"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 31 de março de 2024

Primavera falhada

Esta Primavera está ao nível da Primavera Marcelista - tão frustrante uma como a outra.


Amanhã chega Abril...


sábado, 30 de março de 2024

Viva o novo Governo! Vivam as Ordens! Viva a criatividade jornalística!

Em primeiro lugar, foram muitos os comentadores que exultaram com a composição do Governo.
Temos de reconhecer que é natural, pois trabalharam, de facto, para que o poder mudasse (com toda a legitimidade, diga-se: SIC, TVI/CNN, Observador, etc. são empresas privadas e podem fazer as suas opções editoriais - ninguém as obriga a ser isentas).

Depois foram as Ordens (Vivam as Corporações! - Salazar pode estar satisfeito!).








Depois das Ordens foram os Polícias.
Depois das Polícias serão os Militares.
Depois dos Militares serão (talvez...) os Professores (já desconfiados do economista nomeado para o Ministério da Educação, incluindo o Ensino Superior, Ciência e Inovação) - e eu desconfiado me confesso, lembrando o que afirmou o Dr. Fernando Alexandre enquanto Secretário de Estado do Governo de Passos Coelho (e em outras ocasiões da sua carreira de economista).
Bem diz o Público: "o ministro que antes de o ser já é contestado". 

Uma escriba da CNN, num momento de criatividade jornalística (qual objectividade dos factos!), conseguiu escrever, referindo-se a Fernando Alexandre, que:

O Ministro da Educação foi Nuno Crato, do princípio ao fim do XIX Governo Constitucional (2011 - 2015). Entre 22 de Abril de 2013 e 23 de Abril de 2015, Fernando Alexandre foi Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Administração Interna (primeiro, Miguel Macedo, depois, Anabela Rodrigues). 

Se a escriba estivesse atento, concluiria da incoerência da demissão de um Ministro da Educação por incompatibilidade com uma Ministra da Administração Interna.

Mas, pronto!
Há muita satisfação, muito optimismo em quem estava mais longe do poder, tristeza e muito cepticismo em quem foi afastado e nos seus apaniguados.
O PS acusa o PSD de restringir a constituição do Governo (ainda incompleta) ao núcleo do partido, auto-limitando-se, acusação, aliás, semelhante à que o PSD fez quando da formação dos governos do PS.

Estamos no mundo dos interesses. 
Os interesses dos mais poderosos pesam mais.
Estamos num mundo normal.

P.S. - Aguardo com expectativa se o futuro Ministro das Infraestruturas e da Habitação não virá a ser incomodado com o inquérito instaurado pelo Ministério Público a propósito da venda por truta-e-meia, pela C.M. Cascais, de um terreno junto à Marginal, na Parede, para permitir a construção de um hotel da cadeia Hilton, negócio com contornos muito duvidosos. 
Se o Governo durar muito...

P.S. 2 - A propósito do mesmo futuro Ministro, também será bom lembrar a conclusão do processo de privatização da TAP - muito a correr, por um Governo que se sabia não ir governar - em 12 de Novembro de 2015, enquanto Pinto da Luz desempenhou o cargo de Secretário de Estado das Infraestruturas, Transportes e Comunicações, de 30 de Outubro a 26 de Novembro de 2015.


sexta-feira, 29 de março de 2024

Cheirava a revolução no Coliseu

Em Março de 1974 a direcção da Casa da Imprensa organizou o I Encontro da Canção Portuguesa, no Coliseu dos Recreios de Lisboa. Serviria como cerimónia de entrega dos Prémios da Imprensa de 1973 nas categorias de rádio, música ligeira, música erudita, televisão, bailado e literatura.

O Governo tentou impedir o espectáculo, mas este veio a realizar-se no dia 29 de Março de 1974, depois de conversas com instituições do regime, negociações, avanços e recuos, cedências...

