"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

terça-feira, 15 de abril de 2014

Visita ao Convento das Trinas do Mocambo

Continuo o percurso por Monumentos e Sítios.
Convento das Trinas do Mocambo, actual sede do Instituto Hidrográfico.
Foram-se as freiras, expulsas pelos republicanos, mais radicalmente do que pelos liberais.


Remonta o convento ao século XVII, fruto da herança de um casal flamengo sem filhos - Cornélio Wandali e Martha de Bóz. Um aglomerado de casas a Santos-o-Velho ("um dos melhores subúrbios da cidade") foi legado à Ordem Hospitalar da Santíssima Trindade do Resgate dos Cativos.
«(...) as casas que tinha no Mocambo e a ermida que lhe tinha acrescentado fossem para se accomodar alli um mosteyro de freyras da Ordem da Sanctíssima Trindade, e pêra fábrica do dito convento e sustento das Religiosas deyxava seos bens.»

Este Mocambo não é aquele cafezito instantâneo do "gosto bom, bom, bom", é nome que virá dos negros que habitavam a zona - significava choça em que os negros se abrigavam quando fugiam para o mato. Também encontrei a possibilidade de ser a adulteração de "mocâmo" (casa ou local sagrado) e teria origem no facto de ter existido no lugar uma mesquita.
Ao convento pertencia, juntamente com o da Boavista, o casal de Buenos-Ayres, hoje zona da Lapa onde fica a sede do PSD, urbanizada pela burguesia comercial da cidade, afastada do centro com o terramoto de 1755.

Saída a Ordem Trina do reino, ocupado o convento pelas irmãs Hospitaleiras da Ordem de S. Francisco, a implantação da República, com a sua vertente anti-clerical, veio baralhar a ocupação do(s) edifício(s).
Entre outros serviços, aqui funcionou o tribunal que julgou os conspiradores monárquicos (1911) e o Arquivo de Identificação. Em 1969, foi instalado o Instituto Hidrográfico, na sequência do incêndio nas suas instalações da Rua do Arsenal.

Episódios:
Expulsão das religiosas (1910)
À direita, duas (o)varinas da Madragoa


Em toda esta história, muito sofreram os edifícios.
Do que resta:

Átrio principal - pormenores de silhares de azulejos
(anjos com a estrela, a Lua e o Sol)
Painel de azulejos sobre a porta do átrio interior
- figura do Anjo Libertador dos Cativos
Tecto do coro baixo
- Coroação de Nossa Senhora

Lavatório

Tecto da primeira cozinha

Cozinha grande
(pormenor da biblioteca instalada na antiga chaminé)

Pormenor do tecto da cozinha grande
- figura do Anjo Libertador
Azulejos do coro baixo

Uma visita muito bem guiada pelo Dr. Carlos Gomes (penso que o nome esteja certo) a um espaço original já muito adulterado, com marcas de muitas outras histórias (que também já são a sua história).


2 comentários:

  1. Curtinha... É mesmo um resumo reduzido ao mínimo do que ouvi e li. Mas há possibilidade de visitar o Instituto Hidrográfico (logo, o convento). A recepção foi muito agradável.

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