"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

O abraço saiu-me aqui

«Que tristeza isto de a gente escrever! Secos como paus na vida, e sai-nos depois a ternura pelo bico da pena! Comigo é assim. E como ninguém me lê - ninguém dos que eu mais desejava que recebessem ternura de mim (minha Mãe, meu Pai, minha Irmã, uns pobres amigos rudes que tenho na minha terra e uns infelizes que encontro por este mundo) -, fica tudo em letra morta. Hoje todo eu fui uma sede ardente de abraçar um infeliz que calcorreava às apalpadelas as ruas escaroladas da Nazaré. Um dia como uma estrela, aquela maravilha ali para se ver, e o desgraçado cego de nascença! Mas o abraço saiu-me aqui, na tinta.»
Miguel Torga, Diário, vol. I (Agosto de 1938)

Feliz 2015


segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O tempo de J. S. Bach... por Casals

Look!


É fácil, (ou)viste?

Pau Casals nasceu a 29 de Dezembro de 1876.


Diário de Notícias - 150 anos


Saiu pela primeira vez há 150, visando "interessar a todas as classes, ser accessível a todas as bolsas, e comprehensível a todas as intelligencias".
"Registra com a possível verdade todos os acontecimentos (...)". A verdade possível!...
Um jornal "de todos e para todos", que procurava ser independente através da publicidade, das assinaturas e das vendas feitas por ardinas.

O DN continua a sair diariamente.
A verdade possível...

Mais antigo, penso que só o Açoriano Oriental, fundado em 1835.


Metropolitano de Lisboa - 55.º aniversário

A inauguração do Metropolitano de Lisboa foi há 55 anos.


Um filme de divulgação passou na televisão e nos cinemas (antes do filme principal), informando sobre o funcionamento do Metropolitano.



A abertura ao público, que podia viajar gratuitamente neste dia, provocou filas enormes. E nem todos conseguiram fazer a sua primeira viagem neste dia.



Os primeiros "Metros", de duas carruagens, faziam o percurso entre os Restauradores e Entre Campos ou Sete Rios.




sábado, 27 de dezembro de 2014

O choque da realidade (ou com a realidade?)

António Arnaut, velho militante socialista (um dos fundadores do PS), indignou-se, porque um livro que enviou a José Sócrates não chegou ao destinatário.
A crítica parecia fazer sentido, parecia haver uma atitude censória, de prepotência por parte das autoridades prisionais. Tão mau ou pior do que durante o período da ditadura.

Afinal, a decisão não foi arbitrária e baseou-se em legislação aprovada perto do final do mandato de José Sócrates como primeiro-ministro (Abril de 2011). O Ministro da Justiça era, então, Alberto Martins, velho (mas não tanto) militante socialista, que se distinguiu como dirigente estudantil em Coimbra, nas lutas académicas de 1969, e que, por isso, conheceu a prisão. Tem obra publicada sobre os direitos dos cidadãos e foi merecedor da Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
Em bom pano cai a nódoa? Excessos legislativos num país excessivamente legista?
Ironia de se ser vítima de (auto-)erro legislativo?
Os princípios abstractos da lei em choque com... a chocante realidade.

Há dias, ao que ouvi, foi o Primeiro-Ministro a "vivenciar" os apertos de uma urgência num hospital público. Chocou, muito provavelmente, com a realidade resultante da política de contenção de despesas do Ministério da Saúde.

Face à discussão gerada e às alterações defendidas (num e noutro caso), parece-me ser boa política os Primeiros-Ministros em exercício ou os ex-ditos testarem o que vão fazendo enquanto governantes.
Porque, com a ligeireza com que se legisla ou se governa, se cometem indignidades, contrariando direitos elementares.


Comendo em Montalegre

São uns excêntricos estes montalegrenses!
Deve ser do que põem nos enchidos, das malgas do tinto... ou dos fumos!




Bailando na XXIV Feira do Fumeiro e Presunto de Barroso
(22 a 25 de Janeiro)


sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Jean Ferrat - C'est si peu dire que je t'aime

Jean Ferrat chant Aragon.



Jean Ferrat nasceu a 26 de Dezembro de 1930.


Não votem em mim!!!

As eleições que se lixem!
Verdadeiro momento de lucidez...

