"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Por que razões surgiu o Convento de Mafra

Motivado pelas notícias do seu aniversário e pelas iniciativas "anexas", parti, no Domingo, à revisitação do Museu Arqueológico de S. Miguel de Odrinhas.


Burro! Não consultei o horário de funcionamento do museu.
Fecha ao Domingo.
Isto de museus e outros espaços culturais fecharem ao Domingo!... Quando a maioria da população tem o tempo disponível para usufruir desses bens...

A família propôs Mafra.
Lá fomos ao convento prometido por D. João V, porque o frade "sabia-a toda"!

«Mas vem agora entrando D. Nuno da Cunha, que é o bispo inquisidor, e traz agora consigo um franciscano velho. Entre passar adiante e dizer o recado há vénias complicadas, floreios de aproximação, pausas e recuos, que são as fórmulas de acesso à vizinhança do rei, e a tudo isto teremos de dar por feito e explicado, visto a pressa que traz o bispo e considerando o tremor inspirado do frade. Retiram-se a uma parte D. João V e o inquisidor, e este diz, Aquele que além está é frei António de S. José, a quem falando-lhe eu sobre a tristeza de vossa majestade por lhe não dar filhos a rainha nossa senhora, pedi que encomendasse vossa majestade a Deus para que lhe desse sucessão, e ele me respondeu que vossa majestade terá filhos se quiser, e então perguntei-lhe que queria ele significar com tão obscuras palavras, porquanto é sabido que filhos quer vossa majestade ter, e ele respondeu-me, palavras enfim muito claras, que se vossa majestade prometesse levantar um convento na vila de Mafra, Deus lhe daria sucessão, e tendo declarado isto, calou-se D. Nuno e fez um aceno ao arrábido.
Perguntou el-rei, É verdade o que acaba de dizer-me sua eminência, que se eu prometer levantar um convento em Mafra terei filhos, e o frade respondeu, Verdade é, senhor, porém só se o convento for franciscano, e tornou el-rei, Como sabeis, e frei António disse, Sei, não sei como vim a saber, eu sou apenas a boca de que a verdade se serve para falar, a fé não tem mais que responder, construa vossa majestade o convento e terá brevemente sucessão, não o construa e Deus decidirá. Com um gesto mandou el-rei ao arrábido que se retirasse, e depois perguntou a D. Nuno da Cunha, É virtuoso este frade, e o bispo respondeu, Não há outro que mais o seja na sua ordem. Então D. João, o quinto do seu nome, assim assegurado sobre o mérito do empenho, levantou a voz para que claramente o ouvisse quem estava e o soubessem amanhã cidade e reino. Prometo, pela minha palavra real, que farei construir um convento de franciscanos na vila de Mafra se a rainha me der um filho no prazo de um ano a contar deste dia em que estamos (...)»
José Saramago, Memorial do Convento

Vimos o palácio, espreitámos a noiva na basílica (foi mais o padre, que a noiva estava atrasada - mas depois despachou-se depressa) e demos uma vista de olhos num cantinho do convento propriamente dito, que a soldadesca alambazou-se com o resto.
Foi no convento que, em 1981, me apresentei para não fazer a tropa.


No geral, muita falta de informação sobre os espaços e os objectos expostos. Inclusive, alguns painéis temporários retiravam visibilidade a uma ou outra pintura.
Pobreza (num espaço daquela riqueza!), descuido... E não se paga tão pouco assim.



Reparo positivo: a funcionária da biblioteca prestava informações sobre o espaço, a colecção de livros, a sua conservação, os morcegos que lá habitam, etc. E sabia de que falava.



1 comentário:

  1. em geral no patrimonio português a informacao é muito limitada, muitos visitantes se queixam disso

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