"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Reserva ecológica de luxo!

Quem procurará o luxo na Ponta dos Corvos (e irá beber um copo ao bar)?


«Para o concelho do Seixal, a atribuição, entretanto retirada, à praia da Ponta dos Corvos "foi uma novidade" que provocou "um crescendo de procura", contou à Lusa o presidente do município, Joaquim Santos (CDU).
No próximo mandato, o responsável quer dinamizar ainda mais a zona: "Pensamos que esta praia poderá constituir-se como um futuro centro de desportos náuticos, com um apoio em termos de um possível 'eco-resort'".
Em fase de licenciamento ambiental está já um hotel de luxo na reserva ecológica junto à praia, onde funcionava a Fábrica da Seca do Bacalhau, no âmbito da qual haverá "o mínimo de intrusão no solo", garantiu.»

Diário de Notícias, 28 de Agosto de 2016


Ainda partilharei o cacilheiro com os magnatas!
Eu vou para o trabalho, eles para a praia...

Também podem ir à pesca, com vista para Lisboa...

... ou apanhar ameijoa.

No Seixal como nas Seixeles!...

Fotografias sobre o estado de degradação da antiga seca do bacalhau, em 2010, podem ser vistas neste site.


Ameaça de vulcão islandês...

... e dos grandes!
Já se falava do Katla quando se deu a erupção daquele com nome muito complicado.


O Katla é lá mais ao fundo...

E um tem ligação ao outro.
E se um Eyjafjallajökull incomodou muita gente, o Katla pode incomodar muito mais.

Forma de protesto contra a entrada no Antropoceno?




Entrámos no Antropoceno!






sábado, 27 de agosto de 2016

Aurélia, mulher artista

A não perder, em duas casas-museu (no Porto e em Leça da Palmeira - Matosinhos).


E ainda um "cheirinho" no Museu Soares dos Reis.

«Aurélia de Sousa é outro caso de excepção na pintura do tempo. Aurélia de Sousa é, verdadeiramente, a primeira pintora portuguesa (...).»
José-Augusto França, A arte em Portugal no século XIX

A fotografia de Aurélia no cartaz da exposição é de um Aurélio - o grande Aurélio da Paz dos Reis -, que, dizem, foi vizinho da pintora, na Quinta da China (Porto), e a quem pegou o gosto pela fotografia.

Foto de 1921(?) - Aurélia de Sousa junto a um auto-retrato seu,
pintado cerca de 1897. Terá sido a última fotografia da pintora,
falecida em 1922. 
«De estatura mais alta que baixa, esbelta e um tanto pálida, vestia, em regra, de escuro. (...) Caminhava serenamente e sempre muito aprumada. Tinha um ar superior de grande dama, nada afectado e distinto, um todo que impunha respeito e admiração.» (Joaquim Lopes)

Auto-retrato (com laço)


sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Se pudesse... ia este Domingo a Itália!

Este Domingo, os lucros dos museus públicos italianos servirão para ajudar ao restauro de edifícios danificados pelo terramoto desta semana, sendo que entre eles se contam várias igrejas e edifícios medievais.

Em Novembro de 2015, o 1.º Ministro italiano afirmou "Por cada euro destinado à segurança, deve ser investido mais um euro na cultura”.
Prometeu, então, atribuir um “bónus da cultura” no valor de 500 euros aos 550 mil jovens italianos que completassem 18 anos em 2016.
Este ano, o orçamento do Ministério da Cultura cresceu 27% relativamente ao ano passado.
Em Maio, o Governo italiano anunciou o investimento de mil milhões de euros no restauro e criação de novos projectos em museus, monumentos e sítios arqueológicos.
Agora prepara-se para cumprir a promessa relativamente aos jovens que atingiram a maioridade este ano.

É a cultura vista como agente de crescimento e factor de solidariedade.
Por cá, mesmo com a Cultura promovida a ministério, continua a não se dar muito por isso...


Temos drama!

Exclusivo!



