«É só com a transfusão romântica que o sangue da literatura portuguesa ganha vida outra vez. Desperta com viço desconhecido tanto nas veias afidalgadas de Garrett, como nas plebeias de Herculano. O liberalismo, conquistado nos barracões do desterro e na paixão das batalhas, unira todos os filhos progressivos da nação. E eis que renasce uma literatura rica das mais fundas virtualidades nacionais, máscula, imaginosa, ou grácil, com deliberadas raízes na tradição e altos anseios universais. O folclore é descoberto e estudado, as lendas são recolhidas, o passado é meditado ou dramatizado, e cada motivo leva uma volta original, inesperada e duradoira. Cultores dos vários géneros da expressão escrita, ambos possantes e fecundos, Garrett e Herculano dão ao teatro, ao romance, à poesia e à história uma dignidade e uma beleza há muito desconhecidas. Pela primeira vez surge em Portugal o escritor de ofício, o homem que põe nos seus livros não apenas a vocação, mas também o seu destino social. Em Herculano, sobretudo, onde essa união é mais convincente, joga-se com o brio do artista a própria integridade moral do homem. A arte, agora, é vista como um bem colectivo, património de todos, que é preciso defender e propagar. E tanto o Divino como o futuro Solitário de Vale de Lobos actuam como criadores e clercs. São eles os verdadeiros pais do escritor moderno português.»
Miguel Torga, Panorama da Literatura Portuguesa (1954)
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Almeida Garrett e Alexandre Herculano Pormenor de painel da autoria de Columbano Bordalo Pinheiro, nos Passos Perdidos do Palácio de S. Bento (Assembleia da República) |
Alexandre Herculano nasceu a 28 de Março de 1810.
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