Esta Primavera está ao nível da Primavera Marcelista - tão frustrante uma como a outra.
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)
domingo, 31 de março de 2024
sábado, 30 de março de 2024
Viva o novo Governo! Vivam as Ordens! Viva a criatividade jornalística!
sexta-feira, 29 de março de 2024
Cheirava a revolução no Coliseu
Em Março de 1974 a direcção da Casa da Imprensa organizou o I Encontro da Canção Portuguesa, no Coliseu dos Recreios de Lisboa. Serviria como cerimónia de entrega dos Prémios da Imprensa de 1973 nas categorias de rádio, música ligeira, música erudita, televisão, bailado e literatura.
O Governo tentou impedir o espectáculo, mas este veio a realizar-se no dia 29 de Março de 1974, depois de conversas com instituições do regime, negociações, avanços e recuos, cedências...
«Nós passámos cerca de mês e meio a organizar o espectáculo porque vinham proibições, autorizações, proibições. Na própria noite do espectáculo, fomos autorizados a actuar, pelas 10h 20m [da noite], com as letras cortadas. E estão seis ou sete mil pessoas à espera. Na rua, a GNR e a PIDE estavam em tudo quanto era sítio para impedir o espectáculo. Este acaba por se realizar, e o Fanhais é o único que fica impedido de actuar, sentado na assistência.» (José Jorge Letria)
Às 22 horas, ainda Caetano de Carvalho, Sub-secretário de Estado da Informação e Turismo, foi ao Coliseu negociar o cancelamento do espectáculo em nome do bom senso.
Pela primeira vez juntavam-se em palco José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Carlos Pardes, Manuel Freire, Fausto, Vitorino, Ary dos Santos, Carlos Alberto Moniz, Maria do Amparo, Nuno Gomes dos Santos, José Jorge Letria, Fernando Tordo, José Barata Moura, entre outros. Muitas foram as canções censuradas e muitos cortes foram feitos às canções que podiam ser cantadas.
Os músicos tiveram a coragem de fazer várias afirmações que denunciavam a censura. Adriano foi directo: «Não será necessário dizer-vos que aquilo que vamos cantar não foi exactamente escolhido por nós, (...). Nós todos gostávamos de lembrar, (...) os nossos companheiros que neste momento estão impedidos de estar aqui connosco. Falamos de muitos, mas podemos citar o José Mário Branco, o Sérgio Godinho, o Francisco Fanhais, o Luís Cília, enfim, todos os outros milhões de portugueses que (...) estão fora da nossa terra, seja na Europa seja noutros continentes, como em África, por circunstâncias alheias à sua vontade directa.»
José Afonso explicou que «os habituais impedimentos que surgem sempre nestas ocasiões, que aliás são muito raras, obrigam-me a cantar uma canção que pelo menos poderá ser cantada por todos nós, que é a Grândola. (...) A canção que resta é Milho Verde. Havia outras canções, mas não existem instrumentos para elas... Rigorosamente, as duas que podem ser cantadas são estas duas.»
Grândola, Vila Morena, aos olhos dos censores, não tinha parecido subversiva.
«Filas e filas da plateia, das bancadas, dos camarotes, das galerias eram massas de gente, de braços dados, como que a participar de um fantástico cerimonial.» (Capital, 30 de Março de 1974)
O Estado Novo estava caduco e aquele foi um "momento mágico" que parecia o presságio de um novo tempo.
«Foi o principal momento em que a canção política se apresentou perante uma multidão, como um espectáculo de massas; foi um grande contributo dos músicos para, naquela altura, confrontar o regime com a sua fragilidade.» (José Jorge Letria)
Este espectáculo foi gravado por dois técnicos da Rádio Renascença e transmitido no programa Limite. As bobines foram oferecidas, há alguns anos, ao arquivo sonoro da RTP, estando disponível na RTP Play. Também se encontra no YouTube.
O programa Limite seria o escolhido para a passagem de Grândola como senha do 25 de Abril, por Carlos Albino, um dos espectadores do I Encontro da Canção Portuguesa.
terça-feira, 26 de março de 2024
Favas contadas...
Ventura, o "Jactante" (80 deputados da AD + 8 da IL + 50 do Chega = 89 votos) |
segunda-feira, 25 de março de 2024
Maurizio Pollini (1942 - 2024)
Morreu Maurizio Pollini, um dos grandes pianistas do nosso tempo. Intérprete, sobretudo, dos românticos - Schubert, Schumann, Chopin, Brahms - mas também de Beethoven.