Estava a faltar!
Isto andava mortinho!...
Um filão a explorar!


quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Quechua song

Quíchua em português?



Para ficarmos reduzidos à nossa insignificância sideral...
no ponto certo do universo


Regresso à realidade


De volta a casa, depois de uns dias na Nação (poucos! Os dias de férias são sempre poucos!...).
Desligar o modo piloto automático que aqui deixei, a enganar o tempo...

Acabaram os Jogos Olímpicos e os protestos pela falta de medalhas dos atletas portugueses.
Estão a acabar as vagas de incêndios e o período de discussão sazonal sobre a política florestal.
Já se contestam as arbitragens dos jogos de futebol.
Continuam, em catadupa, as não notícias de irrelevantes acontecimentos elevados a notícia. E as centenas de comentários subsequentes, sempre estimuladores do jornalismo versão rede social (que o people likes).

Acabaram as manifestações dos amarelinhos, mas não tarda o regresso das reportagens sobre o elevado preço dos materiais escolares.
Arrasta-se o processo de capitalização da CGD e a constituição da sua direcção.
Aguarda-se, sem bondosas expectativas, o remake das discussões sobre o cumprimento das metas do défice e a preparação do orçamento para 2017, com todas as triquilhices (como é possível que me digam que esta palavra não existe?). Atenção ao regresso dos comentadores!

Em Itália (aqui tão perto!) a Terra treme. E o que está perto toca-nos mais. Longe da vista...
E eu ponho os pés em terra, quase em síndrome traumática (feminino, certo?) pós-férias.


Saudades...
da loucura normal




sábado, 20 de agosto de 2016

Visto da margem sul do rio o porto

visto da margem sul do rio o porto não explode
sob a tarde de verão, a água reflecte
renques de casario humilde a encastelar-se
irregular em ocres e granito, manchas, vãos, recatos.

é quando os jacarandás se fazem desse azul mais surdo
do anoitecer e concentram uma ameaça do tempo
contida nas cores tensas das fachadas, a entrecortar 
os jardins do crepúsculo aprendidos de cor.

além umas arcadas, um cais, o traço grosso a carvão 
dos encaixes da ponte armada em ferro, a muralha,
o deslizar da luz para poente, tudo
uma dramática placidez escurecendo a ribeira, um vidrado

de presenças esquecidas, palhetas de ouro fosco, sobre as barcaças
abandonadas, quase ao alcance da mão, da voz, da alma, é quando
a música há-de vir, lentamente elaborada na memória,
como um sopro da infância e do indizível do mundo.

(...)
Vasco Graça Moura



quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Eu gosto do Porto

«Eu gosto do Porto. Não do Porto erudito do Sampaio Bruno, ou do burguês e literário do Ramalho. Gosto de um Porto cá muito meu, de que vou dizer já, e amo-o de um amor platónico, avivado de ano a ano à passagem para a minha terra natal, quando o menino Jesus acena lá das urgueiras.
Entro então nele a tiritar de frio, atravesso-o molhado de nevoeiro, tomo um quarto, e deito-me no aconchego dessa velha e particular paixão que nos une. No dia seguinte, pela manhã, levanto-me, compro um jornal, embarco, e a minha visita anual e discreta acabou.
De vez em quando perco a cabeça, estrago os horários, e vou ver o Pousão, a mão do Conde Ferreira, a igreja de S. Francisco, ou meto-me num eléctrico e dou a volta ao mundo, a descer à Foz pela Marginal e a subir pela Boa-Vista.»

