Até me diverti ontem a ver o filmezinho na televisão. Já o revi na net.
Devem-se ter trocado uns bons milhares de mails com o envio de links para o vídeo. Recebi vários.
Já foram muitos milhares de visionamentos no youtube.
Já li muitos comentários de satisfação pela afirmação de "portugalidade" ou coisa do género que o filme exprime.
Mas, pensando bem, parece-me triste.
O filmezinho até foi produzido aqui nas vizinhanças. Não nego que tem a sua piada, com uma série de curiosidades históricas bem apanhadas, algumas delas pouco ou nada conhecidas.
Mas, não se tratará da apresentação de Portugal como um aristocrata falido, uma Nação com um passado riquíssimo e um presente pelintra, em que os únicos exemplos positivos são o Mourinho e o Ronaldo (para além dos pastéis de Belém)?
Mesmo lembrar a ajuda que foi dada à Finlândia em 1940, comparando-a, claramente, com a ajuda que esperamos agora desse país, é um exemplo infeliz. Nessa época, a Finlândia sofreu bastante com o contexto de guerra que se vivia na Europa. Vicissitudes políticas fizeram com que o seu território fosse palco de confrontos com os soviéticos e com os alemães.
Parece-me muito diferente uma campanha de ajuda realizada para uma população (um país) que vive uma guerra - para mais provocada por outros (a Alemanha nazi) - ou um pedido de ajuda para um país que vivendo, há mais de 35 anos, em paz e democracia não se tem sabido governar de forma a sustentar-se a si próprio.
Lembrar o período em que o poder político finlandês alinhou regionalmente com a alemanha nazi contra o vizinho soviético não será uma boa ideia. O regime de Salazar só participou no apoio à Finlândia pela proximidade ideológica então existente. Estávamos na fase inicial da II Guerra Mundial e, em Portugal, era maior a simpatia do poder político pelas forças do Eixo.
Esse alinhamento pró-germânico da Finlândia durante parte da II GM deixou traumas na população finlandesa das gerações mais velhas, até porque, muito pragmaticamente, o reverso foi a posterior necessidade de expulsar os alemães do país e a perda de parte da Carélia, no Norte, para a União Soviética.
Neste momento (e neste vídeo), Portugal apresenta-se como o pedinte que puxa dos seus velhos galões (já gastos, sem brilho) para exigir uma ajuda a que se acha com direito, que os outros têm o dever de dar.
É certo que podemos argumentar com a necessidade de uma política comum europeia, de uma acção conjunta face ao funcionamento dos mercados, das agências, de todas as máfias e interesses capitalistas que nos lixaram, etc. etc. etc. Mas o que é que os nossos poderes políticos e financeiros têm andado a fazer e para onde é que nos têm arrastado? E pelas sondagens tudo indica que vamos voltar a pôr os mesmos senhores no poder! Quer se trate do PS ou do PSD!
Mas voltando ao filmezinho...
Parece-me que poderia ser um bom vídeo de divulgação do país... com fins turísticos. Se pretendia sensibilizar os finlandeses a contribuir para o peditório, o resultado pode ser o inverso. Eles têm outra cultura cívica, outra forma de estar na vida e de viver a democracia. Economia paralela, fuga aos impostos, corrupção, são conceitos relativamente estranhos na Finlândia. Eles têm uma real dificuldade em compreender os países (o comportamento dos nativos) do Sul da Europa. Já passei por essa experiência.
Estou a imaginá-los a dizer: "Se são tão bons assim... governem-se!"
Se o fizerem, dou-lhes razão.
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