"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm nada mais a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros ou para o sorriso das vacas."
Marguerite Yourcenar, Memórias de Adriano (revista e acrescentada por Carlos C., segundo Aníbal C. S.)

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Piano a 4 patas



Boa noite!


Cortiça (para estrangeiro ver)

Publicações estrangeiras têm, também, andado atrás da cortiça, por Alentejos e Algarves interiores.
É uma (re)descoberta.



A finérrima Hermès, Le Monde d'Hermès, publicou na sua última edição (Primavera/Verão 2014), um artigo do fotógrafo Sean Rocha sobre a cortiça e as paisagens alentejanas (trabalho feito em 2013). 





Tirada da cortiça - reportagem


Enquanto alguns jornais parecem entrar pela ruas da amargura, o Público tem-se esmerado com bons trabalhos de reportagem, nomeadamente a de investigação sobre os portugueses enviados para os campos de concentração nazis (a 2.ª parte saiu hoje).

A Revista 2 de ontem traz uma reportagem sobre o trabalho do descortiçamento, realçando o papel de chefia de uma jovem mulher num rancho de homens.


A reportagem pode ser lida aqui.


domingo, 29 de junho de 2014

Pretextos para fugir do real

A uma luz perigosa como água
De sonho e assalto
Subindo ao teu corpo real
Recordo-te
E és a mesma
Ternura quase impossível
De suportar

Por isso fecho os olhos

(O amor faz-me recuperar incessantemente o poder da provocação. É assim que te faço arder triunfalmente onde e quando quero. Basta-me fechar os olhos)

Por isso fecho os olhos
E convido a noite para a minha cama
Convido-a a tornar-se tocante
Familiar concreta
Como um corpo decifrado de mulher

E sob a forma desejada
A noite deita-se comigo
E é a tua ausência 
Nua nos meus braços

                *

Experimento um grito
Contra o teu silêncio

Experimento um silêncio

Entro e saio
De mãos pálidas nos bolsos

Assobio às pequenas esperanças
Que vêm lamber-me os dedos

Perco-me no teu retrato
Horas seguidas

E ao trote do ciúme deito contas
Deito contas à vida.
Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca


Final de dia na praia





sábado, 28 de junho de 2014

Os patos tomam conta do jardim

Literalmente (nada de metáforas).
E controlam o sistema de rega...







Jardim da Parede (Parque Morais), fim do dia.


O atentado contado às crianças


28 de Junho de 1914, assassinato do herdeiro do trono austríaco, mosquitos por cordas, I Guerra Mundial.

Gostava de saber como é que os professores de História da Áustria, da Alemanha e dos territórios da ex-Jugoslávia abordam o assunto nas aulas.
As diferentes perspectivas da História.


Canção da formiga

Na compota de framboesa
da firma respeitada
jazia uma formiga.
Fiquei tão agradada:
uma formiga, uma verdadeira formiga,
uma formiga não listada nos "ingredientes"
a provar que existe verão.

(...)
Margareta Ekström



Poema de Alexandre O'Neill, Velha fábula em bossa nova,
nome que adivinhava o que iria acontecer ao poema.
A música é de Alain Oulman e foi Amália quem primeiro cantou esta canção (1969). 


sexta-feira, 27 de junho de 2014

Regresso

Regresso às fragas de onde me roubaram.
Ah! minha serra, minha dura infância!
Como os rijos carvalhos me acenaram,
Mal eu surgi, cansado, na distância!

Cantava cada fonte à sua porta:
O poeta voltou!
Atrás ia ficando a terra morta
Dos versos que o desterro esfarelou.

Depois o céu abriu-se num sorriso,
E eu deitei-me no colo dos penedos
A contar aventuras e segredos
Aos deuses do meu velho paraíso.
Miguel Torga

A quem está de regresso à terra...
(à minha amiga Cristina, que mata saudades)


«(...) deram-lhe o maior bem que se pode ter:
O nome de transmontano, que quer dizer filho de Trás-os-Montes, pois assim se chama o Reino Maravilhoso de que vos falei.»