Miguel Torga, O Porto, in Portugal


Dominguez Alvarez, Porto - Torre dos Clérigos (1938)


terça-feira, 16 de agosto de 2016

Estamos no Porto

«O panorama extraordinariamente belo, que se descobre da grande ponte sobre o Douro, principia a desenrolar aos nossos olhos os seus diferentes aspectos tão variados, tão imprevistos. O rio, liso e espelhado como uma chapa de vidro azul e verde. Uma extensa cordilheira de colinas, coberta de pinheirais e desenhando no espaço vaporoso e húmido as curvas mais suaves e as perspectivas mais graciosas e mais risonhas.»
Ramalho Ortigão



segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Assunção da Virgem

«Os murais do Facebook escorrem sorrisos bronzeados, corações ao sunset, grupos que irradiam aquela luz interior da amizade. (...)
Um acervo de vivências exuberantes.» 
(Luís Pedro Nunes, Expresso)
Nem me lembrava que era feriado.

El Greco, Assunção da Virgem (1577-79)


domingo, 14 de agosto de 2016

Estou hoje com saudades do Porto

«Alfacinha (e nascido na Rua da Saudade), tenho um fraco pelo Porto desde que, menino, acompanhei a família na primeira jornada ao Norte e à Galiza. Ainda hoje, ao cabo de exílios e tormentos, ao ouvir alta noite as sereias dos vapores que cruzam o Hudson, me assalta a inexplicável nostalgia do Porto.
A cidade robusta e alcantilada, áspera, de granito escurecido pelo tempo, com a Ribeira caótica na base, servindo de rodapé do velho burgo; as torres e muralhas, os mosteiros, o sol coado pela neblina, os seus nomes locais - Campanhã, Leça, Carreiros, Cedofeita, Cantareira, Cabedelo e tantos outros (...) tudo tenho gravado a nostalgia na retina da-i-alma. Até o sotaque dos naturais - Poârto! - me tem um eco ibero-linguístico!
Visitas posteriores me consolidaram nessas primeiras impressões. O Porto era em tudo diferente: o bastante para mo tornar querido. O que ele tinha de nórdico e pomposo (...) davam-lhe uma grandeza e respeitabilidade burguesa que nunca me soube inspirar a minha Lisboa das "gaiolas sem carácter, da caliça esboroada, da greda pegajosa e do intratável basalto: apesar do muito que lhe quero (polígamo!) e da sua luminosidade, tenho em mim o culto atávico dos pedreiros construtores de eternidades. E depois, barroca e pitoresca como Nápoles, Lisboa era do Sul, e o Porto era o Norte (...) Tudo nele me era a um tempo exótico e por isso, paradoxalmente, mais Português, mais Nação, mais Nós (...)»
José Rodrigues Miguéis

Dórdio Gomes - Barredo (1935)


sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Miguel Torga - O Rosto de Viriato

«(...) uma tarde, já não sei quando, ou talvez ao fim da manhã, ao entrar para o eléctrico dos Olivais, senti um baque, vi aquele rosto como nunca outro assim, não era feio e era quase bonito, estava antes da fealdade e da beleza, era um rosto do homem antes do homem, não podia ser senão ele, ninguém me disse, mas eu olhei e soube que só podia ser ele, Miguel Torga. A menos que fosse a reincarnação de Viriato. E soube mais: soube que ele só podia ser assim, aquele rosto, aquele olhar de águia das montanhas, aquele porte de camponês e príncipe. Soube que ele só podia ser assim e só podia ter aquele nome. (...) Não creio que tenha sido por homenagem a Cervantes e Unamuno, nem sequer pela flor do monte, mas sim pelas vogais e consoantes. Há nomes que estão certos sem se saber porquê e este nome está certo. Veja-se o e de Miguel e o o de Torga, vogais abertas, mas, sobretudo, nem percebo porque nunca ninguém deu por isso, veja-se o g de Miguel e o g de Torga. Esse é o segredo, vogais, consoantes, sonoridades, correspondências, mistérios. Seja como for, ele só podia ter aquele nome e este nome. É por isso que não sei quem é Adolfo Rocha. Acho que Miguel Torga é só isso, Miguel Torga, ele próprio, o outro, no exacto sentido em que Rimbaud definiu o poeta moderno: "je est un autre". Ou talvez seja mais complicado, talvez ele tenha acabado por fazer o contrário: um outro é eu.
O garoto trangalhadanças que de fralda de fora vai à escola aprender a gramática e a tabuada nunca se chamou Adolfo. Mesmo sem o saber ele já era Miguel e só nasceu verdadeiramente quando o autor o pôs em Agarez, que é S. Martinho erigido em local mítico, o tal "local sem paredes", onde a escrita e a vida se fundem em realidade e símbolo para ganhar uma dimensão universal.»
Manuel Alegre