«Nós passámos cerca de mês e meio a organizar o espectáculo porque vinham proibições, autorizações, proibições. Na própria noite do espectáculo, fomos autorizados a actuar, pelas 10h 20m [da noite], com as letras cortadas. E estão seis ou sete mil pessoas à espera. Na rua, a GNR e a PIDE estavam em tudo quanto era sítio para impedir o espectáculo. Este acaba por se realizar, e o Fanhais é o único que fica impedido de actuar, sentado na assistência.» (José Jorge Letria)

Às 22 horas, ainda Caetano de CarvalhoSub-secretário de Estado da Informação e Turismo, foi ao Coliseu negociar o cancelamento do espectáculo em nome do bom senso.

Pela primeira vez juntavam-se em palco José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Carlos Pardes, Manuel Freire, Fausto, Vitorino, Ary dos Santos, Carlos Alberto Moniz, Maria do Amparo, Nuno Gomes dos Santos, José Jorge Letria, Fernando Tordo, José Barata Moura, entre outros. Muitas foram as canções censuradas e muitos cortes foram feitos às canções que podiam ser cantadas.

Os músicos tiveram a coragem de fazer várias afirmações que denunciavam a censura. Adriano foi directo: «Não será necessário dizer-vos que aquilo que vamos cantar não foi exactamente escolhido por nós, (...). Nós todos gostávamos de lembrar, (...) os nossos companheiros que neste momento estão impedidos de estar aqui connosco. Falamos de muitos, mas podemos citar o José Mário Branco, o Sérgio Godinho, o Francisco Fanhais, o Luís Cília, enfim, todos os outros milhões de portugueses que (...) estão fora da nossa terra, seja na Europa seja noutros continentes, como em África, por circunstâncias alheias à sua vontade directa.»

José Afonso explicou que «os habituais impedimentos que surgem sempre nestas ocasiões, que aliás são muito raras, obrigam-me a cantar uma canção que pelo menos poderá ser cantada por todos nós, que é a Grândola. (...) A canção que resta é Milho Verde. Havia outras canções, mas não existem instrumentos para elas... Rigorosamente, as duas que podem ser cantadas são estas duas.»

Grândola, Vila Morena, aos olhos dos censores, não tinha parecido subversiva.

«Filas e filas da plateia, das bancadas, dos camarotes, das galerias eram massas de gente, de braços dados, como que a participar de um fantástico cerimonial.» (Capital, 30 de Março de 1974)

O Estado Novo estava caduco e aquele foi um "momento mágico" que parecia o presságio de um novo tempo.

«Foi o principal momento em que a canção política se apresentou perante uma multidão, como um espectáculo de massas; foi um grande contributo dos músicos para, naquela altura, confrontar o regime com a sua fragilidade.» (José Jorge Letria)


Este espectáculo foi gravado por dois técnicos da Rádio Renascença e transmitido no programa Limite. As bobines foram oferecidas, há alguns anos, ao arquivo sonoro da RTP, estando disponível na RTP Play. Também se encontra no YouTube. 

O programa Limite seria o escolhido para a passagem de Grândola como senha do 25 de Abril, por Carlos Albino, um dos espectadores do I Encontro da Canção Portuguesa.


terça-feira, 26 de março de 2024

Favas contadas...

... e saiu a fava a Luís Montenegro.
Os brindes ficam para o Ventura (ajudado pela CS)! O Diogo Pacheco de Amorim chega a Vice-Presidente da Assembleia Nacional da República, um homem com provas dadas de "presença democrática".

Ventura, o "Jactante"
(80 deputados da AD + 8 da IL + 50 do Chega = 89 votos)

Uma entrada em falso do PSD na XVI Legislatura.
Quem não tem uma maioria segura, tem de esboçar sinais para a formação de saídas positivas, tem de se habituar que existem partidos... à sua esquerda e à sua direita.
É escolher!
Eu proponho que o António Filipe fique como Presidente da Assembleia da República até ao fim da Legislatura.
Dará mais estabilidade.



segunda-feira, 25 de março de 2024

Maurizio Pollini (1942 - 2024)

Morreu Maurizio Pollini, um dos grandes pianistas do nosso tempo. Intérprete, sobretudo, dos românticos - Schubert, Schumann, Chopin, Brahms - mas também de Beethoven. 

