CADA VEZ estou convencido que a vergonha é
coisa que caiu em desuso pelos ditos políticos portugueses. Dia após dia os
exemplos vão avolumando-se e o povo ignaro assista a este festival de mentiras
e despudor que é apresentado em todos locais, nomeadamente em feiras, circos e
fantoches de rua, com o que antes era a ganapada que os aplaudia e hoje somos
nós, os Portugueses, que os aturamos e, por vezes, até os aplaudimos. Já
ninguém, ou quase, que encolhe os ombros e amocha quotidianamente.
(…) É fartar, vilanagem!
Carlos Moedas, ex-secretário de Estado adjunto do
primeiro-ministro (?) Passos Coelho, assumiu na terça-feira de manhã na sua
audição no Parlamento Europeu, em Bruxelas, que discordou “muitas vezes” com a
política da troika, mas mostrou capacidade de resposta, uma característica que
considera importante como futuro comissário de Investigação, Ciência e
Inovação. Isto porque, no seu entender o pais “precisava de mostrar
credibilidade na Europa”.
E disse mais: “Estive durante três anos a ajudar no
programa de ajustamento que foi muito difícil, foram sacrifícios enormes,
sempre reconheci a dureza e o sacrifício do programa. Portugal estava num
momento em que precisava de mostrar a sua credibilidade àqueles que deram
dinheiro”, defendeu, na resposta à eurodeputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias.
E se por acaso, longe vá o agouro, uma nova crise se
apresentar, espera que a resposta política consista antes no investimento na
ciência e inovação. No entanto, Carlos Moedas defende que o seu trabalho
passado demonstrou a capacidade de resposta. “Sou uma pessoa que apresenta
resultados e no Horizonte 2020 [o próximo programa europeu de financiamento da
ciência] é importante ter uma pessoa que apresenta resultados.”
Tem o seu interesse verificar que um dos executantes
mais empenhados na aplicação aos Portugueses do diktat da troika, com a enorme
violência que é conhecida venha agora que até discordou dessa receita
malfadada. É bem o exemplo de não ter vergonha na cara. Quando a dupla Passos e
Gaspar se travestiu em Passos e Maria Luís aplicou a nós, os Portugueses, a
subida dos impostos, os cortes nas pensões, até aos mais desprotegidos,
renegando o contrato com elas assinado e deitando às urtigas a afirmação de que
o Estado é pessoa de bem (era), Moedas lá estava acirradamente a implementar o
desvario.
Agora, no Parlamento Europeu que o examinou saiu-se
com esta mentira, o desavergonhado. Após três horas de questões ao futuro
comissário que deverá ficar responsável pela pasta da Investigação, Ciência e
Inovação, Carlos Zorrinho, do PS, que é membro efectivo da comissão de
Indústria, Investigação e Energia, comentou que Moedas "estava bastante
preparado e teve uma prestação claramente positiva". Mas, também disse que
a grande questão é saber se Moedas será mais leal às ideais do presidente eleito
da CE, Juncker, que fez do investimento uma das suas grandes
"bandeiras", ou à linha do Governo português de Passos Coelho.
"Quase imagino o que vai ser o dia-a-dia de
Carlos Moedas nos próximos tempos: de manhã receberá um telefonema de
Jean-Claude Juncker a dizer «investe, investe, investe»; ao fim da tarde,
Passos Coelho, que tem assento no Conselho e não tem feito nada para aumentar o
investimento nesta área, vai telefonar a dizer «corta, corta, corta»",
zombou Zorrinho, que ainda acrescentou que fica à espera de saber "de que
lado estará" o antigo secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro
nas suas funções como comissário.
Marisa Matias, do BE e João Ferreira afinaram pelo
mesmo diapasão, naturalmente com algumas diferenças não substantivas. Ou seja
Moedas está bem preparado para quê? Dispõe de 80 mil milhões até 2020 para
apoiar, implementar e desenvolver as políticas de inovação, ciência e Inovação.
Ao contrário do que fez enquanto membro do (des)Governo de Passos & Portas,
agora na Europa vai gastar o que “desgastou” em Portugal. Será ele capaz de o
fazer? Como nos primórdios da televisão neste país triste e desgraçado, se
dizia “O programa segue dentro de momentos” e isso representava umas horas de
ecrã negro como a noite mais negra, há que esperar pelos resultados do
preparado mas desavergonhado Carlos Moedas. Até lá, benza-o a Senhora do
Agrela, que não há santa como ela.
Antunes Ferreira, http://sorumbatico.blogspot.pt/ , 4 de Outubro de 2014
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