Língua

«Estava eu com uma colega numa loja de discos em segunda mão, em Salvador da Bahia, quando a funcionária, reparando na nossa pinta de estrangeiros, perguntou naturalmente: "De onde vocês são?". Respondemos que éramos de Portugal, ao que ela retorquiu, com menos espanto do que o nosso: "Mas falam português muito bem!". Aceitámos o cumprimento.
Manuel Halpern, JL, 25 de Junho de 2014




800 anos de Língua Portuguesa (mas também de dívidas e de abusos)

Há quem comemore os 800 anos da Língua Portuguesa.
Há quem conteste a data e, sobretudo, a pertinência do evento, entrando por considerações mais substanciais:
«Quando a investigação científica séria em Portugal está subfinanciada, especialmente nesta área das Humanidades, não têm vergonha cívica de apoiar iniciativas diletantes?»
Prof. Ivo de Castro, Catedrático da Fac. de Letras de Lisboa

Fora isso (que não deixa de ser pertinente) e o atentado à língua portuguesa que é o chamado acordo ortográfico, todos reconhecem que a língua é o resultado de um longo processo e que a escrita apenas a fixa após muitos anos de maturação oral.
A data é boa para lembrar o elemento primeiro do nosso património cultural. Haja memória e capacidade para outras alembraduras e vistas mais largas sobre o nosso património.

Os 800 anos são os do testamento de D. Afonso II - 27 de Junho de 1214 -, rei temente da morte e do que pudesse acontecer à sua alma, mas que não deixa de falar no proveito dos seus vassalos (depois dos de sua mulher e seus filhos).

Testamento de D. Afonso II

Documentos mais antigos em português também os há, mas não com o mesmo carácter oficial que o testamento.
Não deixa de ser curioso que um desses documentos, Notícia de Fiadores, datado de 1175, discrimine as dívidas de um tal Pelágio Romeu.
Outro, da mesma época que o testamento de D. Afonso II, Notícia de Torto, é um relato de D. Lourenço Fernandes da Cunha, fidalgo da região entre Braga e Barcelos, das malfeitorias (o torto) - perseguições, violências e roubos - que sofreu da parte de Gonçalo Ramires e respectivos filhos (que ainda seriam parentes dos Cunhas).
Ah! Os ilustres Ramires (esses de quem o Eça se terá lembrado)... Feitos, possivelmente, com o rei, o anterior (D. Sancho I), de quem aquele fidalgo também se queixou, pois terá mandado destruir a torre do solar da Cunha, a sede da família. Mas isso está noutro documento, parece que um rascunho não datado.

Notícia de torto

Uma conclusão que podemos tirar é que, ainda Portugal mal nascera e o português mal se escrevia, já as notícias davam conta de coisas tortas - dívidas e abusos de poder.
Se alguém se lembra - e o actual Governo é perito em alijar responsabilidades - ainda vão culpar o tal Pelágio Romeu da dívida (pública ou externa).


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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Retrocesso histórico



Leio as gordas do Correio da Manhã e tenho de fazer um reset.
Ando a ler O assassino do aqueduto e fico na dúvida: a ficção que eu pensava abordar crimes da década de 1830, afinal, é actual?
Estamos em tempos de Diogo Alves e da sua quadrilha?


Someone that cannot love



Acontece...


Melhor seria discutir a possível saída de Paulo Bento


O Presidente da República convoca o Conselho de Estado, mas a notícia de abertura dos telejornais é a (já prevista) eliminação de Portugal do Campeonato do Mundo de Futebol.
E a abertura prolonga-se por longas reportagens e debates. Tudo bem esmiuçado.

Os motivos da convocatória são a conclusão do programa de ajustamento e a utilização dos próximos fundos estruturais. Mas o que valem esses assuntos face à selecção de futebol? Quem põe uma bandeira à janela por um "desígnio nacional" que não a participação da selecção de futebol numa grande competição?

É certo que, na política actual, ninguém entusiasma ninguém, que o Governo não sabe unir e divide, que o Presidente é aquilo que se sabe, mas...
Se Cavaco propusesse a discussão das lesões dos jogadores, dos critérios da convocatória dos jogadores, da possível demissão do treinador... Isso sim, já os noticiários tinham prolongamento e, quiçá, penaltis, com centenas de espectadores a marcarem a sua opinião através de votações.