A acreditar no título do Público, Passos Coelho teve um gesto de rara humildade quando pediu aos eleitores que não deitem tudo a perder nas próximas eleições legislativas, isto é, "NÃO VOTEM EM MIM - Não façam esse disparate!"
Só pode ser isso o que ele quis dizer, não pode ser outra coisa!...


quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Nascimento de Jesus

«DAQUI A ALGUMAS HORAS CELEBRA-SE EM TODO O MUNDO a maior festa do ano. Cada lar é um templo: Deus está presente e desce até ao coração de todas as criaturas, que nessa hora suprema esquecem os agravos e as injúrias para comungarem, com lágrimas nos olhos, o mesmo pão, em torno da mesma mesa, junto ao lume que as aquece. Se há festa ao mesmo tempo cheia de grandeza e de humildade, de ternura e paz, de alegria e de imensa tristeza também - pois que de ano para ano a Morte leva um, depois outro - é esta...»
Raul Brandão, in O Dia, 24 de Dezembro de 1903
(A pedra ainda espera dar flor)


Feliz Natal


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Crepúsculo quotidiano

Por hoje já foi o bastante
por hoje basta d'evaporar bílis em espírito
alambique contra-instantes
basta d'espírito sem corpo e alma
um dia mais que vence a morte 
embate terrível entre vida e morte
vence-se a morte e não a vida
empate entre elas 
e nós resultado d'empate 
vamos indo graças a Deus

Ao cair da Luz na sua fronteira com as trevas
começa o espectáculo
o número do limite possível anima-se d'indefinido
o homem julga querer
e lê perfeitamente o que não pode
ainda? Há milénios.

De Deus e do Seu Sagrado não é a dúvida
mas no resto é
fazer fim do meio
e próprio de meio o que não é fim
nisto vamos graças a Deus

O frete de ser excede qualquer
e não se esboça outro
a dupla coluna do Céu e da Terra aos lombos de Atlas
mirra-nos o físico, larga-nos a alma, incendeia-nos o espírito 
e foca-nos
foca-nos o tríduo pelo menos.

(...)
Almada Negreiros


segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Manoel de Oliveira, O Velho do Restelo e Pascoaes

Manoel de Oliveira cumpriu os seus 106 anos.
E o seu Velho do Restelo estreou.

Num banco do nosso século, no jardim do Passeio Alegre, Dom Quixote, Camões, Camilo Castelo Branco e Teixeira de Pascoaes conversam.
Diz a produtora da curta-metragem que se trata de "um mergulho livre e sem esperança na História", a partir de um texto de Pascoaes.
Quase que aposto que o texto é de O Penitente, visão da vida de Camilo Castelo Branco, onde Cervantes/D. Quixote e Camões são frequentemente chamados ao drama da humanidade portuguesa.


«Camilo, pálido e trémulo, recebe, na memória assombrada, o desenho da borrasca, um desenho caótico ou do Caos... É o belo horrível visto e imaginado, ou visto em imagem, essa fêmea grávida, nos miolos dum Poeta. A imagem do mar pariu os Lusíadas; e a da alma humana o D. Quixote. Cervantes viu-a, como se ela fosse uma estrela. E a nossa própria imagem não somos nós num efeito quimérico de luz?»
Poderá ser este o ponto de partida...
Curiosidade...

O Penitente, grande livro!


segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O 90.º aniversário de Mário Soares


Mário Soares completou 90 anos e teve um grande almoço comemorativo.


Podemos gostar mais ou gostar menos de Mário Soares, concordar ou discordar dele, mas estou certo que terá um lugar na História. O século XX português não seria o mesmo sem ele.

De quem nos (des)governa agora, a História não se lembrará ou apontará os seus nomes como sendo os dos principais responsáveis por um período negro do país.


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

domingo, 30 de novembro de 2014

A chilreada fortuita dos pássaros





sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Não bastava um!...

Clonagem?
Acreditam que vão garantir a preservação da espécie?

Título do CM de hoje


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Título bombástico!

Pelo título do DN on-line se percebe o interesse da entrevista do Primeiro-Ministro esta noite: ZERO!
A afirmação é de uma profundidade... Nunca ninguém disse tal coisa!!!


Também o modelo de entrevista e com este jornalista...
Nunca se iria longe!


O Cante Alentejano Património da Humanidade

CANTEmos

Património imaterial e material
Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa nos Jerónimos


O Cante Alentejano, representado em Paris pelo Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa - os "artesãos" desta candidatura (com a Câmara Municipal) - está inscrito na lista representativa do Património Cultural da Humanidade.




domingo, 23 de novembro de 2014

Isto de saber ler...

