"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sábado, 31 de março de 2018

O silêncio do Sábado Santo

«O Sábado Santo não é apenas um dia imenso: é um dia que nos imensa. Aparentemente representa uma espécie de intervalo entre as palavras finais de Jesus pronunciadas na Sexta-feira Santa, "Tudo está consumado", e a Insurreição da vida que, na manhã da Páscoa, Ele mesmo protagoniza. O Sábado tem assim um silêncio que não se sabe bem se é ainda o da pedra colocada sobre o túmulo, ou se é já aquele misterioso silêncio que prepara "o grande levantamento" que a ressurreição significa. Este "intervalo", esta terra de ninguém, este tempo amassado entre derrotas e esperança, esta provação e júbilo, é o da nossa vida. O silêncio do Sábado Santo é o nosso silêncio que Jesus abraça. O silêncio dos impasses, das travessias, dos sofrimentos, das íntimas transformações. Jesus abraça o silêncio desta sôfrega indefinição que somos entre já e ainda não.»

José Tolentino de Mendonça, O Hipopótamo de Deus




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