P.S. - A única forma do Conselho de Estado passar a ganhar o interesse do povão é o Cristiano Ronaldo tornar-se conselheiro.


Game over


P.S. - Não parece ser uma saída limpa.


quarta-feira, 25 de junho de 2014

O nosso lirismo supera as agruras...

O relatório TALIS (Teaching and Learning International Survey), incidindo no 3.º Ciclo, publicado pela OCDE, esteve hoje em destaque no Público.
A base é uma amostra de 200 escolas, inquiridos 20 professores e o director de cada uma delas.

As apresentações/resumos dos resultados/conclusões pecam geralmente por isso, por serem um resumo, por serem um rabo com gato escondido - algumas conclusões que são ligeiras, algumas interpretações que podem ser dúbias.

Alguns resultados são interessantes e gostaríamos de ver mais.
Os professores portugueses sempre têm mais horas de componente lectiva do que a média e gastam mais tempo na preparação das aulas e na correcção dos trabalhos dos alunos.
O número médio de alunos por escola, em Portugal, ronda os mil - quase o dobro da média (mas cá... super-agrupar é que está a dar!).
Gosto de ver o grau de satisfação dos directores - chefe distingue-se à distância.

O principal desgosto dos professores portugueses (para cerca de 90%) parece ser o facto da sociedade não valorizar quem ensina - a começar por quem nos governa, digo eu.
No entanto, são crentes: "Quase todos os professores portugueses deste ciclo (99%) acreditam que contribuem para os alunos valorizarem a aprendizagem" - acima da média (80,7%) - e 97,5% considera que ajuda os estudantes a pensar criticamente (média de 80,3%).
E, no fim, 71,6% afirmam que continuariam a ser professores, mesmo que pudessem optar outra vez.
Somos - mas somos, mesmo - uns líricos!

Como dizia a minha avozinha: "Pobretes mas alegretes!"
Ou "Quanto mais me bates, mais eu gosto de ti".



Amor táctil

A linguagem das mãos ou As mãos de Bresson.
O mais leve gesto, o mais pesado drama, sem rosto(s)... táctil.
E a música - Schubert, Sonata n.º 20, op.959


Montagem de Kogonada
(a partir de filmes de Bresson)

P.S. - Obrigado, Joaquina.


terça-feira, 24 de junho de 2014

Os representantes do sistema financeiro

Do artigo de opinião de Viriato Soromenho-Marques:

«(...) Salgado, Oliveira e Costa, Rendeiro, Dias Loureiro são as ovelhas negras de uma casta que domina a Europa inteira: os banqueiros da UEM. Uma elite certificada pelo Tratado de Maastricht e pelas regras de funcionamento da zona euro. Tal como os aristocratas da Europa do absolutismo, também eles estão acima da lei geral. Inimputáveis, manipulam os governos e fazem do sistema de justiça um interminável jogo de paciência que termina, invariavelmente, em absolvição por cansaço e prescrição. Foi a sua desmesura que transformou o sistema financeiro, de importância vital para uma sociedade de mercado funcional, no palco para uma tragédia de Shakespeare.(...) a simples possibilidade de o abuso de poder passar sem castigo, provocou o carrossel de especulação e a avalancha de crédito Norte-Sul dos primeiros anos do euro. Foi sobretudo a ganância do sistema financeiro, e não o despesismo dos Estados, que conduziu a Europa ao atual beco sem saída. A mesma ganância conduziu à Grande Depressão de 1929. (...) Hoje, a União Europeia continua paralisada, sem a necessária coordenação e firmeza políticas, indispensáveis para colocar o sistema financeiro dentro dos limites da lei e da ordem.»
Viriato Soromenho-Marques, DN de hoje


Aniversários

A quem faz anos hoje...


Bernardo Sassetti faria 44 anos.


segunda-feira, 23 de junho de 2014

Crónica de uma morte anunciada

Porquê, Varela?
Não havia necessidade.