«A minha aproximação à música é sempre global, no sentido em que todas as componentes contribuem para o todo. A arquitectura de uma peça é até um dos aspectos mais imediatos, mais óbvios, facilmente compreensível. Há muitos outros muito mais complexos de trabalhar, por exemplo, o carácter a dar a cada peça ou a cada secção. O que está para além das notas, das indicações da partitura, da estrutura, esse sim é o verdadeiro desafio.»
Steve Harley & Cockney Rebel - Sebastian
Sebastian foi, para mim, o one-hit wonder dos Cockney Rebel, com Steve Harley como vocalista.
Finalmente, qualquer coisinha!...
O que faz um Cardeal na lista do Papa?
O cardeal e bispo de Setúbal, Américo Aguiar, foi indicado como primeiro membro da candidatura de Pinto da Costa ao Conselho Superior do Futebol Clube do Porto.
Segundo Pinto da Costa, foi o cardeal Américo Aguiar que se ofereceu para pertencer à lista candidata.
domingo, 24 de março de 2024
Porque nunca é tarde para realizar um sonho
«It’s been my dream club all my life – even when I had England, I also supported Liverpool, but I couldn’t say it at that time.
“It’s a good finish, to finish with Liverpool, it can’t be much better than that.»
SOS Quinta dos Ingleses
Para celebrar o Dia da Árvore no interior da Quinta... parece que começaram as obras para pôr fim à Quinta.
quinta-feira, 21 de março de 2024
Os lagartos ao sol
Expõe ao sol a perna escalavrada,
no Jardim do Príncipe Real,
uma velha inglesa. Não há nada
tão bonito (pra mim), so natural.
E conversamos: «Helioterapia
medicina barata em Portugal.»
Accionista do sol, ajudo à missa:
«But, não muito, que senão faz mal.»
Gozosos, eu e a velha, ali ficamos
à mercê de meninos e marçanos.
Ela, a inglesa, de perninha à vela;
e eu, o português, à perna dela.
Talvez que, se Briol nos conservara,
alguém um dia nos ajardinara.
Alexandre O’Neill, Poesias Completas & Dispersos
Dia Mundial da Poesia
quarta-feira, 20 de março de 2024
Agora
segunda-feira, 18 de março de 2024
domingo, 17 de março de 2024
Parabéns, Graça Morais!
Uns partem, outros, felizmente, continuam a estar bem vivos e a fazer-nos viver.
sábado, 16 de março de 2024
O 16 de Março de 1974
«O Golpe das Caldas de 16 de Março de 1974 é um importante acontecimento da história da democracia portuguesa, de definição ambígua, paradoxal e anacrónica.» (Dicionário de História de Portugal - O 25 de Abril)
Não é fácil contar a história da tentativa de golpe contra o regime. O 16 de Março foi uma acção mal planeada e que se precipitou no meio de um "encadeamento de equívocos".
É preciso lembrar o clima geral de contestação à demissão dos generais Spínola e Costa Gomes. Esse ambiente de instabilidade e insatisfação verificava-se, nomeadamente, nas Caldas da Rainha (Regimento de Infantaria n.º 5), no Regimento de Infantaria n.º 14 de Viseu e no Centro de Instruções de Operações Especiais, de Lamego.
Houve oficiais que manifestaram vontade em trazerem as suas unidades para a rua e tomarem uma posição de força. Houve muitos contactos estabelecidos, nomeadamente com elementos do recém-formado MFA, mas verificou-se uma enorme falta de coordenação e não se garantiram objectivamente os apoios necessários. Havia quem pensasse que bastaria um quartel movimentar-se que outros se lhe juntariam - um "abanão" e o regime viria abaixo.
Spínola, informado do clima reinante e das intenções de oficiais que lhe eram próximos, tinha considerado que "este não seria o momento adequado para desencadear qualquer acção", até porque o Governo estaria em situação de alerta.
O poder, em Lisboa, já se tinha apercebido de movimentações em alguns quartéis e tinha declarado prevenção rigorosa nas unidades militares.
