a voltou a encontrar.

E havia troços com buracos bem maiores
Nunca me tinha custado tanto conduzir o carro. Receei alguns dos buracos, numa estrada deserta, que teimava em perseguir em equilíbrio instável a crista da montanha.*


Depois foi a aproximação demasiado vertical à Pena, com sucessivos cotovelos a descer até ao fundo do poço.

Mais fácil foi encontrar a Adega e, ainda mais, comer a broa, o queijo e o presunto que nos puseram na frente, numa mesa corrida debaixo de uma latada.




Escolheram-nos um cabrito grelhado - e nestes locais o melhor, regra geral, é concordarmos com o que nos escolhem - acompanhado de arroz de feijão e salada de alface. Mais tinto, medronho, licor de amora muito roxo...



Estávamos tão bem (apesar do calor)... Ninguém se queria lembrar do caminho de volta, agora a subir!...

Aldeia da Pena: 8 habitantes, incluindo o casal dos proprietários da Adega, as duas filhas pequenas e os dois avós.


Surpresa: o caminho para cima pareceu-nos muito fácil - Red Wine deu-nos asas? - mas já não insisti em que fôssemos a Covas do Rio ou às Covas do Monte: é que também ficam em "poços". Para "poço" bastou a Pena.

Para os interessados, aqui fica o cartão (é condição que saibam conduzir).



* O Jaime que me desculpe. Este parágrafo foi só para impressionar os meus amigos que pensam que não tenho carta de condução.

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