"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Manuel Alegre - Prémio Vida Literária

Prémio Vida Literária 2015/2016 para Manuel Alegre.
Escolha unânime da direcção da Associação Portuguesa de Escritores, tendo em consideração os 50 anos de percurso literário e uma obra "símbolo da luta pela liberdade".

O Prémio neste dia fica-lhe bem.

Poema com h pequeno

Cantarei o homem criador crucificado
em suas máquinas. Caçador caçado
por suas armas. Tocador tocado
por suas harpas.
Cantarei o homem vezes homem até ao infinito.
Cantarei o homem: esse mortal-imortal
meu amigo-inimigo. Meu irmão.

Cantarei o homem que transforma tudo
e tão dificilmente se transforma.
Ele que se escreve com h pequeno
em todas as coisas que são grandes.

Cantarei o homem no plural.
Ele que é tão singular
tão impossível de ser outro
senão ele próprio: o homem.

Cantarei o homem vezes homem até à massa.
Cantarei a massa vezes massa até ao homem.
Porque não sei de outra guerra. Não sei de outra paz.
Não sei de outro poema que não seja o homem.

O Canto e as Armas



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