«A minha aproximação à música é sempre global, no sentido em que todas as componentes contribuem para o todo. A arquitectura de uma peça é até um dos aspectos mais imediatos, mais óbvios, facilmente compreensível. Há muitos outros muito mais complexos de trabalhar, por exemplo, o carácter a dar a cada peça ou a cada secção. O que está para além das notas, das indicações da partitura, da estrutura, esse sim é o verdadeiro desafio.» 



Steve Harley & Cockney Rebel - Sebastian

Sebastian foi, para mim, o one-hit wonder dos Cockney Rebel, com Steve Harley como vocalista. 


Li há pouco que Steve Harley faleceu na semana passada. Recordo o hit de 1973. 


Finalmente, qualquer coisinha!...




Recordo um cartoon de António, já com muitos anos (1983?), trabalhado com base numa foto tirada no gueto de Varsóvia, em Abril de 1943.


O que faz um Cardeal na lista do Papa?

O cardeal e bispo de Setúbal, Américo Aguiar, foi indicado como primeiro membro da candidatura de Pinto da Costa ao Conselho Superior do Futebol Clube do Porto. 
Segundo Pinto da Costa, foi o cardeal Américo Aguiar que se ofereceu para pertencer à lista candidata.

Estará Pinto da Costa à espera de um milagre para ganhar o campeonato?
Por amor de Deus!
Não há noção do ridículo?


domingo, 24 de março de 2024

Porque nunca é tarde para realizar um sonho

Sven-Goran Eriksson, diagnosticado com cancro terminal, teve a oportunidade, na passada 6.ª feira, de orientar o Liverpool em Anfield Road. Como ele sempre sonhou.
O ambiente foi incrível.

Porque o desporto também é isto.

«It’s been my dream club all my life – even when I had England, I also supported Liverpool, but I couldn’t say it at that time.
“It’s a good finish, to finish with Liverpool, it can’t be much better than that.»



SOS Quinta dos Ingleses

Para celebrar o Dia da Árvore no interior da Quinta... parece que começaram as obras para pôr fim à Quinta.





quinta-feira, 21 de março de 2024

Os lagartos ao sol

Expõe ao sol a perna escalavrada,

no Jardim do Príncipe Real,

uma velha inglesa. Não há nada

tão bonito (pra mim), so natural.

 

E conversamos: «Helioterapia

medicina barata em Portugal.»

Accionista do sol, ajudo à missa:

«But, não muito, que senão faz mal.»

 

Gozosos, eu e a velha, ali ficamos

à mercê de meninos e marçanos.

Ela, a inglesa, de perninha à vela;

e eu, o português, à perna dela.

 

Talvez que, se Briol nos conservara,

alguém um dia nos ajardinara.

 

Alexandre O’Neill, Poesias Completas & Dispersos




Dia Mundial da Poesia

«Para mim, um poema é a expressão do que eu poderia chamar uma intensidade. E é uma intensidade que é conseguida pela concentração naquele corpo de palavras, no fundo, naquele objecto, de um olhar de uma experiência da realidade que ali encontra, portanto, essa concentração.»
Nuno Júdice


«Pergunto como se escreve o poema? 
E a resposta possível
é escrever o poema» 
Nuno Júdice, O Estado dos Campos



quarta-feira, 20 de março de 2024

Agora

Abre-te, Primavera!
Tenho um poema à espera
Do teu sorriso.
Um poema indeciso
Entre a coragem e a covardia.
Um poema de lírica alegria
Refreada,
A temer ser tardia
E ser antecipada.

