Está amanhecendo e um nevoeiro bastante espesso ensombra os vultos das casas ainda adormecidas e as ruas onde circulam alguns raros madrugadores. Subitamente a artilharia desperta ao longe. O seu rumor avoluma-se e torna-se dentro em pouco como o marulhar duma onda brava batendo a rocha sem descanso. O longínquo horizonte ilumina-se sucessivamente. Na véspera, na antevéspera, todos os nossos canhões bateram sem repouso a zona retaguarda boche onde se apercebiam movimentos insólitos de tropas e viaturas. Será a continuação desse trabalho? A esta distância não é possível distinguir o som do fogo e o dos rebentamentos. O rumor não cessa um minuto, e em breve toda a aldeia se agita. Todos se ergueram para saber o que há. De quando em quando ouvem-se perto as chegadas da artilharia mais pesada. O inimigo está regando as nossas zonas recuadas. As nossas peças grossas ripostam. Temos a impressão de que cousas formidáveis se estão passando. As horas vão decorrendo sem que aquele furacão abrande. Os nossos ouvidos afeitos a tais tempestades reconhecem que esta é a maior de todas.
(...) Sem termos a menor indicação, o menor esclarecimento, adivinhamos que uma horrível tragédia se está desenrolando, e é impossível que não sejamos chamados a tomar parte nela.»
André Brun, A Malta das Trincheiras
Este texto é excerto da crónica O mosqueiro da batalha, dedicada "Aos que caíram bem em 9 de Abril". A batalha desse 9 de Abril de 1918 é a batalha de La Lys.
Souvenirs, chamou André Brun ao conjunto de memórias que constituem A Malta das Trincheiras.
Cerca de um século depois, estamos nós nas trincheiras das nossas casas. Bem mais confortáveis para a grande maioria...
A guerra é outra!
grande pesadelo e sofrimento que por lá aconteceu
ResponderEliminar