"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Enterro do Pai Velho - Lindoso

É um Carnaval tradicional, menos conhecido do que as festividades carnavalescas que envolvem os "caretos".


No Lindoso, no lugar do Castelo, o Carnaval começa a ser preparado a 6 de Janeiro, quando um grupo de homens e rapazes entoam os tradicionais cantos dos Reis, percorrendo as ruas para saudar os seus conterrâneos e pedir ofertas para a festa do Carnaval (dinheiro e... unhas de porco).

O Carnaval conta com um cortejo em que os elementos principais são dois carros de bois - o do "Pai Velho" e o "Carro das Ervas" -, condignamente adornados com os respectivos jugos e jogos de campainhas, e puxados pelo melhor gado da aldeia.

Todos devem contribuir para a decoração artística dos carros. Os habitantes acima dos 80 anos participam como "consultores" da festa.
O cortejo sai no Domingo, com os carros à frente e a participação de grupos de mascarados, tocadores e da população (com muitos travestidos). A música não falta.
O carro do Pai Velho, um boneco de palha adequadamente vestido que segue no carro, representa o Inverno. Os seus rodados, de madeira de nogueira, devem "cantar" (chiar).
As rodas do carro das Ervas, em alusão à Primavera, devem "assobiar como uma flauta".

Os bois devem possuir cornos perfeitos

No terreiro do castelo têm lugar as representações cómicas, com a crítica social aos habitantes da terra. 
Após o almoço é o bailarico e a festa prolonga-se pela noite dentro.


Na 3.ª feira, os carros percorrem a localidade, acompanhados pelos mascarados e pelos tocadores, havendo mesas com petiscos, vinho e guloseimas em mesas postas junto às casas. 
O cortejo termina no sítio do Castelo, com novo bailarico no terreiro, mais sátiras e cantigas ao desafio. 


Perto da meia-noite, o baile dá lugar ao enterro do Pai Velho - uma espécie de cortejo fúnebre, com velas, "ais profundos e choros". 
Procede-se, depois, à leitura do testamento do Pai Velho, que satiriza publicamente situações que, durante o ano, andam nas bocas do povo, seguindo-se a queima dos enfeites dos carros e do próprio Pai Velho, cujo busto, no entanto, esculpido em castanheiro há cerca de 80 anos, é poupado.


Uma alternativa aos cortejos importados.
As tradições comunitárias ainda preservadas, uma forma de assinalar a transição do Inverno, frio e estéril, para a Primavera, mais quente e fértil.


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