Dantes, nascias
Quando eu te anunciava.
Cantava,
E no meu canto acontecias
Como o tempo depois te confirmava.
Cada verso era a flor que prometias
No futuro sonhado…
Agora, a lei é outra: principias,
E só então eu canto confiado.
Miguel Torga, Diário X, (S. Martinho de Anta, 31 de Março de 1968)



segunda-feira, 18 de março de 2024

sábado, 16 de março de 2024

O 16 de Março de 1974

«O Golpe das Caldas de 16 de Março de 1974 é um importante acontecimento da história da democracia portuguesa, de definição ambígua, paradoxal e anacrónica.» (Dicionário de História de Portugal - O 25 de Abril)

Não é fácil contar a história da tentativa de golpe contra o regime. O 16 de Março foi uma acção mal planeada e que se precipitou no meio de um "encadeamento de equívocos". 

É preciso lembrar o clima geral de contestação à demissão dos generais Spínola e Costa Gomes. Esse ambiente de instabilidade e insatisfação verificava-se, nomeadamente, nas Caldas da Rainha (Regimento de Infantaria n.º 5), no Regimento de Infantaria n.º 14 de Viseu e no Centro de Instruções de Operações Especiais, de Lamego.

Houve oficiais que manifestaram vontade em trazerem as suas unidades para a rua e tomarem uma posição de força. Houve muitos contactos estabelecidos, nomeadamente com elementos do recém-formado MFA, mas verificou-se uma enorme falta de coordenação e não se garantiram objectivamente os apoios necessários. Havia quem pensasse que bastaria um quartel movimentar-se que outros se lhe juntariam - um "abanão" e o regime viria abaixo. 

Spínola, informado do clima reinante e das intenções de oficiais que lhe eram próximos, tinha considerado que "este não seria o momento adequado para desencadear qualquer acção", até porque o Governo estaria em situação de alerta. 

O poder, em Lisboa, já se tinha apercebido de movimentações em alguns quartéis e tinha declarado prevenção rigorosa nas unidades militares.

Quando na noite de 15, nas Caldas se decidiu avançar com uma coluna militar, o novo comandante (que tinha tomado posse nesse dia) ficou detido no quartel, mas com acesso ao telefone do seu gabinete, pelo que pôde informar Lisboa do que se passava.

«Quando, às 04h00 do dia 16 de Março, a coluna atravessa os portões do quartel em direcção à capital, tendo no comando o capitão Armando Ramos, já o Governo está em alerta máximo e preparado para enfrentar os militares revoltosos. A coluna que sai do quartel é formada por 15 viaturas, não tendo sido possível determinar o número exacto de militares envolvidos na revolta, mas seriam à volta de 180 homens.» (José Matos e Zélia Oliveira, Rumo à Revolução)

Em Lisboa, as forças fiéis ao Governo esperavam os revoltosos nas entradas da cidade, nomeadamente na zona oriental (Portela, Moscavide e Sacavém).

A poucos quilómetros da capital a coluna foi informada pelos majores Manuel Monge e Casanova Ferreira de que mais nenhuma força militar saíra. Perante este cenário, foi decidido que a coluna invertesse a sua marcha e voltasse ao quartel. Os dois majores também acompanharam a coluna pretendendo resistir. 

Mas depois do seu regresso, o quartel foi cercado pelas forças fiéis ao regime provenientes de Leiria e de Santarém, e os revoltosos, após várias horas de negociações, acabariam por se render e seguir presos. Destes, o único que pertencia às estruturas do MFA era o major Manuel Monge. Outros elementos do regimento foram transferidos para outras unidades militares. Chegava assim ao fim o levantamento que ficou conhecido como “levantamento” ou “intentona das Caldas”.

Durante esta insurreição, Marcelo Caetano, informado da saída das forças das Caldas, já de madrugada, dirigiu-se para o Quartel-general da 1.ª Região Aérea, no Monsanto, local onde devia procurar refúgio em caso de emergência. O Presidente da República juntar-se-lhe-ia poucas horas mais tarde. 

O Almirante Américo Tomás escreveria mais tarde que «Só me pareceu verdadeiramente diligente, operante e determinado o Ministro do Exército. No Presidente do Conselho notei um alheamento, que me pareceu praticamente total e que me chocou deveras: em suma e em conclusão, não regressei a casa bem impressionado, nem optimista. (...) confrangeu-me a passividade e o alheamento quase geral, que não me pareceu bom augúrio.»