As coisas são como são. Não adianta procrastinar.

O Ronaldo tem razão: "Se calhar os outros são melhores do que nós. (...) Temos que ser humildes e reconhecer a capacidade que temos. Neste momento, há melhores selecções e melhores jogadores que os nossos. Somos uma equipa média, se calhar, sim." 
A Bola on-line

É isso aí!
Estou a gostar do rapaz. Está maduro.


domingo, 22 de junho de 2014

Never comes the day

Velhinhos, velhinhos, mas continua a dar-me um gozo especial ouvi-los: The Moody Blues, a mais pequena orquestra sinfónica, com na altura foi dito.
Esta música é de 1969, de On the Threshold of a dream, a actuação ao vivo é de 1970, em Paris.




O Banqueiro

Texto de/por Craig-James Moncur.




Da fidúcia




Mas que grau tão elevado de elevação! 
Ele até renuncia aos cargos políticos! (ele até sabe o que é o esternocleidomastoideu!) 
Só faltava!...

Agora é a aproximação não só a mais um deputado mas a um ex-juiz do Tribunal Constitucional. 
Os actuais juízes que vão fazendo as contas. Portem-se bem para poderem ter um futuro ri$onho.

Contem os ex-ministros que estão nos bancos. E o Passos Coelho está a fazer o "caminho das pedras".
Só à pedrada!

Com crise ou sem, o BES parece que continua a ser o DDT!* 

Teias, tramas e trapaças,
urdiduras e falsetes,
artimanhas, ameaças,
despautérios e topetes,

postulados e falácias,
desbocados eufemismos,
diatribes coriáceas,
petulantes arrivismos

ao serviço da fidúcia,
do poder e da avidez
conjugados com a astúcia,

impostura e sordidez
e simulada minúcia
no imo da cupidez.
Domingos da Mota


* Dono disto tudo

Já não fazem o Verão como antigamente

Com este Governo, nem o Verão se aproveita.

Menos de 24 horas após a entrada do Verão, apanhei uma molha.



É visível o optimismo desta banhista!


Molha!
Regresso a casa.






sexta-feira, 20 de junho de 2014

A glória está difícil

Ser banqueiro não é facil...
Ricardo Salgado - BES

Jardim Gonçalves - BCP

João Rendeiro - BPP

Oliveira e Costa - BPN

E sem eles, o que seria a nossa vida?*


* Entenda-se a ironia.
P.S. - Não se pede glória, pede-se dignidade.


Coração civil

Comecemos pela "cunha" de Platini, o ex-jogador francês, actual presidente da UEFA.
A França nunca seria cabeça-de-série neste mundial de futebol, pois a sua classificação no ranking da FIFA não dava para isso. Mas arranjou-se maneira, que isto, para os grandes do futebol, há sempre maneira e os rankings são rankings enquanto convêm.
Os 8 cabeças-de-série passaram a ser 9!
Dos 9 (menos o Brasil, intocável enquanto país organizador) sorteou-se um para passar para um grupo que já tivesse... outro cabeça-de-série. Não sei é por que razão as outras federações não se mexeram...
O azar foi para a Inglaterra, que acabou por ficar com o Uruguai e a Itália. Um grupo na gíria chamado como "grupo da morte", ou seja, à partida, um dos grandes não se pode apurar.

O morto natural do grupo seria a selecção mais fraca - a Costa Rica.
Acontece que... a bola é redonda, a Costa Rica ganhou ao Uruguai, no primeiro jogo, e acabou de ganhar agora à Itália.
Conclusão: o morto natural é o mais vivo do grupo, a Inglaterra já pode fazer as malas porque está eliminada, a Itália e o Uruguai vão disputar um duelo e a equipa que perder vai para casa.

O meu ponto de simpatia pela Costa Rica vem do facto deste país não ter exército, o que está consignado na sua Constituição, aprovada em 1949. A ordem pública é garantida pela Guarda Civil, nos meios urbanos, e por guardas rurais, na província.
Localizada numa região nem sempre muito pacífica e em que o exercício da democracia não tem sido fácil, a Costa Rica é (parece-me ser) um país tranquilo.

