O génio da pátria, que Luís Vaz de Camões representava para os republicanos – foi em torno das comemorações camonianas de 1880 que os republicanos se guindaram politicamente –, passou a ser celebrado a partir de 1912, mas apenas como feriado municipal, em Lisboa.
Tendo reformado o calendário dos feriados, o Estado Novo manteve o de 10 de Junho, elevando-o à categoria de feriado nacional, exaltado num sentido nacionalista e como elemento da propaganda política do novo regime.
Foi a 10 de Junho de 1944 que o Estádio Nacional foi inaugurado e, durante a cerimónia, Salazar proferiu o discurso que viria a rebaptizar o feriado como o Dia da Raça, associando a data à celebração do "Mundo Português" e dos valores do regime.
Até ao 25 de Abril de 1974, o 10 de Junho ficou conhecido como o Dia de Camões, de Portugal e da Raça.
Com a Guerra Colonial, transformou-se numa data de homenagem às Forças Armadas e numa exaltação do poder colonial.
Após o 25 de Abril de 1974, foi instituído, já em 1977, que o Dia de Camões passasse a ser dedicado também às comunidades portuguesas no estrangeiro, sendo celebrado em Portugal e no estrangeiro "com vista a levar a presença do nosso país às diferentes comunidades e a tornar estas mais conhecidas na sua nação de origem".
O primeiro Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas (1977) foi comemorado oficialmente na cidade da Guarda.
Jorge de Sena fez, então, um discurso em defesa de Camões, sentindo necessidade de explicar, num Portugal pós-revolucionário ainda com traumas da ditadura, que não se poderia apelidar Camões de… “fascista”.
(...)
Pensarão alguns, acreditando no que se fez do pobre Camões durante séculos, que celebrá-lo, ou meditá-lo e lê-lo, é prestar homenagem a um reaccionário horrível, um cantor de imperialismos nefandos, a um espírito preso à estreiteza mais tradicionalista da religião católica. Camões não tem culpa de ter vivido quando a Inquisição e a censura se instituíam todas poderosas: se o condenamos por isso, condenamo-nos nós todos a que, escrevendo ou não-escrevendo, e ainda vivos ou já mortos, resistimos durante décadas a uma censura opressiva, e a uma repressão implacável e insidiosa, escrevendo nas entrelinhas como ele escreveu.»
Jorge de Sena
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