Uma nota do Governo, já no dia 17, resumia a situação (da sua perspectiva) «Depois da rendição dos oficiais que se sublevaram nas Caldas da Rainha reina a ordem em todo o país.»

A hierarquia militar permaneceu imperturbável, procedendo apenas a algumas transferências. Parece ter sido criado um sentimento de falsa segurança e as forças do regime terão ficado convencidos que o assunto estava sanado.


A tentativa falhada expôs o modo de operações do Estado Novo - conseguiram-se identificar estratégias e instrumentos utilizados - mas também levou ao reconhecimento de falhas do movimento dos revoltosos (aspectos a ter em conta na acção do MFA): necessidade de melhor planeamento, de atenção às comunicações, de coordenação - inexistência de uma cadeia de comando clara - e que... “O golpe tinha de ser entre terça e quinta-feira, devido aos fins-de-semana, e as unidades deviam sair todas ao mesmo tempo” (Vasco Lourenço) 

«O 16 de Março foi fundamental para moldar a forma que assumiu a intervenção militar em 25 de Abril de 1974.» (Aniceto Afonso)

O golpe das Caldas seria referido por Marcelo Caetano na sua última Conversas em Família, no dia 28 de Março.

«Recomendação: quando planearem um novo movimento militar nunca o façam num sábado. Podemos dizer que é uma lição da História.» (Aniceto Afonso)




sexta-feira, 15 de março de 2024

Tomada de posse do novo Governo de Marcelo

(Na actual conjuntura, o título pode enganar. Foi há 50 anos)

No início de 1974, Marcelo Caetano teria um plano de remodelação do sector económico do Governo, mas os acontecimentos em torno do lançamento do livro do General Spínola adiaram esse intento.

Mas logo após a sessão com a Brigada do Reumático e a demissão de Spínola e Costa Gomes, Marcelo Caetano, no dia 15 de Março de 1974, avança na nomeação de novos ministros, secretários e subsecretários de Estado. O último Governo tinha 15 ministros, 12 secretários de Estado e 8 subsecretários. 

As Finanças e a Economia ficavam em ministérios separados, sendo que, na área económica, passariam a existir os ministérios da Agricultura e Comércio e o da Indústria e Energia.

O Presidente da República parece não ter ficado muito agradado, nem quanto à estrutura nem quanto a alguns dos nomes escolhidos (ou dos que saíram). 

Tomada de posse do Governo (15 de Março de 1974)

«Não sei mesmo se alguma vez a nação enfrentou simultaneamente tantos adversários por inimizade dos homens, outros por adversidade das circunstâncias. Mas perante a gravidade e a multiplicidade das lutas a sustentar não podemos cruzar os braços. A todo o desafio temos de dar resposta. Estamos aqui para combater. A vitória pode vir ou não se ela não depender só de nós. Mas em todos os casos resta-nos a consciência do dever cumprido. E a verdade é que tenho fé na nossa capacidade de vencer os fados adversos.»

Marcelo Caetano, (Discurso da tomada de posse, depois da remodelação do Governo)


Assim (não) se vê a força do PC!


Primeira prova de vida após as últimas eleições - tomar a iniciativa política com a coerência do costume. Resistir!...
Pateticamente! Continua a ser deprimente ver o caminhar para o fim de um partido centenário e de referência, com um passado de luta contra o Estado Novo. Um partido que muitas vezes fazia diagnósticos certos - quanto às soluções, podemos concordar... ou discordar -, mas que está cada vez mais desfasado da realidade e cujo discurso, através do secretário-geral, quase que inspira piedade. 
É um processo de autodestruição. 
Qualquer dia, o PCP só se encontrará no Museu de Arqueologia.

