"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 3 de abril de 2022

Jardim da Estrela - 170 anos

2019

Cerca de 1911

«Ora eis-nos no jardim da Estrêla, um dos maiores e formosos de Lisboa central, e seguramente - desaparecido que foi o velho Passeio Público - o de mais tradições alfacinhas, e que se envolve, pela sua característica infantil, numa atmosfera de ternura. (...) 
O Jardim da Estrêla esteve na moda durante tôda a metade do século passado [séc. XIX]: era então o "Passeio da Estrêla" das nossas românticas avós, ainda meninas.» (Norberto Araújo, Peregrinações em Lisboa)

A obra iniciou-se em 1842, no governo de António Bernardo da Costa Cabral, Marquês de Tomar, que terá dado seguimento à ideia original do Dr. Laureano da Luz Gomes, então Presidente da Câmara Municipal de Lisboa. 



Nasceu num espaço que se encontrava ao abandono, fronteiro à Basílica da Estrela, e que foi aproveitado pela Câmara Municipal. «As terras pertenciam a um António José Rodrigues, mas em "massa falida" que pôde ser expropriada em 1842 por quatro contos de réis, graças a um donativo superior do Barão de Barcelinhos, que permitiu também proceder à necessária terraplanagem.» (José-Augusto França, Lisboa - História física e moral).

Construído por subscrição pública, outro dos seus grandes beneméritos foi Joaquim Manuel Monteiro, depois elevado a Barão da Estrela. Contou com a colaboração do jardineiro Bonnard, dispensado por D. Fernando II para esse efeito.

Interrompida a sua construção devido à fase final das lutas liberais, entre 1844 e 1850, só foi aberto ao público em 3 de Abril de 1852. 

Com 5 entradas ao longo do gradeamento de ferro forjado, «É o primeiro jardim público plantado à inglesa: relvados de formas curvilíneas, irregulares, árvores exóticas, recantos que acompanham os declives naturais do terreno, cascatas, lagos, estátuas, trazendo, desde a sua abertura, o romantismo dos jardins privados para a esfera pública.» (Ivo Meco, Jardins de Lisboa)

Foi palco de festas e quermesses, onde a própria rainha D. Amélia marcou presença.

No início do século XX, certamente já após o advento da República, foi rebaptizado com o nome do poeta Guerra Junqueiro.

«O Jardim da Estrela, à tarde, é para mim a sugestão de um parque antigo, nos séculos antes do descontentamento da alma.» (Bernardo Soares, Livro do Desassossego)


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