Em 1969 foi assinado na sua capital, S. José, pelos países da Organização dos Estados Americanos, um tratado de protecção dos Direitos Humanos, o chamado Pacto de S. José da Costa Rica, que entrou em vigor em 1978.
Certamente por todas estas tendências, Milton Nascimento e Fernando Brant escreveram Coração Civil, canção integrada no álbum Caçador de Mim.

São José da Costa Rica, coração civil
me inspire no meu sonho de amor Brasil
se o poeta é o que sonha o que vai ser real
bom sonhar coisas boas que o homem faz
e esperar pelos frutos no quintal

Assim o futebol nos leva à música.


Quero a utopia, quero tudo e mais


quinta-feira, 19 de junho de 2014

O país precisa de um Governo com coordenadas...

... porque temos um grupo de putos mal-educados!

Com uma diferença de horas:





Quem é que não tem coordenadas?


Asfixiar a criatividade, estrangular o génio, matar a ciência

Maria Manuel Mota
Passagem do discurso de Maria Manuel Mota, directora executiva do Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, ao receber o Prémio Pessoa 2013.


Meu caro amigo

"Aqui na terra tão jogando futebol
tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol"


Chico Buarque nasceu a 19 de Junho de 1944.


Doce...




«Se um dia alguém ler estas páginas perguntará: "então este homem só se interessa por literatura e arte? Por mais nada?" Ora! Para mim a literatura e a arte são superfícies de outras razões mais profundas. Mas só podemos comunicar com superfícies.»
José Gomes Ferreira, Dias Comuns IV - Laboratório de Cinzas


quarta-feira, 18 de junho de 2014

Gracias a la vida

A chilena Violeta Parra interpreta a sua canção (que de há muito é nossa).


Gracias a la vida, cantou aquela que foi ao encontro da morte...


Maria Bethânia

Maria Bethânia nasceu a 18 de Junho de 1946.


Ah, Dona Canô! Que filhos que a senhora tem...


Obviamente, somos cada vez menos!

Ilustração de Rita Correia
Ciclicamente, mas em ciclos cada vez mais curtos, há a publicitação de dados estatísticos que suscitam ondas de notícias e artigos sobre a crise demográfica em Portugal.
Há poucos dias, o DN usava o título Hemorragia demográfica a propósito da diminuição da natalidade e do aumento da emigração. Dados do INE apontam para que cerca de 9 em 10 concelhos tenham perdido população em 2013. Esta perda é democrática: atinge todo o país, mas é mais dramática no interior.
Até o Governo, num intervalinho, já ouviu falar disso.

O primeiro-ministro apresentou, há poucos meses, como coordenador de uma equipa de trabalho sobre questões de natalidade, o professor Joaquim Azevedo.
Este professor disse o óbvio: classifica Portugal como um país insustentável se as tendências demográficas se mantiverem, defende "políticas amigas da natalidade" em matéria fiscal e reconhece que, a nível laboral, por diversas vezes as mulheres em idade fértil são "fortemente penalizadas nas empresas". Considerou que "Estamos diante de uma realidade que não tem à partida muita questão ideológica subjacente. É a realidade, são os factos, é isto que se está a passar."
Mas por que razão se está a passar?

O problema é que a questão é mesmo ideológica - a realidade é, em grande medida, filha da ideologia. A política fiscal não é neutra e a acção das empresas também não. Vivemos a ditadura do capital, da política da finança e do lucro imediato.
É em função da redução das despesas do Estado que o interior do país vê fecharem-se maternidades, centros de saúde, escolas, tribunais, postos de correio, etc. Mais decisões políticas penalizam o interior e contribuem para a sua desertificação. É em função da redução das despesas do Estado que muitos jovens (em idade fértil), não encontrando saídas, seguem o conselho do primeiro-ministro, deixam-se de pieguices e saem da sua zona de conforto, seguindo o caminho do estrangeiro. Uma verdadeira saída. Outros já não tão jovens seguem o mesmo caminho.

