"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

domingo, 29 de março de 2020

Mécia de Sena (1920-2020)

A escritora Mécia de Sena faleceu ontem, em Los Angeles, poucos dias depois de ter completado 100 anos de vida.

Viúva de Jorge de Sena, foi a sua grande colaboradora e a organizadora da sua obra, mesmo depois da morte do escritor. Essa sua tarefa, cumprida até ao fim, terá levado a abdicar de uma carreira própria.
«(...) Mécia, a mulher que recusou ser o lugar de espera para ser a activa companheira de uma singularíssima aventura intelectual e moral.» (Baptista Bastos)
Foi Jorge de Sena que reconheceu a impossibilidade de ter realizado tudo o que conseguiu, como escritor e como professor, sem o apoio de Mécia de Sena.


«"Entre os vários rapazes com quem dancei, houve um que fora totalmente desconhecido. À despedida, perguntara-me o meu nome. Meses depois, cruzámo-nos numa conferência (...). Passados outros meses, encontrámo-nos num recital (...). Disse-me que também escrevia poemas (...). O nosso conhecimento mútuo a bem dizer nem se iniciara e iria fazer-se através de correspondência que se lhe seguiu".
A rejeição do "caminho mais fácil" entre ambos, "deu lugar a uma confiança e uma identificação que dificilmente poderão ter paralelo", escreveu então Mécia de Sena. "Não sem agruras e com algumas duras provas, ambas resistiram durante quase 30 anos, afinal o nosso 'para sempre' dignamente cumprido."»
Mécia de Sena
(no DN de hoje)


2 comentários:

  1. Que o voo de agora lhe seja poético, como sempre.

    Bela memória, trouxeste, obrigada.

    Cumprimentos.

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    1. Obrigado.
      Estamos num tempo em que precisamos das mais belas memórias.

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