"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Não podemos ser contentes

O relatório de uma investigação militar, apresentado no final de Abril pelo Pentágono, concluía que o bombardeamento de um hospital no Afeganistão onde operavam os Médicos Sem Fronteiras (Outubro de 2015, dezenas de mortos) não foi um crime de guerra, mas “uma sucessão de erros”. Segundo as conclusões das investigações, o incidente foi causado por “erros humanos não intencionais, erros de procedimento e falhas de equipamentos“. O relatório acrescenta a fadiga e “um elevado ritmo de operações” como outros fatores explicativos.
Pela mesma altura em que era publicado o relatório, bombardeamentos aéreos, possivelmente russos ou do regime sírio (subsiste algum regime?), mataram dezenas de pessoas num hospital de Aleppo (Síria) que recebe (ou recebia) assistência dos Médicos Sem Fronteiras. Terá sido outro erro…
Já não chegam os dedos de uma mão para contar estes erros contra hospitais, para não falar de outros alvos civis, danos colaterais de uma guerra a que as principais potências, por estratégias difíceis de entender, não têm vontade de pôr fim.
Vi imagens... Vamos girando para um vórtice de destruição.
Se fosse aqui perto, todos seríamos Charlie, todos seríamos franceses ou belgas. Lá longe não estranhamos nada. 
Este mundo está cada vez mais difícil (até de entender)!...


Tenho-me persuadido,
por razão conveniente,
que não posso ser contente,
pois que pude ser nascido.
(...)
                                                                            Camões


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