Miguel Torga nasceu a 12 de Agosto de 1907, em S. Martinho de Anta.


quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Enid Blyton

Enid Blyton nasceu a 11 de Agosto de 1897.


Os Cinco da minha infância...

Eram o motivo da alegria da ida à Feira do Livro, na Avenida da Liberdade, e eram ouvidos na rádio, aos Sábados à tarde, na Emissora Nacional.


Demasiado território

Em dois momentos do ano, com as chuvas e com os fogos, discute-se fala-se do ordenamento do território.


Depois esquecemo-nos todos...

Temos de concluir que Portugal tem demasiado território.
Não se sabe o que fazer ao interior.
Vivemos acima das nossas possibilidades.


Incêndios - ir aos arquivos

Porque a História não se repete... mas quase!

Luís Afonso - Cartoon de 2003



«A cíclica consequência dos dramáticos incêndios de Verão tem a ver com (...) aquela estúpida ideia de modernização de Portugal, assente num absurdo conceito de desenvolvimento que nos fez macrocefalizar no litoral e desertificar no interior. (...)

Quem se der ao trabalho de fazer uma análise diacrónica de tais trágicos eventos, comparando os sempiternos discursos ministeriais sobre os repetidos acontecimentos, poderá, sem dúvida, compor mais um desses líricos discursos sobre o nosso amargurado destino, fazendo-os acompanhar com os trinados faduchos da inevitabilidade. (...)

O país continua a arder porque abandonámos, da agricultura, os princípios das projectadas leis de fomento agrário de Joaquim Pedro Oliveira Martins e Ezequiel de Campos, optando pela suicida perspectiva dos desenvolvimentistas que comandaram o processo de integração na CEE.

(... ) enquanto os tecnocratas dos fumos de chaminés, os especialistas em engenharia financeira, os planeadores do betão e os criados das multinacionais nos iam transformando em terra de ninguém, passando dos governos presidenciais para os governos da AD e, destes, para o do Bloco Central, enquanto nos intervalos abichavam tachos em empresas públicas e quase monopolizavam o sistema de consultadoria da integração europeia, do desenvolvimento regional e do apoio às autarquias. (...)

Não reparámos que uma das nossas especificidades tem a ver com o facto de, em termos de mata, sermos o país mais minifundiário da Europa. Com mais de meio milhão de proprietários florestais, e menos de dez por cento do país cadastrado, quase todos nós temos o nosso pedacinho de pinhal lá na santa terrinha, o sustento que serviu para a compra de um andar peri-urbano, bancariamente hipotecado, que se vai saldando com um trabalho burocrático no sector dito dos serviços. Daí que a racionalização da floresta passe pelo conflito com o individualista direito de propriedade, onde só através de um renovado plano de emparcelamentos poderemos permitir a criação de condições para um adequado ataque aos incêndios. E basta recordar como, por ocasião de outros grandes fogos, falharam estrondosamente planos ministeriais europeizados, inadequados às condições sociais. (...)

Outrora, as matas integravam-se num certo ciclo económico que garantia uma exploração mais ou menos racional, quando os padeiros, dos fornos a lenha, até pagavam aos proprietários para limparem as respectivas matas, numa altura em que, nas aldeias e vilas, ainda vivia uma elite nacional e uma população activa que mantinham um certo equilíbrio com a paisagem do Portugal dito profundo. (...)

