Publicado pela primeira vez em 1958, o Diário é a narrativa das suas experiências enquanto estagiário na Escola Comercial Veiga Beirão (Lisboa).
Li e reli o Diário no início do meu trabalho de professor (1983). Li e aprendi muito. E vivi muito (acho eu) com a experiência, sobretudo, do meu 2.º 20 e, mais tarde, do 5.º e 6.º 3 (génese do 9.º 8) – eles sabem quem são, se aqui vierem...
João Reis Ribeiro, organizador desta edição das obras de Sebastião da Gama, em entrevista ao JL/Educação, a propósito do Diário, diz que “o jovem poeta (...) está ainda hoje cheio de modernidade”.
A verdade é que a considerarmos assim, a escola de hoje está longe dessa modernidade. E nem falo da realidade cultural dos alunos, falo da realidade cultural do Ministério da Educação (e dos governos que nos têm governado, agora restringidos ao “economiquês”).
Hoje, duvido que Sebastião da Gama pudesse iniciar um diário sobre o acto de ensinar-aprender/viver da mesma forma que o fez:
“Vão ser as aulas de Português o que eu gosto que elas sejam: um pretexto para estar e conviver com os rapazes, alegremente e sinceramente.”
Sebastião da Gama já teria que ter analisado o PEA, o PCA e o PAA, redigido os seus objectivos individuais para o biénio em que fosse ser avaliado (tendo em conta as dimensões e, por referência, os respectivos domínios), já teria que ter preenchido quadros/grelhas com objectivos, competências, conteúdos, estratégias e recursos, já teria que ter analisado Planos de Recuperação e Planos de Acompanhamento, ter feito as adaptações curriculares ajustadas aos alunos com necessidades educativas especiais, ter definido os critérios de avaliação das disciplinas leccionadas, definido a percentagem de cada item, preparado a grelha para a aplicação dos critérios de avaliação, elaborado os PCTs, preparado os materiais para as aulas de substituição, ter definido o seu horário (integrando as horas da componente escola, as horas dos TOA, as reuniões de Grupo/Departamento...)...
Só relativamente à ADD (Avaliação do Desempenho Docente), ele deveria conhecer a legislação aplicável:
Lei nº 66-B/2007, de 28 de Dezembro
Despacho nº 16034/2010
Decreto-Lei nº 270/2009, de 30 de Setembro
Recomendações do CCAP
Decreto-Lei nº 75/2010, de 23 de Junho
Decreto Regulamentar nº 2/2010, de 23 de Junho
Despacho nº 4913-B/2010, de 15 de Março
Despacho nº 7886/2010, de 22 de Abril
Despacho nº 14420/2010, de 7 de Setembro
Despacho Normativo nº 24/2010, de 16 de Setembro
Portaria nº 926/2010, de 20 de Setembro
Despacho nº 5464/2011, de 22 de Março
Despacho nº 5465/2011, de 22 de Março
Deveria, também, conhecer ou ter em consideração, para bem “usar” nos modelos adequados e nos prazos estipulados:
Calendarização da ADD
Requerimento de observação de aulas
Modelo de Convocatória
Modelo de plano de aula a observar
Grelha de observação de aulas
Modelo de relatório descritivo de observação de aulas
Modelos Excel para ponderação da ADD:
Ficha do relator para avaliação dos docentes
Ficha do coordenador para avaliação do relator
Ficha do director para avaliação do coordenador
Modelo de questionário aos docentes
Requerimento para entrevista individual
Acta de registo de entrevista individual
Guião de entrevista individual
Modelo de relatório de auto-avaliação
Modelo de relatório de evidências
Modelo de acta júri de avaliação
Espero não ter ferido susceptibilidades, pois é possível que me tenha esquecido de algo.
Será que nessa altura, Sebastião da Gama, apesar do optimismo que caracteriza o seu Diário, ainda o escreveria como escreveu, com a mesma perspectiva poética, a perspectiva poética que punha no acto educativo?
Penso que não teríamos o Diário.
Jacinto do Prado Coelho, na mesma linha, afirmava que «Não há verdadeira educação que não seja poética.»
Pois... mas a modernidade oficial hoje é outra. E a crise tem as costas largas...
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