Juntar poesia à música de J. S. Bach, nascido (ao que parece) a 21 de Março.
I
Como se modulando neste espaço-tempo
que se desenha espaço em mero som contínuo
de um tempo trespassado,
a fina imarcescível
dor
é timbre e andamento,
e proporção de altura
a desdobrar-se na serena angústia
de um nada preenchido.
Intensamente.
Quietação.
Vácuo.
Tudo.
II
Canta o impossível.
Que voz humana
sustentaria
esta pressa alegre
ou a tensão suspensa
do lento sonho?
Canta o impossível.
Que voz humana
sustentaria
esta pressa alegre
ou a tensão suspensa
do lento sonho?
III
Madeiras, cordas, gestos, sopros, tudo
avança imóvel, sem parar, quieto,
a passo irresistível.
Não há que os contenha
senão o inaudível.
IV
Neste silêncio, que ficou, flutua?
O quê?
Nós?
Como tão pouco restaria?
Neste silêncio, que ficou, flutua?
O quê?
Nós?
Como tão pouco restaria?
Jorge de Sena, Concerto "Brandenburguês" n.º 1, em Fá maior, de J. S. Bach
Gravação dos idos de 1964, ano próximo ao da escrita do poema (1963).
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