«O 25 de Abril parecia ter tornado possível inventar um futuro para esta pátria que sobrevivia em apagada e vil tristeza, decompondo-se. Um desafio sem precedentes se pôs aos Portugueses, reconduzidos ao rectângulo peninsular e aos arquipélagos adjacentes - ao espaço da primeira metade de Quatrocentos, após cinco séculos em pedaços pelo mundo repartidos; (...)
E no entanto assim não foi. É que essas opções implicavam transformar estruturalmente, do âmago, as nossas terras e gentes, na liberdade e na cidadania, com o esforço colectivo conjugado de todos a enfrentar os nossos autênticos problemas depois de aprofundadamente estudados, segundo linhas inovadoras mas que não calcassem o legado de séculos de labuta e de acumulação de um património. (...) E a aventura - reflectida, metódica, tecnicamente preparada, como a largada das caravelas de Quatrocentos - tinha de cartografar previamente, com precisão, o que somos, o que temos sido, o que queremos ser; e construir solidamente o barco, tecer velame capaz de resistir aos temporais, erguer mastros que não quebrassem sob as rajadas de vento, colocar leme forte para aguentar o rumo da bolina, preparar os pilotos e homens de manobra. Tão pouco disso se fez, afinal!»
Prefácio à 2.ª edição de Ensaios II
(Dezembro de 1976)
(Dezembro de 1976)
Sem comentários:
Enviar um comentário