Bem podem aqueles que se dizem Governo mostrar palavrosas preocupações com a quebra demográfica e constituir grupos de trabalho para estudar o problema. Toda a sua acção é contrária a essas preocupações.
E todas as forças vivas do capital, aquelas que de facto nos governam, têm outros interesses.

Público de hoje
Situação denunciada pelo professor Joaquim Azevedo
A questão não é ideológica?


terça-feira, 17 de junho de 2014

domingo, 15 de junho de 2014

Cristo-Rei e Lua Cheia

Na passada 6.ª feira, a chamada Honey Moon - Lua em época de solstício de Verão, baixa no horizonte e de cor "forte".

Fotografias de Miguel Claro, em Miguel Claro Astrophotography




Despedimento de jornalistas

A Controlinveste, grupo de comunicação social que detém o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias, O Jogo e a TSF, vai despedir 140 trabalhadores e "negociar a saída de mais 20". Significará que os despedimentos não são negociáveis.
Motivo: a acentuada quebra de receitas do sector.
Objectivos: reduzir os custos para garantir a sustentabilidade do negócio - a administração da Controlinveste pretende cortar 6 milhões de euros na massa salarial e um valor aproximado noutros custos.
De todos os títulos, só o JN apresenta um saldo positivo, o que não impede que 17 dos seus jornalistas e 3 outros trabalhadores sejam também despedidos.

Vem-se questionando cada vez mais a sustentabilidade/sobrevivência dos meios de comunicação social em suporte papel.
O acesso à informação pelas vias electrónicas/digitais generalizou-se, sendo que o custo destes acessos está englobado em "pacotes" que lhe minimizam o preço.
A rádio, pelos vistos, também já não atrai novos ouvintes, pelo menos nos canais com serviços de informação.
A crise do jornalismo junta-se à crise geral que vivemos e esta agrava a primeira. Com rendimentos diminuídos, menos pessoas compram jornais - eu já raramente os compro. E os títulos de referência são os mais atingidos, porque são os seus ex-leitores que conseguem aceder à informação por outros meios - a nossa "poupança obrigatória" contribui para a crise dos jornais. Penso que jornais como o Correio da Manhã não serão tão atingidos pela crise, uma vez que os seus leitores não recorrerão tanto a outras fontes de informação alternativa. Preconceito meu? Seria interessante um estudo sociológico da leitura dos jornais... os títulos que são lidos nos cafés, nos barbeiros, nas tascas, para além dos jornais desportivos...

Ao despedir trabalhadores, a Controlinveste conseguirá reduzir custos mas, sem a colaboração de fotojornalistas, de jornalistas e de colunistas de qualidade, não vai atrair novos leitores ou novos ouvintes e poderá, até, perder os que ainda tem. O resultado deverá ser uma espiral recessiva que vai pôr os seus meios de comunicação numa crise ainda maior.
Poderão despedir até fecharem as portas.

O que pensaria Eduardo
Coelho, um dos fundadores
do DN, sobre o estado
da imprensa?
É preocupante que o mundo da comunicação perca nomes credíveis, que a própria informação fique em causa, porque o que se publica em papel continua a ter uma fiabilidade maior (pela sua responsabilidade) do que o que é editado digitalmente, onde as águas são muito turvas e o espaço de opinião, podendo ser aberto pelo seu fácil acesso, nem sempre tem bases fiáveis de informação. A net não tem um selo de garantia que é dado por títulos como o DN, que este ano comemora os 150 anos.
Apesar de todas as críticas de que a actual comunicação social possa ser merecedora em várias situações, sem ela em pleno funcionamento é a própria vida democrática que fica empobrecida e, mesmo, em risco.

Ferreira Fernandes, cronista no DN, escrevia há dois meses:
«Os angolanos compraram o meu jornal e tenho medo. Medo igual ao de andar de avião: o de um dia não poder andar de avião. Tenho medo de os angolanos terem comprado o DN, sublinharem a palavra "lusofonia" mas, depois, Não voarem... Ficarem-se pelo comércio costeiro (...) Isso, coisas financeiras, é importante? (...)»

Sim. Muito importante.