"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

terça-feira, 8 de abril de 2014

Saudavelmente irrequietos

Em tempos de avaliação de alunos, recordei-me do António pela necessidade de atribuição de uma classificação ao comportamento global das turmas.
É preciso o rótulo, porque esta avaliação é séria, segue modelos científicos solidamente comprovados e estamos no período do Homo Avaliadus - tudo medível, quantificável, objectivável, comparável, vel, vel e vel.

Em relação ao comportamento de uma das minhas turmas, discutia o Conselho de Turma a atribuição da classificação - Satisfatório, nem pensar! Não satisfatório, demasiado rigoroso! Pouco satisfatório (essa coisa híbrida, um negativo suave ou positivo depreciado)...
Uma colega (que até deprecia a turma em causa) usou o termo buliçosa para a caracterizar. Eu (que até aprecio a turma, embora lhe reconheça defeitos no funcionamento e procure ensaboar o juízo aos alunos) considero que esse era o adjectivo adequado para classificar a turma. Mas buliçoso não encaixa na terminologia oficial.
Lá ficou o pouco satisfatório, minimamente satisfatório para o objectivo em questão.

Em 1995/96, Director de Turma do 8.º 8, orientava um Conselho de Turma em que as opiniões se dividiam - extremavam mesmo - para classificar o comportamento dos "meus meninos".
"Cobras e lagartos", "frescos", nada disso, antes pelo contrário, que os pequenos sabem bem (?) o que fazem e com quem fazem... Não saíamos dali, até o António propor a novel classificação de "Saudavelmente irrequietos"!
Gerou-se o consenso, tácito pelo menos - não sei até que ponto todos achavam que aquela irrequietude reconhecida era mesmo saudável.
Como a avaliação não era, àquela época, uma coisa séria, muito séria, crucialmente estratégica para o sistema de ensino pelo seu rigor e cientificidade, como hoje se pretende (fazer crer), a classificação registada foi mesmo essa.
Faz agora 19 anos que ficou lavrado em documentos oficiais que os alunos do 8.º 8 da EB 2/3 Paulo da Gama eram, do ponto de vista comportamental, "saudavelmente irrequietos".
Eu revia-me nessa original classificação atribuída.

18 anos depois, até acredito, porque de vez em quando eles (já pais e mães) passam por aqui, que alguns desses irrequietos saudáveis leiam este post. E se revejam, também, recordando o professor que sugeriu tal classificação, fora dos cânones, completamente desformatada para os dias de hoje.

Os "irrequietos saudáveis" em repouso;
o António está deitado no banco.
(Angra do Heroísmo - 1997)


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