"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 14 de outubro de 2012

Valor zero do ranking das escolas

A comunicação social gosta disto dos números.
Medem as manifestações pelas áreas ocupadas, comparam-nas, procuram contar o número de cabeças ou, não conseguindo, contar o número de pernas dos manifestantes e dividir por dois. Exultam com as sondagens, realçando as ultrapassagens de um partido a outro como se tratasse de uma corrida de F1 ou como se uma sondagem já significasse uma vitória política, fosse um objectivo político.
O ranking das escolas é um desses momentos de êxtase.
O seu valor, na minha opinião, é (quase) nulo.
Poderá - poderia - servir para análise por parte do próprio Ministério da Educação, que tem obrigação de conhecer todas as variantes que podem levar aos resultados anuais. Mas, da tutela, há anos que não conheço qualquer estudo sério de avaliação do que quer que seja de relevante em relação à educação.
As escolas têm de conhecer os seus resultados, analisá-los e usar as suas conclusões no seu trabalho diário. Não necessitam de comparar o que muitas vezes não tem comparação possível. A realidade de cada escola não é traduzível numa tabela numérica. Eu não me sei pronunciar com conhecimento sobre os resultados das outras escolas. Não conheço as suas realidades.
As escolas não são fábricas com as mesmas condições de produção, produzindo todas o mesmo tipo de produtos com as mesmas matérias-primas. Não trabalhamos com uma matéria-prima uniforme. Trabalhamos com seres humanos, com todo o rol de diferenças inerentes.
E trabalhando na mesma escola há anos, recebendo alunos provenientes das escolas do 1.º Ciclo do Agrupamento há anos, reconheço variações nas características dos alunos de ano para ano. Às vezes brinco ao comparar as turmas que tenho com as colheitas: costumo falar de anos de boa colheita e anos de má colheita. E as turmas do lado até podem ser diferentes. Pode haver tendências, mas mesmo os tipos de prova ou exame têm variado tanto que nem os valores se baseiam sempre em dados perfeitamente comparáveis.

Os rankings são tabelas, classificações, que, anualmente, deixam os jornalistas entusiasmados. Só servem para isso.
Divirtam-se!

P.S. - Não sei o que me deu: ao longo de todo o texto (1.ª versão) o ranking saiu raking!

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