"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 13 de dezembro de 2015

Ranking das escolas

Já estava com saudadinhas do Ranking.
As melhores e as piores escolas...
Sempre dá tema para um semana... se, entretanto, não acontecer nada de mais vistoso.
E dá para repisar conclusões e chavões.

A comunicação social gosta muito de classificações. O vulgo também gosta.
A matemática pode ser fraca, mas liga-se muito ao numerozinho. Por isso se batem os recordes do Guiness.
E ultimamente temos tido os 10 locais de férias mais bonitos, os 15 melhores vinhos, o melhor jogador do mundo, as 20 anjos (anjas?) da Victoria's Secret mais bonitas de sempre... A Songlines coloca o último disco de Mariza entre os 10 melhores do Mundo. O Observador classifica-o de "fraquito".
Critérios! Que critérios?
Adoram-se as sondagens! Facilitam uma análise, mesmo que possa ser rasteirinha: há dados (pretensamente) objectivos: estava em primeiro, desceu para terceiro. Subiu três lugares. Ultrapassou. Manteve... (alguma análise política enferma desta visão, ficando pela superficialidade).

Voltando ao Ranking:
A minha escola melhorou, nos resultados do 6.º ano, 106 lugares a nível nacional, 347 lugares nos resultados do 9.º ano. É bom! Quer dizer, sempre é melhor do que ver a escola piorar na classificação. Mas...
Quem garante que, no próximo ano, continuando os meus colegas a fazer o mesmo trabalho sério, os resultados não possam piorar?
O meu trabalho pouco conta - sou professor de História e Geografia de Portugal no ensino básico e não há exames na disciplina, pelo que posso ser considerado um excluído deste sistema de rankings.

Mas, vejamos: no ano lectivo passado, tinha turmas do 6.º ano em que a maioria dos alunos era responsável, tinha vontade de aprender e estudava. Agora, a maioria dos alunos que tenho no 6.º ano está à espera que os resultados positivos caiam do céu - eu que faça o trabalho por eles! Sou o mesmo professor (só mais velho, mais cansado um ano...), a escola é a mesma e tem havido a preocupação por melhorarmos o nosso trabalho e os resultados dos alunos, o que é decisivo para a avaliação da escola e permite ganhos nas condições de que a escola dispõe para o desenvolvimento do seu trabalho. A filosofia não mudou.
Simplesmente, há variáveis que não consigo controlar. Os resultados não são lineares.
Se eu fosse gerente de uma fábrica e os alunos correspondessem à matéria-prima que trabalhasse, este ano, eu reclamava da sua qualidade! E mudava de fornecedor! (mas os meus colegas do ciclo anterior são os mesmos...)
Como escola pública, os nossos "clientes" são os que nos calham por área de residência. Não há outras condições - não há entrevistas selectivas, não há um crivo financeiro/social/cultural.
Costumo comparar os alunos por anos lectivos à produção vinícola. Há anos de boas colheitas, há anos que nem por isso...
Não me desculpo com o clima, o ciclo lunar, o alinhamento dos astros, a passagem de um cometa...
As variáveis humanas é que são grandes...
Evidentemente que me preocupo com os resultados que a escola apresenta. Rankings, da forma como são apresentados e como são comentados, na maioria dos casos, dispenso-os.
Também só são válidos por uma semana...



Sem comentários:

Enviar um comentário