diante da luminosidade
este ano mais intensa e translúcida
Solstício de verão
sei - a misturar-se no grande
esplendor de forma incerta
com os restos nocturnos
de Lua cheia
Desatenta, tento fugir ao olhar
do meu amante
que em mim sempre dá conta
da gazela que escapa
ao caçador
Enquanto jamais desisto
de cumprir sozinha a lâmina
de sol em brasa na forja do ferrador
Lume misterioso e sagrado
procurando eu sempre e ainda
o odor de cada um dos astros
em busca da cintilação maior
do dia mais longo
Ao encontro do verão
inscrito no corpo belo e nu
do meu amante-amado
- És minha...
diz ele, iludindo-me o protesto
e tomando-me a si, ignorando
o cardo desde
sempre
existente em mim
A querer que nos tornássemos
num único
e indimensionável corpo astral
Trópico de Câncer - entendo
de súbito a perder-me
mas logo a desejar reencontrar-me
intacta
diante da rotação
da Terra
em torno de si mesma
Porque pretendo
ser
da condição da luz
da claridade maior enquanto
grito de paixão
voando pelos luzeiros do espaço
desejando mudar-me
tornar-me
na deslumbrante esfera celeste
- Fruição?
Indago em vão a mim
própria
na nudez do silêncio da tarde
Insubmissão!
Maria Teresa Horta - 20 de Junho de 2016
(na sua página oficial do facebook)
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