A apresentação da moção de rejeição - "connosco, o projecto da direita não avança" - faz-me lembrar a anedota da formiga que, ao atravessar a linha férrea, fica com uma pata presa e não consegue avançar. O comboio aproxima-se, a formiga esforça-se por soltar a pata... inutilmente. O comboio está cada vez mais perto... A formiga desiste de se soltar e diz: "Se o comboio descarrilar, paciência!..."


quinta-feira, 14 de março de 2024

Caras novas e... ideias (já agora!)

Outra Brigada do Reumático



Brigada do Reumático

A 14 de Março de 1974, a "Brigada do Reumático" - os oficiais generais das Forças Armadas - deslocaram-se ao Palácio de S. Bento para manifestarem ao Presidente do Conselho o seu apoio à política africana do Governo.


No mesmo dia, Marcelo Caetano demitiu os generais Francisco Costa Gomes e António de Spínola dos cargos de Chefe e Vice-Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Motivo: a falta de comparência na manifestação de apoio ao Governo, logo, a quebra da confiança política.

Kaúlza de Arriaga, Tierno Bagulho e Silvino Silvério Marques também não estiveram presentes, mas esses situavam-se à direita do Governo.


segunda-feira, 11 de março de 2024

Por breves segundos, o PSD perdeu

Houve aquele momento, aqueles breves segundos, na TVI, em que o PSD foi confundido com o PS e chegou a perder as eleições.

Também é verdade que perdia... para a coligação de que fazia parte.


Parece que também houve uns milhares de votantes da AD que se equivocaram com o ADN.

E o Rui Tavares, que estava tão satisfeito com a subida proporcional do LIVRE, que seria a maior, terá de reconhecer que o partido que mais subiu das últimas eleições para estas, percentualmente, foi o ADN - de 10 mil para 100 mil votos (de 0,20% para 1,63%).
Se os 100 mil votos não serviram para eleger qualquer candidato, sempre dão direito à subvenção pública correspondente ao facto de terem ultrapassado a fasquia dos 50 mil votos.


O apagamento da História

«O problema que há hoje na Europa, em Espanha e em Portugal é que estão a apagar a História dos planos curriculares dos jovens, e estes crescem sem saber História. Se não se conhece a História, não se tem ferramentas para se conhecer o presente. Somos o que somos porque fomos o que fomos no passado, e Espanha e Portugal não se explicam sem todos esses séculos de memória. Não ensinar a História aos jovens, não os levar a museus onde vejam quadros, a origem de onde tudo vem, é condená-los à orfandade, e, quando alguém é órfão, qualquer um pode dizer que é seu pai, é esse o perigo. Um órfão é muito manipulável. Estamos a criar gerações de órfãos, e isso é muito triste e muito perigoso.»

Arturo Pérez-Reverte


É o que me faz lembrar...




Já nasceu o Menino

Não me parece capaz de grandes (nem de pequenos!) milagres.

Não basta ser levado aos ombros... 

Líderes fracos propiciam a dispersão dos votos.
Se António Costa fosse o líder do PS, este partido tinha voltado a ganhar facilmente as eleições.


domingo, 10 de março de 2024

As eleições legislativas elegem os deputados

O título é uma lapalissade.

Por que raio os noticiaristas não aprendem que as eleições legislativas servem para eleger os deputados à Assembleia da República?

Insistem que nestas eleições se elege o Governo.

No final do dia de hoje, contados os votos e conhecidos os deputados eleitos, perguntem-lhes que Governo foi eleito!


sábado, 9 de março de 2024

sexta-feira, 8 de março de 2024

Dr. Coisinho


«Por favor, se eu algum dia andar publicamente a implorar por coligações - ou melhor, Alianças - à direita ou o centro direita...e ninguém me ligar nenhuma, afastem-me da liderança do CHEGA. Internem-me pela figura ridícula.» (André Ventura)




Pietra (1954 - 2024)


Morreu outro dos antigos craques do Benfica. 

