«Poderia pensar-se que ninguém aceita ser informado pela propaganda de
guerra mas é um erro. Algumas pessoas querem precisamente receber informação
que corrobore na íntegra a sua interpretação da guerra. Aplaudem quem noticia
factos que dêem razão ao que têm vindo a dizer. Têm pouca, ou nenhuma, margem
para dar atenção ao que contradiz, ou que julgam contradizer, essa
interpretação.
Em tempos de guerra o jornalismo é especialmente preciso, mas nem todos o querem. A mediação entre o acontecimento e as pessoas, como meio adequado ao exercício do espírito crítico por parte destas, deixa de ser uma necessidade coletiva. As pessoas preferem as evidências que dêem razão ao seu acantonamento.
Chamam bom jornalismo àquele que as ajuda nesse processo.
O perigo é enorme. Passa a chamar-se propaganda ao que não lhes dá razão e jornalismo apenas ao que vem de encontro a esta. Grandes profissionais aos que defendem as suas visões do mundo e embustes a todos os outros. Mata-se o jornalismo, mata-se o pensamento. Acaba o escrutínio. A dialética da discussão pública fica inquinada e ainda mais estéril do que já é habitual.»
Em tempos de guerra o jornalismo é especialmente preciso, mas nem todos o querem. A mediação entre o acontecimento e as pessoas, como meio adequado ao exercício do espírito crítico por parte destas, deixa de ser uma necessidade coletiva. As pessoas preferem as evidências que dêem razão ao seu acantonamento.
Chamam bom jornalismo àquele que as ajuda nesse processo.
O perigo é enorme. Passa a chamar-se propaganda ao que não lhes dá razão e jornalismo apenas ao que vem de encontro a esta. Grandes profissionais aos que defendem as suas visões do mundo e embustes a todos os outros. Mata-se o jornalismo, mata-se o pensamento. Acaba o escrutínio. A dialética da discussão pública fica inquinada e ainda mais estéril do que já é habitual.»
Carmo Afonso, Público, 4 de Abril de 2022
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