Quem é esse viajante
Quem é esse menestrel
Que espalha esperança
E transforma sal em mel?
Quem é esse saltimbanco
Falando em rebelião
Como quem fala de amores
Para a moça do portão?
Quem é esse que penetra
No fundo do pantanal
Como quem vai manhãzinha
Buscar fruta no quintal?
Quem é esse que conhece
Alagoas e Gerais
E fala a língua do povo
Como ninguém fala mais?
Quem é esse?
Quem é esse?
De quem essa ira santa
Essa saúde civil
Que tocando a ferida
Redescobre o Brasil?
Quem é esse peregrino
Que caminha sem parar?
Quem é esse meu poeta
Que ninguém pode calar?
Quem é esse?
Em 1983, Milton Nascimento e Fernando Brant lançaram esta canção, de homenagem a Teotônio Vilela, deputado estadual, vice-governador e senador, natural do Estado de Alagoas.
Teotônio Vilela, tendo militado num partido político de apoio ao Governo militar instituído com o golpe de 1964 - ARENA - acabou por evoluir politicamente para a defesa da democratização do Brasil. No final da década de 1970, aderiu à Frente Nacional pela Redemocratização (e viria a filiar-se no Movimento Democrático Brasileiro, o partido da oposição, a 25 de Abril... de 1979).
Essa Frente patrocinou a candidatura do general Euler Bentes Monteiro (um Bentes!) à presidência, em 1978. Euler Bentes Monteiro perderia, com 39,9% dos votos de um colégio eleitoral (226 votos contra 355 do general João Baptista Figueiredo).
A canção Menestrel das Alagoas tornar-se-ia um dos hinos da campanha das Diretas-Já, movimento que exigia que o Congresso aprovasse a emenda constitucional instituindo a realização da eleição directa para a presidência da República, visando pôr fim ao regime militar.
As eleições de 1985, com a vitória de Tancredo Neves, foram as últimas por via indirecta, tendo encerrado a ditadura militar.
O disco de Milton, Milton Nascimento ao vivo, inclui essa canção e Coração de Estudante, o outro "hino" das Diretas-Já.
Comprei esse LP no dia do meu casamento, em 1984.
E lembrei-me destas músicas (e da sua história) a propósito dos acontecimentos no Brasil.
Com tanto caminho andado, por onde irá a democracia brasileira?
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