A tábua de Flandres – um quadro pintado (na imaginação de Arturo Pérez-Reverte), em 1471, por Pieter Van Huys (pintor inventado com base no real Pieter Huys), é o motivo deste thriller.
Nesse quadro, dois cavaleiros disputam um jogo de xadrez. No trabalho de restauro da pintura, é encontrada uma inscrição: "Quis necavit equitem" – Quem matou o cavaleiro – que remete para um crime que vitimou um dos jogadores, 500 anos atrás.
Entra-se num processo de descoberta, de desmontagem e montagem do quadro, construção e desconstrução do jogo de xadrez, criando-se um vínculo entre as peças e as personagens da história. Uma história que nos prende, à boa maneira de Pérez-Reverte, com a descrição detalhada da pintura, lembrando O pintor de batalhas, obra em que a descrição/interpretação de uma pintura mural é levada quase ao extremo.
A precisão, quase pedagógica, é extensiva ao jogo de xadrez e à música de Bach, por onde faz pequenas digressões, no que se refere aos enigmas próprios de obras de arte artigas. Aliás, há personagens da história que são especialistas nas diferentes áreas ou artes em jogo no livro: antiguidades, pintura, música e xadrez.
«As obras de arte contendo jogos e chaves ocultas eram habituais antigamente. Bach, por exemplo. Os dez canones da sua Oferenda são das coisas mais perfeitas que compôs e, no entanto, não deixou nenhum deles completamente escrito... Fê-lo propositadamente, como se se tratasse de adivinhas propostas a Frederico da Prússia... Um ardil musical frequente na época. Consistia em escrever um tema, fazendo-o acompanhar de algumas indicações mais ou menos enigmáticas e deixar que o canone baseado nesse tema fosse descoberto por outro músico ou executante.»
E o enigma vai-se resolvendo, tal como um jogo de xadrez ou a Oferenda de Bach, através de um processo que nos leva a não querer parar a leitura.
Também o jogador é prisioneiro
- a sentença é de Omar - de um tabuleiro
de negras noites e brancos dias.
Deus move o jogador e este a peça.
Que Deus por trás de Deus tudo começa
o pó, o tempo, o sonho, as agonias...?
Jorge Luís Borges
Sem comentários:
Enviar um comentário