É esse Portugal de um campesinato livre que continuamos a destruir impunemente, para nos transformarmos num bando de subsidiodependentes que têm que agradecer aos ministros dos reformados, aposentados e medalhados, esses auto-convencidos demagogos, que, distribuindo moedinhas, tentam comprar o voto. Se não optarmos por outro modelo de desenvolvimento, Portugal continuará a arder. (...)

Porque continuam livres os incendiários da mera negligência, incluindo os tais que prometem livros brancos e novos planos para a racionalização das florestas, quando, dentro do actual sistema, todas as promessas de recuperação das matas são economicamente inviáveis. Limpar o espaço de mais de meio milhão de proprietários custaria não sei quantos orçamentos de Estado. Obrigar todos eles ao cumprimento da lei das limpezas, obrigaria a que mobilizássemos para o efeito as próprias forças armadas. Basta fazermos contas ou experimentarmos. (...)»

José Adelino Maltez, (texto escrito em Agosto de 2005)

E "parece" haver intere$$es à volta das madeiras (e de terrenos para elas) e de aviões e helicópteros...
E há os pirómanos...

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Hemeroteca Municipal de Lisboa



Rua Lúcio de Azevedo, 21 B, Laranjeiras


Informal Echoes

Uma delícia para velhotes!...





Pink Floyd em museu


O Museu Victoria & Albert vai apresentar uma exposição dedicada aos Pink Floyd e à música psicadélica de que o grupo, nos anos 60, será o representante máximo.




Self-Made-Man





Mais do que merecida!


A medalha que lhe fugia. É quase um prémio de carreira!
Parabéns à Telma Monteiro e a quem com ela trabalha.


A viver acima das nossas possibilidades



Mas sobre isso... silêncio de quem manda no capital.


Ao nível dos campeões olímpicos



As marcas redondinhas são o resultado da aplicação de ventosas. Tendo o efeito de sucção, diminuem a tensão muscular, reduzindo as dores e o stress.
Trata-se de uma técnica da medicina tradicional chinesa (ou oriental, se é que se pode generalizar), mas também era uma forma de tratamento tradicional no nosso país (e, provavelmente, noutros). Os "antigos" já sabiam muito!
Andam as agências de notícias a espalhar a "grande novidade"...

Mas, ao menos agora, já parecerão menos estranhos os círculos arroxeados nas minhas costas.
Estou ao nível olímpico!


domingo, 7 de agosto de 2016

sábado, 6 de agosto de 2016

Descubra as diferenças



«Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflecte!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!»
(Álvaro de Campos)


50 anos da Ponte sobre o Tejo

A alguns quilómetros de distância, assisti ao fogo de artifício que, à entrada do dia de hoje, celebrou os 50 anos da inauguração da ponte sobre o Tejo entre Almada e Lisboa (Ponte Salazar, primeiro, 25 de Abril após 74).

Depois de muitos sonhos e projectos, incluindo o de um túnel, a ponte construiu-se a partir de 5 de Novembro de 1962, para ser inaugurada a 6 de Agosto de 1966.
Houve longas filas de carros para a atravessar após a cerimónia oficial, o que custava 20 escudos a cada automóvel. Lembro-me das moedas comemorativas, exactamente desse valor.

Lado Norte, no dia da inauguração 
Os cafés de bairro encheram-se para ver a reportagem em directo, porque a televisão ainda era um luxo relativo.
E eu, com 7 anos de idade, fui a casa já não sei de que vizinho para ver a inauguração, organizada com toda a pompa e circunstância pelo regime.

Convidados e militares, na zona das portagens
As esposas dos senhores do regime

Atravessar a ponte pela primeira vez, no Fiat 600 de um tio, cheio de gente, foi uma festa.
Chegámos à outra margem e... demos a volta, regressámos a Lisboa.
Mais tarde, passá-la diariamente foi "vício" durante um bom número de anos, a caminho das escolas.



Capa do Diário de Notícias de 7 de Agosto de 1966

As 3 últimas fotografias foram retiradas do blog Restos de Colecção.


