"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

sábado, 2 de novembro de 2019

Vamos, Mécia?

«E para que conste, direi o que neste mês de Outubro de 2009 me contou D. Mécia de Sena: que no próprio dia em que se deu o 25 de Abril, Jorge de Sena, ao ouvir pela rádio que tinha caído a ditadura em Portugal, se voltou para ela e lhe disse, com uma alegria e um entusiasmo quase infantil: - "Ó Mécia, vamos para Portugal"? Ao que a D. Mécia respondeu: - "Ó Jorge, como é que podemos ir assim sem mais, se tu não tens nenhuma garantia de emprego em Portugal nem sabes sequer se to vão oferecer? Vamos esperar e depois se verá."

E a verdade é que, através dos anos, por mais de uma vez me referiu a D. Mécia que o tal convite para ensinar numa universidade portuguesa só foi feito a Jorge de Sena quando ele estava no leito de morte, no hospital, em Santa Bárbara, no ano do Senhor de 1978. Fizera-lho António Reis, na sua qualidade de Secretário da Cultura num dos governos socialistas. Que nesse momento, muito comovido e sensibilizado pelo convite, Jorge de Sena se voltou para a D. Mécia e lhe disse: - "Vamos, Mécia"? Ao que a D. Mécia respondeu: - "Jorge, primeiro tens de melhorar; depois falamos nisso".»



«(...) Mécia, a mulher que recusou ser o lugar de espera para ser a activa companheira de uma singularíssima aventura intelectual e moral.» (Baptista Bastos)


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