«A poderosa razão que o lavrador Roberto Rodrigues opunha para não mandar ensinar a ler o filho, era — que ele pai também não sabia ler, e mais arranjava lindamente a sua vida. Esta vinha a ser a razão capital, reforçada por outras subalternas e praticamente bastante persuasivas.
— Se o rapaz souber ler — argumentava triunfantemente o idiota — assim que chegar a idade, às duas por três, fazem-no jurado, regedor, camarista, juiz ordinário, juiz de paz, juiz eleito. São favas contadas. Depois, enquanto ele vai à audiência ou à Câmara, a Cabeçais, daqui uma légua, os criados e os jornaleiros ferram-se a dormir a sesta de cangalhas à sombra dos carvalhos, e o arado fica também a dormir no rego. E ademais, isto de saber ler é meio caminho andado para asno e vadio.
E citava exemplos, personalizando meia dúzia de brejeiros que sabiam ler e eram mais asnos e vadios que os analfabetos.»
Camilo Castelo Branco, Vulcões de Lama


O sentido da palavra nobre

Antes que ensandeçamos com a histeria de uma série de ditos repórteres-jornalistas a propósito da detenção para interrogatório de José Sócrates, ainda mal refeitos do caso dos vistos gold (que, entretanto, perderam todo o brilho jornalístico), contemplemos o sorriso das vacas.
Ao "jornalismo de matilha", prefiro a bovinidade.
Repetindo Marguerite Yourcenar, nestas situações "é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros." É mais saudável.
Procuremos não ir na corrente e manter a lucidez.

Em contrastes com o que serão comportamentos pouco éticos, falemos de nobreza.
Há quase duas semanas faleceu Fernando Mascarenhas, com ou sem o Dom, Marquês de Fronteira e de Alorna e Conde da Torre, entre muitos outros títulos.
Numa entrevista concedida em Dezembro de 2000, afirmava o marquês:
«Há dois sentidos da palavra nobreza: a nobreza como substantivo e a nobreza como adjectivo. Todas as pessoas, qualquer que seja a sua condição social, podem ser nobres, sem que os seus avós tenham pertencido à classe da nobreza. Idealmente, os dois sentidos tendem a coincidir. Idealmente, numa sociedade ideal, as pessoas nobres de alma e de carácter deviam ser nobilitadas. Fui educado a saber a história que carregava no meu nome e tive de aprender a conhecê-la bem, a merecê-la, sem que, por isso, me sentisse senhor de quaisquer prerrogativas especiais.» 



«Ter a noção de que tinha nascido nobre era de algum modo um privilégio (que hoje em dia, felizmente, não se traduz em nada de concreto), mas tinha que dele dar conta ao exterior. Não me ilibava de nada.»

Seria bom que todos aqueles que hoje desempenham ou pretendem vir a desempenhar cargos públicos assim pensassem: que esse exercício é um privilégio que, mais do que os ilibar de tudo ou de algo, os deve obrigar a um comportamento rigoroso e honesto.
Mais do que legal, o seu comportamento deve ser honesto.
Devem ser nobres.

Que não se deixem cair em tentação. Amén. 


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Columbano Bordalo Pinheiro


Columbano nasceu a 21 de Novembro de 1857.

Em Junho falou-se muito dos painéis que pintou para o salão do Palácio do Conde de Valenças (Lisboa) e que foram a leilão.


Ao que li, os painéis não chegaram a ser vendidos.

No Parlamento, nos Passos Perdidos, encontramos outro conjunto de pinturas suas.



Mercado de Gastronomia - Serpa



Amanhã Hoje e Sábado, em Serpa - no Centro de Apoio ao Desenvolvimento Económico de Serpa - o Mercado de Gastronomia, onde produtores do Alentejo, do Algarve e da Andaluzia colocam os seus produtos à venda.

Os objectivos são promover a produção artesanal, o emprego e o desenvolvimento rural sustentável e incentivar o consumo de proximidade, eliminando intermediários.

Realizam-se, também, actividades de animação, estando exposta uma colecção de fotografias sobre o rio Guadiana.

Ponte sobre o Guadiana (da linha do ramal de Moura)


quarta-feira, 19 de novembro de 2014

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Matéria de estrelas

Porque é tudo para sempre, mesmo a 
            efémera morte,
encontrar-nos-emos eternamente
e nunca mais nos veremos.
O impossível volta a ser impossível. 
            Para sempre.

