- Pois bem - disse. - Vamos fazer isso.
O comandante ficou surpreendido, mas logo, com o seu instinto de raposa velha, viu tudo claramente.
- Eu mando neste navio, mas o senhor manda em nós - disse. - De modo que se está a falar a sério, dê-me a ordem por escrito e começamos já.
Era a sério, evidentemente, e Florentino Ariza assinou a ordem. Ao fim e ao cabo toda a gente sabia que os tempos da cólera não tinham acabado, apesar dos informes alegres das autoridades sanitárias. Quanto ao navio, não havia problema. Transferiu-se a pouca carga embarcada, aos passageiros disseram que havia um percalço com as máquinas mandaram-nos nessa madrugada num navio de outra empresa. Se estas coisas se faziam por tantas razões imorais e até indignas, Florentino Ariza não via porque não seria lícito fazê-las por amor. A única coisa que o comandante suplicava era uma escala em Puerto Nare, para recolher uma pessoa que o acompanharia na viagem: também ele tinha o seu coração escondido.»
(continua)
Gabriel García Márquez, O amor nos tempos de cólera
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