Quando na noite de 15, nas Caldas se decidiu avançar com uma coluna militar, o novo comandante (que tinha tomado posse nesse dia) ficou detido no quartel, mas com acesso ao telefone do seu gabinete, pelo que pôde informar Lisboa do que se passava.
«Quando, às 04h00 do dia 16 de Março, a coluna atravessa os portões do quartel em direcção à capital, tendo no comando o capitão Armando Ramos, já o Governo está em alerta máximo e preparado para enfrentar os militares revoltosos. A coluna que sai do quartel é formada por 15 viaturas, não tendo sido possível determinar o número exacto de militares envolvidos na revolta, mas seriam à volta de 180 homens.» (José Matos e Zélia Oliveira, Rumo à Revolução)
Em Lisboa, as forças fiéis ao Governo esperavam os revoltosos nas entradas da cidade, nomeadamente na zona oriental (Portela, Moscavide e Sacavém).
A poucos quilómetros da capital a coluna foi informada pelos majores Manuel Monge e Casanova Ferreira de que mais nenhuma força militar saíra. Perante este cenário, foi decidido que a coluna invertesse a sua marcha e voltasse ao quartel. Os dois majores também acompanharam a coluna pretendendo resistir.
Mas depois do seu regresso, o quartel foi cercado pelas forças fiéis ao regime provenientes de Leiria e de Santarém, e os revoltosos, após várias horas de negociações, acabariam por se render e seguir presos. Destes, o único que pertencia às estruturas do MFA era o major Manuel Monge. Outros elementos do regimento foram transferidos para outras unidades militares. Chegava assim ao fim o levantamento que ficou conhecido como “levantamento” ou “intentona das Caldas”.
Durante esta insurreição, Marcelo Caetano, informado da saída das forças das Caldas, já de madrugada, dirigiu-se para o Quartel-general da 1.ª Região Aérea, no Monsanto, local onde devia procurar refúgio em caso de emergência. O Presidente da República juntar-se-lhe-ia poucas horas mais tarde.
O Almirante Américo Tomás escreveria mais tarde que «Só me pareceu verdadeiramente diligente, operante e determinado o Ministro do Exército. No Presidente do Conselho notei um alheamento, que me pareceu praticamente total e que me chocou deveras: em suma e em conclusão, não regressei a casa bem impressionado, nem optimista. (...) confrangeu-me a passividade e o alheamento quase geral, que não me pareceu bom augúrio.»
A hierarquia militar permaneceu imperturbável, procedendo apenas a algumas transferências. Parece ter sido criado um sentimento de falsa segurança e as forças do regime terão ficado convencidos que o assunto estava sanado.
«O 16 de Março foi fundamental para moldar a forma que assumiu a intervenção militar em 25 de Abril de 1974.» (Aniceto Afonso)
O golpe das Caldas seria referido por Marcelo Caetano na sua última Conversas em Família, no dia 28 de Março.
«Recomendação: quando planearem um novo movimento militar nunca o façam num sábado. Podemos dizer que é uma lição da História.» (Aniceto Afonso)
sexta-feira, 15 de março de 2024
Tomada de posse do novo Governo de Marcelo
(Na actual conjuntura, o título pode enganar. Foi há 50 anos)
No início de 1974, Marcelo Caetano teria um plano de remodelação do sector económico do Governo, mas os acontecimentos em torno do lançamento do livro do General Spínola adiaram esse intento.
Mas logo após a sessão com a Brigada do Reumático e a demissão de Spínola e Costa Gomes, Marcelo Caetano, no dia 15 de Março de 1974, avança na nomeação de novos ministros, secretários e subsecretários de Estado. O último Governo tinha 15 ministros, 12 secretários de Estado e 8 subsecretários.
As Finanças e a Economia ficavam em ministérios separados, sendo que, na área económica, passariam a existir os ministérios da Agricultura e Comércio e o da Indústria e Energia.
O Presidente da República parece não ter ficado muito agradado, nem quanto à estrutura nem quanto a alguns dos nomes escolhidos (ou dos que saíram).
«Não sei mesmo se alguma vez a nação enfrentou simultaneamente tantos adversários por inimizade dos homens, outros por adversidade das circunstâncias. Mas perante a gravidade e a multiplicidade das lutas a sustentar não podemos cruzar os braços. A todo o desafio temos de dar resposta. Estamos aqui para combater. A vitória pode vir ou não se ela não depender só de nós. Mas em todos os casos resta-nos a consciência do dever cumprido. E a verdade é que tenho fé na nossa capacidade de vencer os fados adversos.»