Impossível é cada manhã aberta,
um deus sonha consigo através de nós.
Às vezes quase posso tocá-lo, ao deus,
surpreendê-lo no seu sono, também ele real e efémero.

Matéria, alma do nada,
os mortos ouvem a tua música sólida
pela primeira vez, como uma respiração de estrelas.
A sua intranquilidade transforma-se em si mesma, música.
Manuel António Pina

Manuel António Pina nasceu a 18 de Novembro de 1943.


sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Amadeo de Souza-Cardoso

«Eu não me sujeito a outra vida que não seja a da arte.»

Cozinha de Manhufe

Amadeo de Souza-Cardoso nasceu em Manhufe (concelho de Amarante), a 14 de Novembro de 1887.


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Pink Floyd - The endless river

The Division Bell terminava com High Hopes.

(...)
The grass was greener
The light was brighter
The taste was sweeter
The nights of wonder
With friends surrounded 
The dawn mist glowing
The water flowing
The endless river

Forever and ever


20 anos volvidos, continua esse rio interminável que é a música dos Pink Floyd.




domingo, 9 de novembro de 2014

Muros


Há mais muros para derrubar e outros que não devemos deixar erguer.




Por cada professor que dispensarem câmaras recebem 13 600 euros

No Diário de Notícias:
Por cada professor que dispensarem câmaras recebem 13 600 euros - Portugal - DN

Na educação, a política do Governo tem esta tara de perseguição aos professores:



Mais um recorde de Cristiano Ronaldo

O título é falso.
Pretendo, apenas, fazer uma experiência...

O que é verdade são os bons resultados na ginástica:
Filipa Martins ganhou a medalha de ouro na prova de paralelas assimétricas na Taça do Mundo de Medelin.
Raquel Pinto ganhou a medalha de bronze na prova de tumbling dos campeonatos do mundo de trampolins, em Dayton Beach; o 4.º lugar também foi português, por Beatriz Botelho.

Filipa Martins e Raquel Pinto

Museu de Artes Decorativas Portuguesas


O Museu de Artes Decorativas Portuguesas está instalado no Palácio Azurara, às Portas do Sol, em Lisboa.

O palácio foi comprado, em 1947, por Ricardo Espírito Santo Silva, que o restaurou como uma casa aristocrática do século XVIII.



Com a colaboração do arquitecto Raul Lino, introduziu elementos de arquitectura que criaram o espaço museológico. As salas foram decoradas com peças da colecção do banqueiro e empresário, adquiridas ao longo de anos a outros coleccionadores, antiquários e leiloeiros.


A 28 de Abril de 1953 foi inaugurado o Museu-Escola de Artes Decorativas Portuguesas.
Com o museu nasceu a Fundação com o nome do banqueiro, "instituição de serviço público, tendo por missão preservar, divulgar e transmitir o saber-fazer em artes decorativas e ofícios com elas relacionados."

Constituiu-se a Escola de Artes Decorativas e instalaram-se as Oficinas de Artes e Ofícios num edifício contíguo, onde são ensinadas técnicas de conservação e restauro.



No museu podem ser vistos vários núcleos temáticos: mobiliário, ourivesaria, têxteis, pintura, faiança e porcelana.


É este património que está em risco com o caso do BES e a consequente falta de investimento na Fundação.


Perante a riqueza do património em causa, será que o Estado vai ignorar esta situação?


sábado, 8 de novembro de 2014

Teixeira de Pascoaes - a poesia como voz da infância




«Quando fala, dos longes do próprio eu, a voz da infância, que é a voz autêntica da sua alma, só então Pascoaes ingressa na vida plena, essencial, independente do espaço e do tempo (...)
Com os seus olhos imaculados de menino, Pascoaes foi conquistando uma imagem pessoal do mundo.»
Jacinto do Prado Coelho, A Poesia de Teixeira de Pascoaes



Teixeira de Pascoaes nasceu há 137 anos, em Amarante.



«Sem poesia não há humanidade. É ela a mais profunda e a mais etérea manifestação da nossa alma»


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Novembro




«O céu 
retém ainda
o voo das cegonhas

regressam as castanhas
no bico do capuz.

Há bruxas
que povoam
as noites de Novembro

no oiro das laranjas
pousa o luar em cruz.»