Pietra transferiu-se do Belenenses para a Luz em 1976, sendo campeão logo na primeira época. Já o admirava como jogador no Belenenses, onde se destacou como defesa-lateral (direito ou esquerdo) com grande apetência para se incorporar nos lances de ataque - era um defesa marcador de golos. 

A sua transferência para o Benfica, onde eu ainda era sócio júnior, trouxe-me uma grande satisfação - era um dos meus ídolos. Para além de lateral, também podia jogar a trinco e lembro-me que Sven-Göran Eriksson o chegou a colocar a ponta de lança durante um jogo "de apertos" (e marcou 2 golos!).

Será que eu estava naquelas bancadas?


Conquistou variadíssimos títulos e foi internacional em 27 ocasiões (a primeira aos 19 anos, quando ainda estava no Belenenses). 

Depois de terminar a carreira de jogador, em 1987, foi treinador em escalões secundários, tendo regressado ao Benfica para desempenhar funções como analista-observador e, posteriormente, como treinador-adjunto na época em que Jorge Jesus chegou ao comando técnico dos encarnados (2009/10). 

Permaneceu como adjunto das várias equipas técnicas até 2021/22, saindo já pelos motivos de saúde que ditaram o seu falecimento. Manteve, no entanto, o vínculo contratual até ao fim.



quinta-feira, 7 de março de 2024

Stuart Carvalhais

José Herculano Stuart Torrie de Almeida Carvalhais (7/3/1887 - 2/3/1961).

Pintor, desenhador, caricaturista, autor de banda desenhada e artista gráfico, fez fotografia, decoração, cenografia. Mas era sobretudo como ilustrador que ganhava a vida. O quotidiano era a fonte de alimentação de Stuart.

"Faço bonecos para distrair a fome."

"A melhor maneira de engordar é emagrecendo os outros."
.

«Com um lápis ou um pincel na mão faz verdadeiros prodígios - e quase se ofende se alguém lho diz. Despreocupado de toilette, farripas de cabelo ao vento, eterno boémio sempre com ar de quem perdeu a noite.» (Luís de Oliveira Guimarães)

«Se uma das características de um artista é a intemporalidade, o Stuart é um grande artista. (...) Vai ser sempre actual. Desenhou-nos a nós e Portugal não mudou assim tanto. Reconhecemo-nos ali tal como nos reconhecemos em Bordalo ou Eça.» (André Carrilho)



Dessarumar as contas


Eu não confio em quem não dessaruma as contas!


quarta-feira, 6 de março de 2024

António-Pedro Vasconcelos - Cidadão céptico activo

... Nomeadamente contra o Acordo Ortográfico.
Mais do que realizador de cinema (que gostava do público) e outras mais coisas, o cidadão.

António-Pedro com hífen (à francesa) - 1939 - 2024

«Durante vários anos, e mesmo depois do 25 de Abril, tive muitas vezes a ideia de ir viver para outro país, França, por exemplo, onde passei dois anos e meio, na década de 60 (e cheguei a ter um apartamento em Paris, nos anos 80). Pensei muitas vezes nisso. E confesso: se, hoje, tivesse de escolher um país para viver, eu escolheria Portugal. Sem estar a querer branquear nada… Há aqui coisas péssimas, horríveis; nem sempre concordo com o Governo, mas, mesmo assim, com esta solução governativa numa Europa completamente ultraliberal, com o facto de ter sido possível este compromisso, é preciso valorizar Portugal… Além disso, sinto uma grande criatividade hoje, em Portugal, a vários níveis. E passámos a acreditar muito mais em nós próprios. Perdemos o complexo de que somos sempre inferiores e aquele discurso de que tudo o que é mau está em Portugal. Hoje, quando olho à volta, para outros países a França com a Frente Nacional, este novo partido franquista em Espanha, o que se passou em Itália… -, tenho de valorizar Portugal, mesmo com todos os seus problemas.

O importante é sublinhar que a democracia, a liberdade e a paz não são dados adquiridos. É facílimo isto mudar!»

António-Pedro Vasconcelos - entrevista à Visão (em 2018)