D. Sebastião e o sebastianismo

"E o D. Sebastião levou tantas na pinha
que ao voltar cá encontrou a vizinha
espanhola sentada na cama deitada no trono
e o país mudado de dono"



O sebastianismo - "uma prova póstuma da nacionalidade" - no contexto do antigo regime português:
«A alma lusitana, ingénua na sua candidez - desconjuntado e condenado o sistema de ideias patrióticas que desde o século XVI tinham dado vida à nação -, rebentava em soluços, buscando no seio da natureza, onde se acolhia, uma salvação que não podia esperar mais das ideias, dos sistemas, dos heróis, nem dos reis em quem tinha confiado por dois séculos. A obra temerária dos homens caía por terra; e o povo, abandonado e perdido, abraçava-se à natureza, fazendo do lendário D. Sebastião um génio, um espírito - e da sua história um mito.»
(Oliveira Martins, História de Portugal)


quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Alcácer Quibir

«Na segunda-feira, quatro de Agosto do ano de mil quinhentos e setenta e oito, dia de S. Domingos, os dois exércitos avistaram-se pela primeira vez junto ao rio Luco, a uma légua de Alcácer Quibir. Havia intensa reverberação no ar, causada não por uma brisa refrescante ou vento do deserto, mas pelo estrépito das fanfarras e o estrondo dos tambores que marcavam o ritmo dos gestos a homens e animais cujos corações batiam desordenadamente de medo e bravura.»
(Deana Barroqueiro, D. Sebastião e o Vidente)


segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Introdução à História - Marc Bloch

Começar Agosto a encontrar uma relíquia e a recordar o tempo da descoberta da História.

Esquecido numa estante da livraria, um livro, na sua edição de 1997 (a 1.ª em Portugal):


À ideia, pela proximidade da visita do Papa aos campos de concentração nazis e às imagens passadas, o fim de Marc Bloch.
Historiador francês nascido há 130 anos (6 de Julho de 1886), grande especialista em história medieval, teórico de uma nova corrente da História e fundador da revista Annales d'Histoire Économique et Social, revista símbolo dessa corrente, judeu perseguido pelos nazis/regime de Vichy, que integrou a Resistência e foi preso e fuzilado (em território francês) pela Gestapo, em Junho de 1944.

Introdução à História - título original, Apologie pour l'Histoire ou Métier d'historien - na sua nova edição, revista, aumentada e criticada pelo filho mais velho, Étienne Bloch, a partir da totalidade dos manuscritos deixados, o que permitiu corrigir algumas passagens da edição anterior, da responsabilidade do velho companheiro de Marc Bloch, o também grande historiador Lucien Febvre, a quem a obra foi dedicada.

Obra incompleta, pelas circunstâncias históricas em que se encontrava a ser escrita.
Na dedicatória, redigida em 1941, já Marc Bloch duvidava da própria publicação da obra:
«Se este livro vier, um dia, a ser publicado; se, de simples antídoto ao qual peço hoje, entre as piores dores e as piores ansiedades, pessoais e colectivas, um pouco de equilíbrio da alma, vier a tornar-se jamais num verdadeiro livro, lançado para ser lido (...)»

Da primeira edição portuguesa, guardo o exemplar comprado quando da entrada na Faculdade, com muitas anotações (a lápis, claro!) nas margens, em letra miudinha de estudante "aplicado", cheio de vontade de aprender com o velho mestre.

«"Pai, diga-me lá para que serve a história." Era assim que um rapazinho meu próximo parente interrogava, há poucos anos, um pai historiador. Gostaria poder dizer deste livro que ele é a minha resposta.»
Assim começava.
Adivinha-se que o rapazinho seria o seu filho.
Assim entrei na História, feito filho de Marc Bloch.



O fim das cerejas...

Começar Agosto pelo fim...


... das cerejas.

Chegaram tarde, caras, sem ser grande coisa, mas as últimas foram bem melhores, gradas e... caras, na mesma. Mas valeram pelo bem que souberam.
Fico a aguardar o novo tempo das cerejas...