Assim (não) se vê a força do PC!
quinta-feira, 14 de março de 2024
Caras novas e... ideias (já agora!)
Brigada do Reumático
segunda-feira, 11 de março de 2024
Por breves segundos, o PSD perdeu
Houve aquele momento, aqueles breves segundos, na TVI, em que o PSD foi confundido com o PS e chegou a perder as eleições.
Também é verdade que perdia... para a coligação de que fazia parte.
O apagamento da História
Já nasceu o Menino
Não me parece capaz de grandes (nem de pequenos!) milagres.
Se António Costa fosse o líder do PS, este partido tinha voltado a ganhar facilmente as eleições.
domingo, 10 de março de 2024
As eleições legislativas elegem os deputados
O título é uma lapalissade.
Por que raio os noticiaristas não aprendem que as eleições legislativas servem para eleger os deputados à Assembleia da República?
Insistem que nestas eleições se elege o Governo.
No final do dia de hoje, contados os votos e conhecidos os deputados eleitos, perguntem-lhes que Governo foi eleito!
sábado, 9 de março de 2024
sexta-feira, 8 de março de 2024
Dr. Coisinho
Pietra (1954 - 2024)
A sua transferência para o Benfica, onde eu ainda era sócio júnior, trouxe-me uma grande satisfação - era um dos meus ídolos. Para além de lateral, também podia jogar a trinco e lembro-me que Sven-Göran Eriksson o chegou a colocar a ponta de lança durante um jogo "de apertos" (e marcou 2 golos!).
Será que eu estava naquelas bancadas? |
Depois de terminar a carreira de jogador, em 1987, foi treinador em escalões secundários, tendo regressado ao Benfica para desempenhar funções como analista-observador e, posteriormente, como treinador-adjunto na época em que Jorge Jesus chegou ao comando técnico dos encarnados (2009/10).
Permaneceu como adjunto das várias equipas técnicas até 2021/22, saindo já pelos motivos de saúde que ditaram o seu falecimento. Manteve, no entanto, o vínculo contratual até ao fim.
quinta-feira, 7 de março de 2024
Stuart Carvalhais
José Herculano Stuart Torrie de Almeida Carvalhais (7/3/1887 - 2/3/1961).
Pintor, desenhador, caricaturista, autor de banda desenhada e artista gráfico, fez fotografia, decoração, cenografia. Mas era sobretudo como ilustrador que ganhava a vida. O quotidiano era a fonte de alimentação de Stuart.
"Faço bonecos para distrair a fome."
"A melhor maneira de engordar é emagrecendo os outros." |
«Se uma das características de um artista é a intemporalidade, o Stuart é um grande artista. (...) Vai ser sempre actual. Desenhou-nos a nós e Portugal não mudou assim tanto. Reconhecemo-nos ali tal como nos reconhecemos em Bordalo ou Eça.» (André Carrilho)
quarta-feira, 6 de março de 2024
António-Pedro Vasconcelos - Cidadão céptico activo
«Durante vários anos, e mesmo depois do 25 de Abril, tive muitas vezes a ideia de ir viver para outro país, França, por exemplo, onde passei dois anos e meio, na década de 60 (e cheguei a ter um apartamento em Paris, nos anos 80). Pensei muitas vezes nisso. E confesso: se, hoje, tivesse de escolher um país para viver, eu escolheria Portugal. Sem estar a querer branquear nada… Há aqui coisas péssimas, horríveis; nem sempre concordo com o Governo, mas, mesmo assim, com esta solução governativa numa Europa completamente ultraliberal, com o facto de ter sido possível este compromisso, é preciso valorizar Portugal… Além disso, sinto uma grande criatividade hoje, em Portugal, a vários níveis. E passámos a acreditar muito mais em nós próprios. Perdemos o complexo de que somos sempre inferiores e aquele discurso de que tudo o que é mau está em Portugal. Hoje, quando olho à volta, para outros países a França com a Frente Nacional, este novo partido franquista em Espanha, o que se passou em Itália… -, tenho de valorizar Portugal, mesmo com todos os seus problemas.
O importante é sublinhar que a democracia, a liberdade e a paz não são dados adquiridos. É facílimo isto mudar!»