"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sábado, 8 de março de 2025

Visionárias

No dia 8 de Março de 2015, Maria Teresa Horta dedicou o poema Visionárias a todas as amigas do Facebook, a todas as suas leitoras, e, em geral, a todas as mulheres.

Elas são as visionárias
as sonhadoras furtivas
as preferidas dos anjos
profanas e metafóricas
rebeldes com avidez
no desacato da vida
Elas são as alumbradas
com êxtases
e visões múltiplas
apóstolas e passionárias
com crueldades simbólicas
metafóricas, destemidas
Elas são as pensadoras
fantasiosas, ascetas
no desacato das regras
reinventam riso e risco
a reescreverem a escrita
a linguagem perdida
Elas são as poetisas
mas também as romancistas
filósofas, historiadoras
chamejantes e luzentes
singulares e criativas
onde seria suposto
encontrar-se o seu oposto
Elas são mediadoras
no torvelinho dos dias
vão cerzindo a sua imagem
correm na vida sozinhas
Tomam conta do saber
inscrevem novas palavras
desatam mitos e símbolos
Elas são as jubilosas
singulares, impacientes
a recusarem os medos
desobedecem e partem
dizendo não ao destino
descobrem a própria sina
Elas saltam, elas dançam
em cima do seu passado
escolhem rumos e marés
vão navegando o futuro
timoneiras e corsárias
feiticeiras, estrelas d’alva
Crescem no espinho
em segredo
inventando a mulher nova
Senhoras de tanto enredo
Lisboa, 8 de Março de 2015

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