«O Arlindo fala em Maquiavel, mas ao desgraçado que tão má fama tem nunca ocorreu esbulhar as populações desta forma, exaurindo-as em termos materiais enquanto se anuncia que passarão a ter mais dinheiro no bolso. A habilideza tem pouco de novo e entronca numa bela tradição política nacional, e não só, equivalente ao daquelas promoções que anunciam um desconto de 30% sobre o preço de um produto que antes se aumentara 35%.
É simples… anuncia-se o fim ou redução das sobretaxas, mas alteram-se os escalões do IRS por forma a que a maior parte (ou mesmo mais) do que se “ganharia” (o que é mentira, apenas se recuperaria) seja absorvido pela máquina fiscal e retorne ao ponto de partida. Os palermas – ou, mais grave, os operacionais mediáticos – lançam foguetes e parecem não saber fazer contas. A verdade é que se recebe menos na realidade, mesmo quando em termos nominais se diz que passámos a receber mais e lemos primeiras páginas a proclamar algo como “professores recebem mais 25%”. Tudo mentira, tudo bem pensado para divulgação mediática, tudo com a colaboração dosamesendados sindicalistas rendidos à Situação.
A mim pouco admira, pois já há umas semanas que me debati – levando na cabeça por não saber de contabilidade pública à europeia – com aquele problema de um professor que recebe nominalmente 21.000 euros anuais (15.000 reais) significar para o Estado um encargo de 27.000.
Como há muito leio “estudos” e análises sobre a disparidade salarial entre a base e o topo da carreira docente e como o valor médios dos salários dos professores portugueses é muito alto, porque se considera real o valor atribuído a um escalão inventado nos tempos do engenheiro e no qual ninguém está.
Vivemos em tempos de mistificação estatística, praticada sem qualquer pudor por quem manipula os números oficiais e, não se satisfazendo com isso, ainda usa estratagemas para distorcer ainda mais a realidade. Nesse aspecto, Esquerda e Direita distinguem-se apenas na tonalidade da coisa. Praticam a mesma desonestidade e fazem-no, quase sempre, com os mesmos sacrificados. É assim há, pelo menos, uma década e parece que veio para ficar. Há bancos para salvar, nomeadamente aqueles que ficaram com parte dos negócios da CGD e mesmo assim faliram ou estão em fila para falir, recebendo injecções de capital público à conta de um duplo esbulho aos cidadãos (através das astronómicas taxas que cobram pelo mais pequeno serviço e dos impostos que servem para os resgates). E havendo bancos para salvar, há administrações boas e más para alimentar, negócios ruinosos por encobrir (alguém já houve falar dos devedores ao BPN?) e os mesmos sempre para tudo suportar. Só que agora com “paz social”, garantida pela almofadinha sindical prisioneira da ameaça do“risco do regresso da Direita ao poder”. Uma coisa é não querer a tal Direita trauliteira e amnésica no poder, outra coisa fazer uma política semelhante, anunciando falsas reversões.»
Paulo Guinote, in O meu quintal, hoje
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